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Críticas

Cineplayers

Filme de humor nonsense sem humor algum.

3,0

Se esquecermos o preconceito, a escolha de Billi Pig (idem, 2011) como filme de abertura da Mostra de Tiradentes de 2012 permite uma leitura interessante. O longa de José Eduardo Belmonte, que como principal atrativo apresentou performance do ator homenageado desta edição, Selton Mello, é tanto um filme de proposta visivelmente comercial quanto um trabalho que se preocupa não apenas em atender às demandas mais óbvias deste nicho, mas sim atingir um nível de pastelão que, por bem ou por mal, não permita ao público ficar indiferente a ele. É um filme que não teme correr riscos e trabalha seu humor na ponta da navalha de forma bastante convidativa, com o nonsense surgindo como opção de tentar levar a comicidade ao seu limite em tela - o que talvez ajude a compreender sua presença no festival, que por essência valoriza o cinema de risco, algo que pode existir tanto na produção artesanal, representante de praticamente todo o restante da programação, quanto comercial.

Há em Billi Pig uma série de personagens exagerados, insanos, inacreditáveis se descritos no papel - ler o roteiro deve ser uma experiência ainda mais estranha do que acompanhar o filme. A começar pelo personagem título, um porco de brinquedo pertencente a Marinalva (Grazi Massafera) que começa a dialogar com ela, dá conselhos sobre seu relacionamento com Wanderley (Selton Mello), solta um tanto de palavrões, tem postura politicamente incorreta, grita pra caramba e sacaneia o marido da moça, do qual insiste para que ela se livre logo para assim poder dar um rumo mais digno à sua vida desastrada. Os demais personagens, que cercam o casal em torno de uma trama envolvendo pilantragem contra mafiosos e um padre vidente picareta, não são nada além de tipos, caricaturas que rasgam a narrativa muitas vezes de forma inesperada, sem que suas cenas cheguem a lugar algum (até mesmo o porco não está imune de desaparecer ou ser substituído por outro bicho a partir de certo ponto: um pato azul-turquesa - que, embora não fale, brilha numa cor cintilante).

O infortuito é que este universo potencialmente cômico (estas credenciais de forma alguma são necessariamente pejorativas), embora atraente pela peculiaridade dos elementos de cena, é erigido através de uma encenação bizarra, mais próxima dos programas de humor da televisão aberta brasileira do que de uma linguagem cinematográfica funcional para que o filme possa gerar humor através de suas ideias - uma comparação que talvez soe desgastada e repetitiva, mas que é influente para o resultado final de Billi Pig. Com exceção de alguns momentos de Massafera, cuja interpretação é convertida em piada com certa esperteza através do desejo de sua personagem, uma mulher estridente e nitidamente sem talento que sonha um dia ser atriz (uma alusão à carreira de Grazi na profissão), Billi Pig é um festival de constrangimentos, de quase lás empilhando-se minuto a minuto.

Nenhuma piada do filme parece estar com o timing necessário em tela, encerrando muito rápido ou se diluíndo pela montagem esquizofrênica e deixando de existir antes que de fato seja concluída. Há uma série de coisas largadas pelo caminho (além do próprio porco, toda trama de Preta Gil e piadas como a das apostas do padre por telefone, que termina no que parece ser não mais que uma publicidade do Flamengo), ou inseridas em esquetes tão rápidos que não possibilitam sequer compreender sua presença ali. O nível dos diálogos também colabora para tornar tudo ainda mais esquisito: há piadas que não superam em nada os trocadilhos e as brincadeiras feitas por um cliente qualquer do boteco do bairro, aquelas que seu tio aprende na rua e utiliza para pôr um fim aos encontros de família depois de acabar com o estoque de cerveja. E aí temos uma comédia que, em 100 minutos de muitas tentativas de humor, nos proporciona poucos momentos de riso - o que, evidentemente, não poderia ser mais desanimador para um filme como Billi Pig,  que, apesar de sua proposta arriscada e necessária para o cinema comercial brasileiro, não me permite imaginar se é possível ou não ao filme emplacar em sua trajetória pelo circuito.

Visto na 15a Mostra de Cinema de Tiradentes.

Comentários (5)

jorge lucas | sábado, 03 de Março de 2012 - 16:24

Gustavo Santos de Araújo
citar apenas 2 filmes como bons dentro de sei la, uns 15 anos, eh um tremendo de um exagero cara, tivemos umas dezenas de bons filmes sim dos anos 90 pra ca
existem bons diretores por ae sim, com boas ideias, q realmente queiram fazer cinema, mas o q vemos no nosso cinema eh o mesmo q vemos na nossa música, coisas feita para a grande massa, pra entrerter o povo com coisas sem um pingo de conteúdo, ainda mais com a Globo sendo tão poderosa em todos os meios com a Globo Filmes e a Som Livre, artistas de verdade não tem espaço nesse país 😕

Pedro Luis Santos Miranda | sábado, 03 de Março de 2012 - 22:31

Eu acho que produzimos muitos filmes bons no Brasil nos últimos anos. Esse daí parece ser uma exceção. O nosso Cinema cresce e como todo país traz seus altos e baixos nesta subida. Vejam...Não é pq aqui chegam as melhores obras italianas e argentinas, por exemplo, que esses países só fazem bons filmes. Vejamos os EUA: Importamos tudo que eles fazem, de forma que fica claro que eles possuem boas e péssimas produções. Tudo chega ao público. Devemos é agradecer o fato de o público de obras de qualidade estar crescendo e incentivando boas obras, isso sim.

Lucas Castro | domingo, 04 de Março de 2012 - 00:47

O cinema brasileiro não anda tão inspirado mesmo, mas esse comentário do Gustavo é, no mínimo, desprezível.

Paco Picopiedra | domingo, 04 de Março de 2012 - 19:54

O problema do cinema brazuca é que ele faz ótimos filmes de vezes em quando e bombas de vez em sempre, quando devia ser o oposto. Aprender com os erros devia ser obrigatório.

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