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Beijo Roubado, Um

(My Blueberry Nights, 2007)
6,8
Média
254 votos
?
Sua nota

Críticas

Cineplayers

Muito visual e pouquíssimo recheio.

5,0

Para uma análise de Um Beijo Roubado, é muito importante pensar em termos de forma e conteúdo. Afinal, tanto na arte quanto no marketing, é disso que resulta o produto. E, quando a embalagem é luxuosa e requintada, espera-se que o conteúdo também o seja. O problema é que a falta de habilidade para apresentar um conteúdo à altura da forma pode provocar decepção e sentimento de que houve propaganda enganosa. É isso que acontece com o filme, que se esforça demais para parecer denso sem jamais obter sucesso.

Interessante é que a coisa começa bem, muito bem. A primeira parte, que se passa na lanchonete onde Jeremy e Elizabeth se encontram e, de forma meio insólita, começam uma amizade com toque de confidência – na qual há evidente clima de romance –, é promissora. É bom perceber o equilíbrio entre o dito e o não-dito nesse momento, que traz uma boa construção de personagens e uma força visual impressionante que só contribui para a atmosfera lírica que até ali impera.

Acontece que a personagem, sem motivo aparente, resolve dar uma volta pelos Estados Unidos, e com ela se vai tudo que bom que era montado até ali. De uma hora para outra, o filme se torna raso e beira o caricato. Ela passa a encontrar tipos sem desenvolvimento adequado – seres e situações que soam gratuitos e não se justificam. A produção se perde em clichês narrativos (como a cena do pôquer) e visuais (como a montagem de chegada a Las Vegas). Diante desse evidente empobrecimento, há alguns esforços para construir um conteúdo profundo e tentar deixá-lo ao nível da forma. No entanto, a sensação é que falta força emocional e capacidade analítica ao criador da história, que joga uma filosofia de esquina com roupagem de luxo – e isso pode enganar muita gente. Mas a pobreza das metáforas e a fragilidade da construção do enredo não podem ser mascaradas por requinte visual sob pena de que se aceite a forma impecável com conteúdo defeituoso como alta realização artística.

Quando Elizabeth finalmente retorna dessa jornada infeliz (para a narrativa), as coisas voltam a melhorar, pois há uma forte tensão entre seu personagem e o de Jeremy, e é de fato crível tudo que se passa entre eles (ao contrário do que acontece na viagem dela). E o visual e as cores e os sabores e o beijo são mesmo ótimos. Pena que falte recheio.

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