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Borat 2: Fita de Cinema Seguinte

(Borat Subsequent Moviefilm: Delivery of Prodigious Bribe to American Regime for Make Benefit Once Glorious Nation of Kazakhstan, 2020)
7,2
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Críticas

Cineplayers

Será que Borat segue relevante 14 anos depois?

8,0

Borat 2 surgiu praticamente do nada. Filmado em segredo por Sacha Baron Cohen, não seria incorreto dizer que não havia demanda para uma sequência. CATORZE anos depois. Mas ele veio, e veio em uma época particularmente sensível: a eleição para presidente dos Estados Unidos. Desta vez, para o mercado de streaming, na falta de salas de cinema físicas, devido à Covid-19. Borat 2 é um produto que tenta atingir um alvo principal: Trump e sua política restritiva de extrema direita. A questão é: será que Sacha consegue ir além da mensagem e funcionar como obra de entretenimento?

Cedendo facilmente e rapidamente ao politicamente incorreto – característica fundamental e inerente ao personagem – Borat cria uma sequência de piadas e esquetes que unem uma história maior frágil, sempre por um fio. Na realidade, a história maior, que é algo como “presentear um político do alto escalão da ‘América’ com um macaco e, depois, quando este morre, com a sua própria filha adolescente, para redimir a imagem de sua nação perante os Estados Unidos”, importa muito pouco, é sempre um pano de fundo e uma justificação das esquetes, que funcionam quase independentemente entre si.

E, de fato, Sacha não poupa seus alvos e usa seu personagem para vários propósitos sombrios, como o machismo, antissemitismo, negacionismo, xenofobia, um prato cheio que forma a teia moral desse personagem que, não por coincidência, tem alguns dos valores do seu próprio alvo principal. É uma obra de cunho político e, por definição, dividiria o público (há, porém, os que sequer suportariam a ideia de assistir ao filme, quanto mais aprová-lo). Os textos são afiados, as piadas bem ritmadas e aquele tom documental e amador que havia no filme original permanece, mas é claro que agora todos já conhecem o personagem e há menos espontaneidade nas cenas.

Também digna de ser citada é Maria Bakalova, atriz que faz a filha adolescente de Borat, escolhida entre 600 outras atrizes para o papel, e acaba sujeitando-se a todos os tipos de humilhação. De certa forma, ela rouba o filme pra ela. Sua personagem começa pequena e, conforme vai descobrindo as possibilidades que o mundo livre proporciona (a busca pelo “sonho americano” é tema implícito da obra também), ganha voz própria e consegue sobrepujar o pai. Até chegarmos na polêmica cena com o ex-prefeito de Nova York, antigo “herói” da cidade durante os ataques terroristas do 11 de setembro, e, à época do lançamento do filme, advogado de Trump, Rudolph Giuliani. A tentativa de exposição quase deu certo, chegando a resultados que misturam constrangimento (para ambos os lados) com “tanto faz”. Felizmente, Botat é maior do que essas armações, embora essa cena certamente ajudou o filme a ganhar ainda mais holofotes na imprensa.

Fita de Cinema Seguinte é, possivelmente, um dos melhores “filme que ninguém pediu ou esperava assistir” dos últimos anos. Sacha Cohen já havia tentado criar novos personagens marcantes com Bruno e O Ditador, mas nenhum foi mais original ou bem escrito do que Borat, e esta sequência cimenta tranquilamente essa afirmação. E, por tabela, quem sabe, ainda conseguiu ajudar a fazer o mundo – o nosso planeta Terra – um lugar um pouquinho mais igualitário nesses tempos difíceis. A Arte continua provando que pode fazer mais diferença na busca por justiça do que bombas, canhões e armas. E, ainda por cima, consegue entreter. O pacote completo.

Que a esperança perdure!

Comentários (1)

Alan Nina | segunda-feira, 14 de Dezembro de 2020 - 11:21

Esse último parágrafo é de emocionar. Muito bom!

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