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Críticas

Cineplayers

Funciona enquanto o 3D impressiona. Depois disso, torna-se mais do mesmo, jogando fora uma boa premissa.

6,0

Bolt – Supercão é um longa de animação que ficará marcado por toda a minha vida. Não por suas qualidades ou o retorno fenomenal da Disney às animações (até porque isso não aconteceu), mas sim por ter sido o primeiro filme em 3D que vi no cinema. A experiência foi inesquecível, marcante, nova, mas depois que meus olhos acostumaram ao modo de contar história, a mesmice e a falta de profundidade nos temas voltaram à tona e fizeram-me lembrar que o que estava sendo mostrado na tela nada mais era do que uma nova moldura à antiga fórmula da Disney de fazer cinema.

O filme começa com uma sequência em que mostra a jovem Penny, dublada por Miley Cyrus (sim, a Hannah Montana) escolhendo o fofo Bolt em meio à vários outros cachorrinhos na loja, para logo depois sermos jogados em uma aventura onde ele e ela fogem do “homem do olho verde” e seus capangas, culminando em uma baita explosão e atitudes heroicas por parte de Bolt. O que o canino não sabe é que tudo não passa de um programa de TV, onde ele é o astro principal e que Penny não corre risco real de vida. Todas as suas atitudes são baseadas nesse seu estilo de vida, mantido pela própria equipe do programa: eles querem que Bolt acredite em tudo o que está passando para manter sua naturalidade no momento em que as câmeras são ligadas; até no trailer do estúdio, quando ele deveria descansar, Bolt fica atento para que Penny não seja atacada.

Quando a emissora pressiona o responsável pelo show para que não perca mais audiência, este resolve adotar uma faixa etária maior no programa, colocando Penny realmente em perigo (na série, não na vida real). Só que Bolt não sabe disso e, acreditando que sua humana foi sequestrada, ele foge para tentar salvá-la logo na primeira noite em que deixou de vê-la depois das gravações. Todo um drama superficial é construído a partir do sumiço de Bolt, que vai parar em Manhattan, e se estende à vida do cachorro, que agora vai conhecer o mundo como ele realmente é.

Durante sua viagem de auto-conhecimento, Bolt conhecerá Mittens, uma gata vista como vilã a primeira vista, mas que será peça fundamental para a trama, e Rhino, um ratinho gordinho que vive numa bola de plástico e tem Bolt como ídolo. Juntos, os três passarão por poucas e boas. Bolt achando que tem poderes na vida real, Mittens sendo vista como cúmplice do olho verde e Rhino dando força à toda essa mitologia criada em cima de astros de TV. Até mesmo um ponto fraco engraçado é criado na história, que esquece de explorar mais a fundo outras possibilidades. Os personagens são extremamente carismáticos. Mas, nessa vida de cinema, carisma apenas não é sinônimo de sucesso.

Um dos maiores problemas do longa é não se aprofundar em tudo o que propõe: deixando claro logo no começo do filme que Bolt não foi feito apenas para crianças, não há ação suficiente para manter o interesse das “pessoas entre 18 e 35 anos”, não há drama para nos fazer preocupar com os personagens, os diálogos são tão superficiais que até as crianças menores de 18 devem achar boçais, falta comédia para nos aproximarmos daqueles que estamos vendo em tela e a conclusão decepciona pela previsibilidade e falta de criatividade em criar uma situação que deveria empolgar. Ou seja, falha no drama de discurso batido, na comédia periódica, na ação quase inexistente, mas não chega a ser um desastre total porque, do pouco que apresenta de cada um, também não é de se jogar fora. Tudo remete a um filme muito infantil, menos o discurso adotado logo no começo.

A ideia da premissa é excelente, mas novamente uma má execução jogou fora todas as pretensões da Disney de emplacar um novo sucesso, mesmo com a produção de John Lasseter (o diretor de Toy Story e um dos responsáveis pelas animações da Disney em 3D depois da compra da Pixar). Quanto à técnica, Bolt pode ser visto com deslumbramento em 3D - o filme é todo muito bonito. A impressão de estar assistindo a algo realmente novo foi breve, mas deixa a dica do que esse novo estilo de fazer cinema, quando bem utilizado, pode ser capaz.

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