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Críticas

Cineplayers

Adequação gótica do conto dos Grimm.

6,5

Conto imortalizado dos irmãos Grimm pela Disney, ao ser transformado em fábula infantil já rendeu outros filmes inspirados nele; só este ano dois foram lançados, Espelho, Espelho Meu (Mirror, Mirror, 2012) e esse Branca de Neve e o Caçador (Snow White and the Huntsman, 2012). Ambos tomaram direcionamentos distintos, com o último apoiado num universo gótico entre cenas dignas de bons épicos. É o mais próximo da obra original, por assim dizer, sendo que a violência e o visual alimentam um viés contraditório da beleza da história popularmente conhecida, levando a proporções amplas e satisfatórias do ponto de vista plástico e de produção. O “era um vez...” persiste, no entanto, o que vem depois é surpreendente.

A história é a mesma, com algumas adaptações e adequações. Branca de Neve, ainda criança, órfã de mãe, vê o pai se casar com Ravenna (Charlize Theron, impecável), mulher que lhe tira a vida na noite de núpcias, tornando-se Rainha absoluta. A verdadeira herdeira do trono termina subjugada numa masmorra. Adepta de feitiçarias e obcecada pela beleza, a bruxa monarca suga a jovialidade de jovens da região. Porém, ao questionar o espelho sobre quem é a mais bela, descobre que seu desafeto, a crescida Branca de Neve (Kristen Stewart, pecável), pode superá-la. Dirigido por Rupert Sanders, essa versão vem colidir com a expectativa do público graças à novidade fundada.

A esperança reside na verdadeira princesa, Branca de Neve, que passou a vida presa numa jaula do castelo. Sua fuga dá energia ao filme, levando o espectador a diferentes locais e a reconhecer famosos personagens: o caçador (Chris Hemsworth), responsável por trazer Branca de Neve até o castelo; os sete anões, que aqui são 8; e o príncipe arqueiro (Sam Claflin) de um outro pequeno reino, amigo de infância, sobrevivente às ameaças da megera. Além desses personagens, outros surgem nesse universo de fantasia, alguns emergentes de uma floresta negra e fadas aparecendo num santuário bucólico e utópico com contemplações divinizadas.

Dentro da narrativa, há um notável problema espacial a respeito das regiões de peregrinação dos heróis: o clima muda ferozmente e não temos acesso exatamente à lógica do tempo em que estiveram atravessando as terras. O sol pouco brilha nessa história obscurecida, banhada pelas sombras de um mundo oprimido e morto. Nem flores nascem, o solo turvo sem vida cultiva pobreza com pequenas civilizações mendigando. Todos são hostis à rainha Ravenna, que fez daquele universo dolente, lembrando constantemente com saudade tempos de outrora.

A trilha sonora é outro trunfo que dá um tom interessante ao longa. Uma canção, Gone, de Ioanna Gika, ecoada num determinado instante, abrilhanta a expedição naquelas trevas através de uma só voz cantarolando uma bonita composição. O visual arrebatador enriquece a obra esteticamente; créditos ao diretor de arte David Warren, que trabalhou em A Invenção de Hugo Cabret (Hugo, 2011), explorando com minuciosidade a contextura gótica tão aprazível aos olhos, juntamente a fotografia de Greig Fraser (Brilho de uma Paixão [Bright Star, 2009]) e o figurino de Collen Atwood que dá, especialmente, maior credibilidade e noção de perigo à persona Ravenna.

Essa adaptação tem bom ritmo, mas o roteiro não tem lá muita profundidade, explorando pouco seus personagens. Entendemos as motivações de cada um, frases feitas contribuem e as relações amorosas, embora ínfimas, são cabíveis. Dentro disso, auto descobrimentos e redenção germinam apenas como tributo ao conto original. E Kristen Stewart, estrela de Crepúsculo (Twilight, 2008), bem que tenta dar alguma dignidade à protagonista, no entanto, entrega-se aos seus vícios comuns (lábios semi abertos, olhar cerrado), perdendo em dramaticidade até para Thor, ou melhor, Chris Hemsworth. Enquanto isso, Charlize Theron extasia. Visualmente belíssimo, “Branca de Neve e o Caçador” é uma atraente versão, ainda que pobre, da fascinante obra dos irmãos Grimm.

Comentários (8)

Lucas Victor | segunda-feira, 04 de Junho de 2012 - 23:24

Adorei o modo como a crítica focou bastante na parte técnica. Eu faço Produção Multimídia e trabalho muito com filmagem, edição, etc.. e pouquíssima gente sabe o quão é trabalhoso. A maioria foca D+ nas atuações e roteiro e esquecem um pouco da trilha sonora, da fotografia, da direção de arte, que são tão importantes quanto todo o resto. Gostei muito! 😁

Rodrigo Torres | quarta-feira, 20 de Junho de 2012 - 06:26

Kristen irrita mesmo. Ela usa a mesma expressão para todos os sentimentos que pretende expôr, como uma senhora cheia de botox.

Cristian Oliveira Bruno | sábado, 23 de Novembro de 2013 - 14:18

Me expliquem uma coisa, por favor, pois sou meio leigo nesses \"contos de fraldas\": a rainha queria matar a Branca-De-Neve por ela ser a mais bela do reino, certo? Mas a rainha é a Charlize Theron e a Brnca-De-Neve é a guria do Crepúsculo???? Quem selecionou o elenco???? Ahhh no meu tempo......

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