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Críticas

Cineplayers

O filme foi vendido como uma comédia pastelão, mas é um pouco mais complexo do que isso. Tem falhas, mas apesar disso é interessante.

6,0

Barry Levinson, apesar de seus deslizes, é um diretor historicamente competente. Seus filmes são, porém, dirigidos sobretudo ao público norte-americano, por tratar temas presentes na cultura dos Estados Unidos de forma marcante: violência, guerra, máfia, american dream. Basta dar uma espiada em sua filmografia. Seu último filme tem tantas características puramente norte-americanas que sequer chegou a ser lançado nos cinemas brasileiros - seu pôster original estampa Robin Williams imponente, tal como se fosse um símbolo da democracia norte-americana. O filme está sendo lançado nas locadoras com uma embalagem e nome totalmente genéricos aqui no Brasil. E bem mais feios. O nome (Candidato Aloprado), no caso, certamente escolhido por um imbecil ou por uma equipe de imbecis.

Sátira ao processo eleitoral nos Estados Unidos, e contando com um Robin Williams inspirado por bons textos, Man of the Year apenas não é um ótimo trabalho por causa de descuidos primários em seu roteiro. O mais grave deles é com relação ao motivo que leva o candidato interpretado por Williams a vencer as eleições: um bug no software de votação recém-lançado para as últimas eleições. Não é preciso trabalhar com computação para notar que um bug tão óbvio não seria notado de antemão. Tal falha poderia ser perdoada caso não fosse ela o estopim para os principais acontecimentos do filme.

Ignorando-se tal problema e também o fato da comercialização errada do filme – ele não é uma comédia sobre política como pôster e trailer dão a imaginar; é um drama sobre um comediante que se candidata ao governo. Ou seja, é um filme com mais profundidade do que se vê na superfície. Recheado de referências populares recentes da mídia (sobretudo da música e da televisão), a sátira política é ácida e verdadeira. Mas, ainda, não deixa de ser somente mais um filme falando sobre o óbvio (citando o filme): “políticos e fraldas estão sempre cheios da mesma coisa, por isso devem ser trocados de tempos em tempos!” Nesse sentido, Man of the Year é bastante previsível, tirando a força do filme. Um ponto positivo é o fato dele não recorrer a muitos clichês. Há um romance, mas ele é bem imprevisível; e o final do filme não é necessariamente bom nem ruim, dependendo do ponto de vista do espectador para ser um ou outro.

Independentemente dos problemas de roteiro, ao menos o filme de Levinson é competente ao estabelecer um ritmo ágil e agradável, ainda que sua duração seja de quase duas horas. Laura Linney mostra-se peça fundamental para definir esse fato, sua personagem é quase tão interessante quanto o Dobbs de Williams, mesmo que não faça piadas durante o filme. Tecnicamente, a direção optou por um tom mais sério, com planos não regulares e não simétricos, às vezes bem perto dos atores. Não é um trabalho tecnicamente arrojado em especial, mas há alguns momentos inspirados aqui e ali, que fazem manter o interesse.

Se você conseguir ignorar os problemas do roteiro e a obviedade e demagogia dos discursos de Dobbs, além do fato de ser este um filme concebido para o público norte-americano em primeiro lugar (apesar de a incompetência política ser universal), conseguirá achar algum prazer em assistir a Man of the Year. Se for assistir apenas pelo lado da comédia, é um filme bem fraco; mas se for assistir pelo conjunto (comédia + drama + romance), temos um pacote bom e divertido, ainda que não apresente nada de novo para qualquer espectador um pouco mais experiente na arte do cinema.

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