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Críticas

Cineplayers

Análise incômoda.

4,0
Como julgar a potência e a centralidade de um filme? Mesmo suas intenções, suas decisões... a partir da decisão sobre o objeto filmado, podemos tirar alguma ideia, mas afirmar categoricamente do que se tratava o interesse e as motivações de cineastas é bem complexo. Principalmente se tratando de um documentário, onde o imponderável muitas vezes alcança a criação, e tanto dela se faz dessas novas configurações. Os diretores Quentin Delaroche e Victoria Álvares se embrenharam nas manifestações de caminhoneiros pelas estradas brasileiras ocorridas há pouco mais de 4 meses (e já estão com o filme pronto!) para tentar captar o tanto de intensidade que estaria ali naquele tabuleiro, e retiraram do material pouco além do que já se imaginava em prévia.

O objeto filmado em questão é aquela imensa massa de homens (e poucas mulheres, ao menos retratadas pelo filme) que reivindicam ter voz e serem ouvidos, acima de tudo. O filme capta suas propostas, sua religiosidade, suas polêmicas opiniões, sua parceria, até seus conflitos. Aos poucos o material parece caminhar apenas rumo a redundância, já que não temos uma gama tão grande assim de opiniões dissonantes ou diferenciadas no grupo. O filme os observa fazer basicamente o mesmo conjunto de coisas durante 75 minutos, num circular de repetições.

Acima de tudo há um problema grande no longa. Apesar de não termos a certeza sobre tal ação como descrito no primeiro parágrafo, fica difícil acreditar que Quentin e Victoria não sabiam exatamente que tipo de discurso encontrariam em um ambiente repleto de faixas e pedidos por 'intervenção militar já!'. Logo, parece haver algum tipo de manipulação no projeto, ou de ideias ou na montagem. Pois, ao se propor o projeto e imaginar a abordagem, não faz muito sentido filmar seus objetos com uma forte carga irônica, julgando-os através da reprodução de suas falas com forte teor de analfabetismo político. Tratados como para divertir uma plateia, o filme incorre de uma tremenda desonestidade intelectual, privando seus personagens de se defender e elaborar suas respostas tendo o conhecimento de suas intenções.

Ao invés disso, lida com eles como a um grupo de cobaias sendo observadas num laboratório. Na hora de propor o óbvio confronto que deveria ocorrer nesse tipo de caso, abordando um outro lado de suas visões, o filme não se expõem, mas coloca na alça de mira uma jovem professora grávida, que tenta argumentar com os caminhoneiros e acaba por perder o espaço. Um filme que parece 'jogar pro público' ao filmar um grupo reconhecidamente frágil, e formatar um produto que só seria visto mesmo por um público de classe média que os faria de chacota; ou seja, é uma sucessão de posicionamentos falhos e fáceis por todos os lados, principalmente uma certa fatia da classe cinematográfica ao fazer filmes de alvo certo, prontos para serem amplamente debatidos sem observar os meandros por trás de seu pensamento prévio.

Filme visto no Festival de Cinema de Brasília

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