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Críticas

Cineplayers

Polêmica na dose errada.

5,0

Brüno é o último dos personagens do programa de TV de Sacha Baron Cohen a chegar aos cinemas. Depois de Ali G Indahouse, o humor ácido e agressivo de Sacha alcançou o ápice em Borat, tornando-o mundialmente conhecido graças à extrema inconveniência ingênua de seu personagem, encontrando um perfeito balanceamento entre as situações reais criadas pelo ator / roteirista com as planejadas, entregando uma história redonda, crítica e muito, muito engraçada. Com Brüno, Sacha repete a parceria de sucesso com o diretor Larry Charles, que demonstra certa imaturidade como realizador ao tentar também repetir a fórmula de sucesso anterior, mas sem a mesma precisão.

A história é sobre um estilista austríaco gay (Brüno, vivido por Sacha) que perde o emprego após arrumar uma confusão em um desfile em Milão. Decide então ir para os Estados Unidos, regado ao famoso sonho universal de sucesso em Los Angeles, mais precisamente em Hollywood. Graças à sua extravagância e falta de noção das coisas, essa tarefa será muito mais complicada do que imaginara inicialmente, colocando-o em diversas situações bizarras, como tentar seduzir o candidato à presidência dos Estados Unidos ou então fazer um programa piloto de entrevistas de mau gosto para uma rede de TVs (e que, desde já, tem a cena mais nonsense de 2009, com um close nada convencional).

Moldando seu filme exatamente no mesmo estilo de Borat, Larry Charles comete o primeiro erro ao introduzir o personagem: enquanto o repórter era ingenuamente carismático, o que trazia uma identificação imediata com o público que estava assistindo, Brüno é arrogante e repulsivo ao tratar as pessoas. Somando isso ao fato da introdução ser chata e mal montada, temos um problema sério na estrutura do longa-metragem logo nos primeiros minutos de filme. Problema esse que é estendido por toda sua duração: com cenas rápidas demais e uma metragem pequena até se comparado a Borat, fica difícil imergir nas situações porque tudo é apressado demais. Há, inclusive, o abuso de cortes nos planos, o que quebra a naturalidade de algumas situações. Isso é um erro grave, uma vez que o filme tenta adotar um tom documental, e inserir uma série de cortes em cenas que a câmera deveria passar despercebida é um equívoco sério.

Misturando diversas passagens reais com seqüências encenadas para dar continuidade à história, novas pérolas são criadas, como o acampamento com os homenzarrões de caça, a luta de gaiola gay vista por vários machões, o já citado piloto do programa de tevê (você não irá acreditar no que viu), a entrevista perigosíssima e corajosa com um terrorista, a tentativa de paz entre palestinos e israelenses; enfim, uma série de cenas que sim, são engraçadas e bem feitas (algumas mais do que as outras), mas que foram colocadas de uma maneira infeliz no decorrer do longa.

Sacha está mais ousado, mesmo com todos os processos que acumulou nos últimos anos, e continua sendo o excelente ator que demonstra tanto em suas produções quanto de outros diretores. Essa ousadia, por horas, acaba exagerando e, mais um dos pecados do filme, torna-se sem graça. Ver pessoas saindo do cinema será uma rotina comum nas sessões de Brüno e isso era mais do que esperado, mas o consenso geral de todos que gostam do tipo de comédia que Sacha faz é que Borat é melhor, mais completo e mais engraçado, mesmo que mais brando e antigo. O natural seria dizer que quem gosta desse estilo de humor irá gostar de Brüno, porém isso não é certeza.

Outro problema está no fato de que, ao estereotipar um tipo de gay que não é o que os homossexuais realmente são (ou pelo menos sua grande maioria), Sacha perde o público que poderia apoiar o filme e passa a ter mais pessoas contra suas obras (houve, inclusive, um movimento em Hollywood pedindo várias alterações no longa). Tendo sido banido da Ucrânia, fica óbvio que ele gosta de ver o circo pegar fogo. E isso remota ao papelão que Sacha e Eminem fizeram no MTV Awards, quando Brüno entrou praticamente nu, pendurado por um cabo de aço, e caiu com suas nádegas bem no rosto do rapper, que saiu enfurecido do local. Quando descobriu-se depois tratar-se de algo combinado, o brilho das “ousadias” de Sacha ficou um pouco ofuscado. O que é realmente real e o que é combinado daquilo que estamos vendo em seus trabalhos? Será que ele é realmente tão polêmico quanto dizem ser? Esse é um questionamento perigoso, pois deixa tudo meio artificial.

Se visto individualmente, episodicamente, há algumas coisas geniais em Brüno: os trocadilhos como o campo de concentração de Auschwitz com a palavra ass (bunda em inglês), por exemplo, mostram o poderio de fogo que Sacha tinha em mãos. Ao exagerar, faz sombra perante às passagens geniais que havia criado. Tem os seus momentos, mas como um todo, o filme tem bastantes trincas em sua estrutura. Já gerou alguns novos problemas que Sacha adora comprar, como uma prisão em Milão e alguns processos, e isso certamente é só o começo.

Sacha Baron Cohen tem muito mais de Brüno em si do que pode-se imaginar: o importante é fazer barulho e estar na mídia, não importa como. Com certeza será mais criticado do que as críticas que pretendia fazer.

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