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Críticas

Cineplayers

Uma comédia romântica brasileira que mostra o lado bonito do Rio de Janeiro - pra variar.

6,0

Na nova fase do cinema brasileiro, que começou na primeira metade da década de 90, um dos gêneros que definitivamente fazem parte da filmografia do país é a comédia romântica. É um gênero que sempre tem a simpatia do público, há bons atores de comédia vindos da televisão e, no caso do cinema daqui, os custos de produção para um filme desse tipo não são exagerados. Bossa Nova foi lançado nos cinemas em 2000, conquistando um bom público e bastante simpatia do mesmo, por ser um filme leve, divertido e que retrata muito bem nosso país. Afinal, antes ver uma comédia romântica brasileira, por mais ordinária que seja, do que assistir a uma das dezenas de comédias românticas que vêm dos Estados Unidos todos os anos.

Bossa Nova é – dizem – um presente do diretor Bruno Barreto à sua esposa americana Amy Arving. Bruno Barreto dirige o filme com muita competência, após ter realizado o ótimo (e concorrente a Oscar de melhor filme estrangeiro) O Que é Isso, Companheiro?. O Rio de Janeiro é o cenário. Lógico, um filme com tal nome só poderia se passar no Rio. Não o Rio de Janeiro que vemos nos jornais todos os dias, não o Rio dos traficantes, má administração pública e das favelas. O Rio retratado em Bossa nova é o Rio da classe-média alta, dos belos apartamentos e praias (ainda estou pra ver um filme que consiga retratar os DOIS Rios ao mesmo tempo).

O nosso protagonista é Antônio Fagundes, ou Pedro Paulo, nome de seu personagem. Um cara bem de grana, mas que está saindo de um relacionamento com Tânia (Débora Bloch). Ele estava sem grandes pretensões amorosas até encontrar, por acaso, Mary Ann, uma americana que dá aulas em um curso de inglês (no colégio FISK, em uma propaganda descarada que só o cinema brasileiro consegue fazer) para adultos. Pedro resolve se inscrever no curso para se aproximar de Mary Ann. Enquanto isso, outras histórias paralelas, sempre de teor amoroso, envolvendo diversos outros casais, acontecem à volta de Pedro.

Todas essas histórias paralelas, que dividem muito bem o espaço principal com a história de Pedro e Mary Ann, são bacanas e divertidas. Uma delas, especificamente, envolvendo Sharon (Giovanna Antonelli, de Avassaladoras), a secretária de Pedro, com um jogador de futebol (Alexandre Borges, de O Invasor) que está se transferindo do Flamengo para a Europa sob o protesto da torcida, que o chama de “mercenário” (e de fato ele é), é muito divertida e engraçada, mesmo sendo altamente estereotipada. Contrariando a lógica, nem todas as histórias de romance acabarão bem, o que é sempre uma surpresa em comédias românticas, onde o público quer ver todo mundo feliz no final.

O gênero não permite aos atores demonstrarem todo o seu potencial dramático (lógico), porém as figurinhas carimbadas da televisão continuam divertindo no cinema, principalmente Rogério Cardoso e Débora Bloch, que estão especialmente bem em seus papéis, além, é claro, de Antônio Fagundes, que dispensa elogios. Um detalhe interessante é que, como Mary Ann (e a própria atriz Amy Irving) é americana, ela passa o tempo todo falando com um sotaque típico de gringo, que dá um charme todo especial à sua personagem. O filme também tem muitas cenas faladas em inglês, já que um dos assuntos relacionados a ele é o ensino do idioma. Portanto, mesmo sendo um filme nacional, prepare-se para ler um bocado de legendas (já vi muita gente reclamando desse fator, mas não acho que seja ruim).

A fotografia do filme está muito boa, embora seja difícil não pensarmos nas inúmeras telenovelas urbanas que se passam no Rio de Janeiro enquanto assistimos ao filme. O clima é o mesmo, apenas o requinte das imagens (afinal, isso é cinema, e as lentes são diferentes das lentes usadas nas telenovelas) é muito melhor acabado. O filme tenta, e até consegue, mostrar muito bem o lado positivo do Rio de Janeiro.

Infelizmente, há alguma linguagem bem forte presente no filme, que achei desnecessária (e em alguns momentos constrangedora), mas não deixa de copiar a realidade. Também, embora o filme mereça muitos elogios, Bossa Nova ainda é uma comédia romântica altamente previsível e clichê (fora aquele personagem que acaba se dando mal no final), com um humor que poderia não ser tão grosseiro às vezes. O filme também é mais romântico do que cômico, mas ainda assim pode ser encaixado perfeitamente no gênero comédia romântica.

Bossa Nova é um bom passatempo, tão bom quanto a média das comédias românticas importadas dos States. Se forem produzidos mais filmes assim (e desde 2000, isso já aconteceu e ainda vai acontecer, de fato), o cinema nacional sempre estará bem nesse gênero. Mesmo assim, seria legal ver filmes do gênero saindo um pouco do eixo Sudeste-Nordeste. Como o cinema brasileiro está em franca expansão, com certeza veremos isso acontecer no futuro...

Comentários (1)

LUIZ CLAUDIO DE SENA | domingo, 31 de Maio de 2015 - 14:33

Sou apaixonado por Bossa Nova e pelo Rio de Janeiro, apesar de nunca ter estado lá. Tal qual fogo que arde sem se ver e etc. Dessa forma o filme fica inexoravelmente encapsulado ali, me fazendo ignorar tudo que é imperfeito, questionável ou simplesmente óbvio.

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