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Críticas

Cineplayers

Ordem moderna.

9,0

Marcelo Pedroso é o diretor perfeito para ser exibido em um festival de cinema. Ano passado, quando estreou no Janela, Em Trânsito moveu o público como nenhum outro curta ou longa-metragem com quem dividiu as telas naquela edição. Tudo o que foi preciso foi uma cena perfeitamente posicionada, perfeitamente conduzida, exibida no lugar certo, na hora certa, para as pessoas certas. Ao abrir as mostras competitivas do mesmo festival este ano, já vindo com bastantes prêmios de Brasília, Brasil S/A o mantém com esse status. O filme não foi unânime, pelo contrário, despertou reações muito fortes e bastante opostas no público de ontem. O aplauso imponente e os muchochos expostos percebidos na saída do Cinema São Luiz são evidências de um momento riquíssimo no cinema brasileiro. Talvez o mais rico, se tivermos a recepção apaixonada como ouro.

O atual momento do nosso cinema é particularmente engajado politicamente. Mesmo os que não se debruçam sobre nosso tempo, como Tatuagem, dialogam perfeitamente com o agora. Outros são reações mais evidentes, como O Som ao Redor, A Cidade É Uma Só, Riocorrente e Em Trânsito.

Brasil S/A é diferente de todos esses. Os outros filmes respondem a questões mais localizadas que tangem angústias históricas e universais quanto à modernidade. Brasil S/A é a angústia em si. Ele não foca em um ponto do tempo e do espaço estritamente específico. É sobre o Brasil moderno, certamente, mas apenas tanto quanto Meu Tio é sobre a França moderna e Tempos Modernos sobre os EUA.

Não escolho como comparação duas comédias por acaso. O humor em Brasil S/A é essencial ao filme, apesar da seriedade de sua crítica (como também é muito sério o humor de Charles Chaplin), e é construído de forma realmente parecida com Jacques Tati: a partir do universo de ordem estranha e imbecil, representado esteticamente de maneira quase tão impecável quanto pretende ser, e tem essa sua ordem aparente revertida em ridículo pelo olhar do filme. Por momentos, Brasil S/A é particularmente genial. Por outros, não vejo funcionar tão bem. É uma escolha do filme (e acredito que em muito o favorece) se construir em esquetes, resultando em uma estrutura semelhante a um filme do Monty Phyton, por exemplo, com uma narrativa maior cercadas por momentos de aliança temática. E essa grande história, a do cortador de cana que se tornou astronauta, de humor mais sutil, é um espetáculo visual. Pedroso é um diretor de talento para virtuosismos. O que ele faz nesse segmento repartido é acrescentar coração a sua própria mise-en-scène, como fez ao se aproximar de Elias em Em Trânsito. Esta é quem tem a força responsável por dois grandes momentos de festivais. Esperemos pelos próximos.

Visto no Janela de Cinema do Recife 2014

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