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Boyhood: Da Infância à Juventude

(Boyhood, 2014)
8,2
Média
622 votos
?
Sua nota

Críticas

Cineplayers

A Besteirolândia Classemedista do Choramingo

1,0

Pela terceira vez contemplo o cinema do Richard Linklater. A trilogia romântica dele desconheço (e assim permanecerei), assisti e me diverti razoavelmente com Escola de Rock (School of Rock, 2003) e achei Homem Duplo (A Scanner Darkly, 2006) intrigante pelo formato e um porre como narrativa. Algo que agora  (isto escrito em janeiro de 2015) faz estes materiais anteriores parecerem grandes obras primas diante deste Bostahood, opa, Boyhood. Ainda mais diante dos experimentalismos masturbatórios caladinhos para com as temporalidades propostas pelo diretor. O filme visa descortinar toda uma gama de situações vividas por uma família de classe média americana. Suas desilusões, seus acertos e erros, seus choramingos... Isto tudo partindo do viés e visão dum garoto que percorre sua vivência em narrativa pelos já tão falados 12 anos de processo filmado. Algo que Linklater (peidando mais podre do que nunca aqui) ambicionava transportar uma convivência familiar através duma passagem pelos anos, considerados tão dificultosos por alguns. Da infância à juventude, como é dito no título. Os mais problemáticos (será?), onde o aprendizado de tudo a sua volta vai se transformando e moldando sua personalidade de forma atroz ou não.

O resultado de todo este processo ambicioso? Uma puta besteirada. E de quase 3 horas. Um embuste sem tamanho. Linklater usa dos mais variados artifícios vagos para amenizar tudo o que propõe, desde a trilha sonora espertinha (boa em determinadas partes até), aos dramas forçados e chorosos da mamãe, por exemplo. Marréclaro que alguns dirão que "a vida é um clichê", e que isto seria a vida na tela. Nada mais nada menos que uma desculpa esfarrapada como um simulacro de isenção para defender um roteiro extremamente rasteiro que resvala no óbvio sempre. E usa isso como desculpa de que a vida é cheia de banalidades, simplesmente porque não consegue fomentar uma coerência narrativa mínima. Mas, tem um lance... E se a ideia a vera era pra ser ruim pra cacete? Chato... Modorrento... Aí tem discussão. Neste troço, diante da família que vemos na tela, há a concordância de nostromos aqui que a vida é cheia de frivolidades, e muitas, mas muitas frescuras mesmo. Um cinema lotado de frescuragens.

E o velho Ted anos atrás o que disse (inventei esta em 2015)? Não estou nem entrando tanto na seara de que minha experiência no mesmo período fora diferente. Faz parte isso na minha crítica? Sim. É difícil um distanciamento quando se faz uma crítica sobre um filme. Qualquer um que aborde majoritariamente o crescimento de um jovem, período que ainda me é próximo (em 2021 nem tanto), independentemente da frescura vai causar algum efeito... Mentira. Frescura demais. Como a maioria que comentara sobre o filme neste e em outros sites (avaliação de 2014/2015), o filme nos faz compor algumas comparações sim, porém isso só me ajudou a vê-lo como uma bobagem superficial que aborda probleminhas da classe média americana chorosa e necessitada de atenção. A forçada de barra pra juntar tudo isso e angariar seu público chegar a ser descarada e risível. Um mantra de choro de “vamos nos abraçar coletivamente, que o mundo tem que ser lindo”. 

Classe média americana. Esta mostrada da forma mais genérica, imbecil e superficial possível. Porra se fosse uma crítica da parte de Linklater acerca das obviedades frívolas (conjuntura redundante proposital minha), nas quais a classe média dá tão idiota importância às mais variadas coisas inúteis, tudo poderia ser mais interessante ao menos. No mínimo. Não escapa nem a repetição medíocre da comemoração do fim do ensino médio e a entrada do garoto nno ensino superior, isto sem que esqueçamos o choro da mamãe por conta disso. Os filhinhos indo pra faculdade. Porra não tinha uma coisinha mais original não? A conversa mole da vida como ela é? De novo? Com a câmera filmando a mãe em drama e tal. É isso? Só isso?

Aqui vejo uma ode a futilidade às ditas dificuldades absurdas pelas quais a classe média, no auge da pseudo-credibilidade auto-importante, perpassa e transporta. Haja paciência pra este troço (paciência mesmo já que são quase 3 horas desse besteirol choroso). Se a ideia de Linklater foi deixar o espectador entediado com uma vida melancólica e banal e sem emoção alguma, na qual o expectador mesmo fica tão entediado com o que vê, aí ele teria conseguido alguns fãs. Pois minha constatação foi exatamente essa.

Neste momento o filme me pegou. Sendo ruim e chato que nem a vida e com a falta de necessidade de existir, mas vendendo ares de filme geracional... Uma estória de merda a ser contada. Os medíocres merecem espaço. Né não? No fim somos bostas chorões apenas? Rumbora chorar junto? AÍ DENTRO.

Linklater expõe todos estes problemas de forma dialética, como se tudo fosse trivial pelas repetições nas vidas de muitos, mas mantém o tom de auto-importância (novamente) de como tudo aquilo interfere no caráter do personagem principal songa monga. Olha aí um dos segredos espertos desse embuste. Sempre o esquema de choro propositado e justificado pela “herança da vida”, como se a suposta originalidade proposta fosse algo mais que ordinária. Não é. É choro. Drama apropriado pela falta de tesão. O choro é sempre vazio.

Personagens. Ethan Hawke como o pai (ausente, mas descolado, pra variar na criatividade, mas ok nisso) tem boa atuação, ainda mais mediante o processo utilizado por seu diretor, e compõe bem seu personagem. O melhor do longa - isto ocorre porque a personagem de sua filha é anulada com o passar dos anos, era ela que causava algum interesse até então. Até o discurso machista do pai ao fim achei autêntico (um tanto repetitivo, pra variar, mas não tão canhestro como quase todo o resto, combina com o personagem), isto sem entrar no contexto do que é correto ou não (aqui eu estava numa época cheia de dedos pra afirmar que o discurso machista do cara combinava com o personagem e era bom exatamente por isso), honesto ao menos o fora. Mesmo assim, nada de grandes absurdos qualitativos novamente. O tratamento unilateral dado às mulheres no filme. A irmã que de melhor personagem no início do filme vira uma muda tapada assim como seu irmão, como se todo adolescente por obrigação metodológica fosse problemático, idiota e melancólico. A mãe. Patricia Arquete está bem no papel. Forte e densa, em uma das melhores atuações de sua carreira. O problema é o machismo torpe em que a personagem é construída (uma marmota). O lugar-comum absurdo e burro da mulher que não vive sem macho, isso nem por pouco tempo. E ainda tem outro clichê em cima, o do marido e padrasto bêbado (aliás, isso é reprisado, são 2 os bebuns). Porra o filme abusa desses, e de tantos outros. Alopra nos mais variados chavões pra justificar as banalidades da vida. Mulheres apanham, homens bebem, merdas acontecem. Isso é só preguiça. Uma puta enganação.

Agora Ellar Coltrane recebera o papel mais difícil. Toda a trajetória em cima dele. Essa figura faz o que pode, mas é quase tão apagado quanto seu personagem imbecil. Um adolescente chorão e melancólico. Porra, até a fase emo o cara teve. Linklater se aproveita destes rótulos pra aplacar o coração de sua plateia, angariando fãs que fizeram parte dessa fase, de forma genérica. Idiotice pura. Outro bordão. Isto sem falar no avô ensinando o garoto a atirar, o anseio do jovem de ter um carro também é citado. Sim e alguma coisa nova? Uma novidade que seja além de querer usar as muletas do método e a já citada obviedade da vida somente? Ah, mas nos estadozunido a galera atira. Beleza. E a preguiça? Cadê inventar outra coisa? Por isso eu não entendo o sucesso (momentâneo, já que hoje estão cagando pra este material e só posto meu texto aqui por curiosidade mórbida) deste troço em 2014. Engabelou através duma passagem de tempo chorosa em que o nada se torna chamativo por assim ele ser.

O filme foca espertamente na sensibilidade de muitos que diante de tantas características comuns, fazem com que várias figuras se identifiquem. Que filmão popular. Esta gama de truques narrativos, a meu ver, simboliza a mediocridade da obra. Uma preocupação em angariar fãs de choro. Ou então uma forma de justificar a falta de originalidade apelando para o senso comum dos acontecimentos da existência. Bora filmar o senso comum e dizer que é a vida, né não? Que aí a gente resolve roteiro. Esta questão abordada em demasia e da forma que fora traz o público para o seu colo doce e choroso onde aninham-se muitos sensibilizados com a vida de um adolescente sem graça numa conjuntura óbvia servida à mesa como um jantar do sentir mediante o amor familiar. Falcatrua mole. Filosofia barata pra justificar falta de criação.

A única novidade louvável (louvável pela tentativa em si e por parte do todo) de Linklater é o processo e não o resultado. De fato o material é organizado e os anos passam de forma orgânica sem tanto se sentir no espectador, correto somente, nada de grandes arroubos narrativos como tanto se comenta. Uma montagem de tudo que deve ser comentado somente pelo ineditismo destes 12 anos a que os fãs e críticos morrem se referindo. Mas nada que um diretor com um pouco mais de criatividade pudesse ousar mais e deixar tudo um pouco menos óbvio e idiota. Principalmente porque os 12 anos pareceram quase 40 pela lerdeza da condução narrativa do tema. O cara que fazia as passagens de tempo (um abraço aos editores e ao montador), até tenta resolver, mas não tem condição. É só choro, drama, mulher apanhando de marido clichê (2-3 vezes), galerada emo, avô armado... E é isso. Um simulacro de isenção gigante pela mediocridade pra se justificar a vida e o cinema. Eu não caio nessa fulairagem. O problema foi que aqui tudo se perdera nesse processo numa infinidade de alcunhas idiotas em uma trama superficial e de personagens extremamente repetitivos.

A sensação real que fica é de um projeto ambicioso que talvez mereça ser visto – pela paciência dum atlas a segurar um planeta nas costas – por pura curiosidade mórbida pela concatenação do processo apenas, mesmo que absoluta e inexoravelmente falho. As bostas estão aí para serem vistas. As altas expectativas dum Bostahood desse que faria algo de diferente, pararam no seu processo. A intenção da minha ferrenha crítica a este troço não é uma busca por algo original e absurdamente novo, mas simplesmente algo que não vislumbrasse a mediocridade como fuga de linguagem e narrativa. Esse papo furado de que a vida é um chavão mais parece preguiça e pilantragem do que qualquer outra coisa, uma enganação que vislumbra que somos todos apalermados com as insignificâncias da vida. Chato pra caralho. Para aqueles que acham que a equipe merece respaldo pela ideia do processo, que dê uma medalha a eles. De nada adianta se o resultado final é fuleiro. Uma colcha de retalhos costurada pelas mais variadas idiotices. Propagandeada como filme simbólico duma geração e a servir como uma ode (que ninguém lembra) ao sentir mediante a arte. Pura balela. Um filme medíocre no todo. Melancólico, chato, óbvio demais, entupido de voltas num amontoado de estereótipos. A banalidade na vida como personificação humana foi transposta simplesmente como a repetição do impalpável, óbvio e superficial que somente um cinema tão farsesco pode apresentar. O choro da classe média tá bem medíocre aqui.

Aquele material escrito em 29/01/2015. E agora reorganizado com não-humildade.

Cheio de arrependimetos e desculpas minhas. Duma figura de imagem em movimento que conhecia menos de cinema do que o pouco que conhece agora. O velho Ted. Minha desculpa é para as criaturas que lerão este material, e logo em seguida da desculpa, aponto o porque deste não-nunca-singelo pedido. Para afirmar que corrigi o texto. Esculhambei ainda mais este filme fuleiro, tinha esculachado poucamente eu creio. Questão de esculhambo esclarecida, vamos adiante. Agora sim, faço material ao tesão de cinema que conclamo. E que não respeito a fuleiragem deste filme choroso. Isto é crítica? Tá só esculhambando? Decidam. Pra mim é crítiica. É esculhambo. Morram de chorar. Um abraço.

Comentários (25)

Ronaldo Zanchetta | segunda-feira, 31 de Maio de 2021 - 00:56

Durante mais de uma década sempre que quis ler algum texto interessante sobre algum filme eu entrava aqui. Era no Cineplayers que buscava textos ricos e construtivos sobre cinema. Gostando do que foi dito pelo crítico ou não, concordando com a nota final ou não, tudo bem coeso, respeitoso e, sim, muitas vezes, provocativo.
Me deparo com esse texto hoje e penso que coisa deprimente o Cineplayers se transformou, uma pena. Esse texto é a pá de cal do site.

Rodrigo Cunha | segunda-feira, 31 de Maio de 2021 - 14:15

Nós temos muitos textos ao longo do mês, Ronaldo. Por um você acha justo julgar o site inteiro? Vocês tão muito 8 ou 80. Toda hora tem crítica nova aí. É um direito seu achar isso, claro, só não vejo muito sentido.

Jackie | sábado, 09 de Outubro de 2021 - 19:25

Todo ano tem um "Avatar": filme em que o conceito e a história por trás é mais interessante que o próprio filme.
Como não espero nada desses tipos de filmes então obviamente irei gostar, mais jamais irei considera-los uma obra-prima e/ou clássico moderno.
Me interessei pelo filme irei assistir (mais com expectativa baixa)

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