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Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge

(Dark Knight Rises, The, 2012)
7,9
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1015 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

O fim de uma era.

7,5

Foi no meio de uma onda crescente que começa então a se tornar realidade – os filmes de super heróis – que Nolan lançou Batman Begins (idem, 2005), que ressucitava a franquia, foi sucesso de crítica e público e, de quebra, obteve êxito naquela que era a principal ambição de Nolan: dar um tom mais sombrio e realista àquele universo, tal qual um filme policial contemporâneo, e enterrar de vez aquela abordagem mais leve e adolescente de seus filmes predecessores.

O homem-morcego tornava-se um personagem mais complexo, em um universo onde eram abordadas questões como formação de personalidade, a identidade humana e a criação de máscaras, literais ou não, usadas para lidar com o mundo. Tais questões alcançariam um novo patamar com Batman - O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, 2008), que nos desafiava a refletir sobre modos de percepção do mundo e sobre o peso das escolhas. Em dois filmes, já tinha ido onde poucos tentaram ir dentro do terreno do cinema blockbuster com personagens contraditórios que padeciam de medo e dúvida.

E então vem Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises, 2012).

Em sua longa duração, o filme não apenas dialoga com suas obras predecessoras, mas também fecha a abordagem de Nolan sobre Bruce Wayne e seu alter-ego de vez, expandindo ideias que então eram apenas esboçadas nos outros flmes. Entra em cena Bane, cria de Ra’s Al Ghul, o mentor de Bruce Wayne que acabou por se revelar um terrorista que queria destruir Gotham por não acreditar mais em sua salvação. Diferente do Coringa, o ao mesmo tempo truculento e rebuscado vilão não quer ser um catalisador de uma percepção diferente da vigente; ele precisa ser. Bane, um terrorista apaixonado pela sua causa, quer devolver Gotham ao povo e tirar burgueses, políticos e autoridades da equação. Ao contrário do palhaço do crime, que definia a si mesmo como “um cachorro perseguindo carros”, Bane é justamente toda a cobrança; a vingança dos excluídos. Segundo ele mesmo se define “o mal necessário”.

O Cavaleiro das Trevas é, notoriamente, bem mais grandiloquente e épico que seus predecessores. A misé-en-scene é novamente reconfigurada para que o vilão desta vez seja compreendido diegeticamente; sai a paleta cromática bizarra do Coringa e de Harvey Dent tornado Duas-Caras e entram poucas e concisas cores, apenas determinantes tons marcados por grande uso de luz e sombra. Chega a contrastar com a montagem, sempre frenética e acelerada, e com o trabalho nos efeitos especiais, que privilegiaram mais a tecnologia que o lado “físico” da obra: apesar do sem número de lutas e tiros disparados, quase não se vê sangue no filme – concessões habituais em qualquer filme do gênero.

Junto ao cavaleiro das trevas há seu interesse romântico, Selina Kyle, que faz as vezes de femme fatale ambígua, que nunca pode se confiar por completo; personagem quase integralmente encenada no presente, sem grandes explicações sobre o seu passado como acontece com Batman ou Bane, ela surge, em sua semelhança cromática com o protagonista, mas com sua diferença de postura – ela é sempre leve e atlética, enquanto Christian Bale fez um Batman “bruto” e “pesado” devido à idade e aos desgastes provocados por uma vida de luta contra o crime – e com uma meta de apagar seus dados do registro criminal da polícia de Gotham como uma oportunidade de fuga e mudança para um herói que é, essencialmente, preso ao passado. Contraponto também a Bane, um homem tão fanático pela ordem quanto Batman – mas em uma ordem bem particular de ideias.

O filme ainda possui os vícios habituais dos últimos trabalhos de Nolan – a quantidade considerável de personagens participando de tramas que muitas vezes parecem roubar tempo do conflito principal, um confronto ideológico nem um pouco fácil que envolve queda e ressurreição e também, sobre a reinvenção do indivíduo, que acabam, no final das contas, sendo resolvido com uma dúzia de diálogos expositivos que deixam espaço para a trama ser guiada para um ápice. Fórmula essa que Nolan domina como poucos, mas insistindo de reproduzi-la várias vezes dentro de uma obra, sem nem sempre alcançar resultados satisfatórios em todos os níveis. Às vezes, os diálogos explicam até demais e abundam planos gerais descritivos e música incidental ajudando a desenhar a atmosfera pretendida (é um filme mais de ideias do que de devaneios, afinal).

Mesmo assim, com um cerne principal tão interessante e que demora um bom tempo para se mostrar a que veio – Bane definitivamente não é um vilão que explica suas motivações a cada cinco minutos, apenas em momentos em que sabe que vai ser ouvido e temido – O Cavaleiro das Trevas Ressurge se sustenta independente de suas arestas soltas. É o auge da maturidade de Nolan enquanto cineasta, de se utilizar de uma fórmula já antiga com uma roupagem e uma abordagem pouco vistas no mainstream.

E ainda sem perder a assinatura que tanto o marcou e que conquistou tanta gente, como os veículos high-tech, as explosões, a corrida pra salvar o dia... Nem poderia ser um filme de Nolan sem isso, é claro – é outro passo em direção ao trono inquestionável do “cinemão” atual. É o hype do ano, merecidamente. Marca o fim de uma geração que acabou por crescer juntamente com esse novo Bruce Wayne e que, pela catarse inevitável do cinema, ainda mais quando o maestro sabe conduzir a sinfonia corretamente, partirá do espaço-tempo cinematográfico para a memória coletiva. Para o bem e para o mal, esse é o nosso Batman.

Comentários (27)

Vinícius Oliveira | sexta-feira, 04 de Janeiro de 2013 - 23:37

Ví o filme hoje e devo dizer que me decepcionei, não só pela falta da ação propriamente dita, realmente axo q ela faz falta, ainda mais no final que deveria ser épico, mas achei que Nolan foi pelo caminho mais fácil, fez deste terceiro filme um festival de clichês, onde o mocinho perde o primeiro embate, e depois retorna para o combate final mais maduro e preparado, e o vence. As únicas partes que me comovem no filme são os diálogos entre Bruce e Alfred, são emocionantes de fato!!!

Wellington Marques | domingo, 27 de Outubro de 2013 - 14:36

Batman Begins Return. Reciclagem de Batman Begins, vilões 1D, violência pasteurizada. Cinemão pipoca no mesmo molde de tantos outros filmes de heróis, mas com a estética sombria dos dois Batmans anteriores.

Cristian Oliveira Bruno | sábado, 23 de Novembro de 2013 - 14:00

Lembro-me de ter ido assistir a estréia aqui na minha cidade. Cinema lotado. Durante o filme todo, silêncio quando Bane falava. Tensão quando Wayne saltava e, no final, na última tomada do filme, quando Bruce acena, TODOS ficaram de pé aplaudindo até o projetor parar!! Foi lindo!! O sentimento de ciclo completo ecoava na sala 2. Obrigado Nolan!!! Muito Obrigado!!!! Parabéns pelo texto, Brum.

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