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Capitão América 2: O Soldado Invernal

(Captain America: The Winter Soldier, 2014)
7,2
Média
466 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Um paladino maturado.

7,0

Capitão América 2: O Soldado Invernal chega numa época em que filmes de super-heróis já não empolgam tanto, embora sigam sendo grandes sucessos comerciais capazes de arrastar milhares aos cinemas. Algo, no entanto, está visivelmente mudado aqui. A Marvel deixou de lado alguns padrões, especialmente o humor, para investir numa ótica procedente dos mais competentes e empolgantes mistérios policiais. Os roteiristas nos aproximam da realidade. Isso é algo bastante particular deste paladino quase centenário, configurando um outro patamar demasiado abundante de possibilidades, explanando alternativas para a fluidez dos acontecimentos absurdamente magnânimos, mas notoriamente coerentes à proposta. E o que deixa o filme ainda mais atrativo é o trato do roteiro sobre seu protagonista. Não o Capitão América, mas Steve Rogers, sua persona, seu deslocamento em tempos atuais onde os ideais se converteram irrompendo os princípios que defendeu em nome de algo que já não existe.

Um novo olhar sobre o heroísmo, perspectiva corajosa e necessária que engrandece a proposta do filme, não deixando-o maniqueísta como de costume, o que implica em renovação e melhor atenção ao espectador, favorecendo dúbias interpretações de fatos num contexto de espionagem e farsa. Não obstante ao mercantilismo usual, há toda uma série de referências, menções aos outros heróis e grandes momentos atordoados por uma trilha sonora proeminente com o intuito de viabilizar a satisfação do público interessado na ação, nas explosões, nas perseguições e combates. Os efeitos são cuidadosos. Os cortes rápidos agitam, embora comprometam a profundidade das cenas. O orçamento parece ter sido bem distribuído, fazendo desse um dos melhores filmes do universo Marvel. E tal crédito não é por seu atrativo visual, mas pela elegância de sua história que, embora simplista, capta valores não tão discutidos.

A mudança está manifesta, apesar de tímida, como se fosse parte de um experimento científico. Alterar a lógica da produção em benefício da imposição de uma nova estrutura narrativa foi um risco calculado, não plenamente estabelecido. O foco ainda é o entretenimento e a diversão descompromissada como resultado a ser alcançado. Steve Rogers está se adequando ao presente, reconhecendo mudanças, estudando a história e indo atrás de coisas que dizem serem indispensáveis. As referências às sugestões aparecem orgânicas e de maneira bem humorada, como por exemplo a cena de um bloco de anotações indicando Star Wars, Star Trek, Rocky, Steve Jobs e Nirvana. Também vale ressaltar um memorial com imagens de quando serviu na guerra, ou a cena em que reencontra uma antiga paixão. Toda essa afiguração vem dosada de terna melancolia e certa nostalgia, fundamentando o personagem e demonstrando sua dissonância social, moral e ideológica.

Não se trata unicamente de uma preocupação do Capitão América em salvar o mundo, mas transitar num cenário de organizações, compreendendo o valor das ambições antagonistas justificadas. Não há, aparentemente, ninguém plenamente confiável no quadro. Há toda uma discussão que movimenta a trama com a SHIELD questionada. Resta ao Capitão América e a Viúva Negra desvendarem as inconveniências por trás da política dos estimados superiores. Já os outros heróis são todos esquecidos, o que é estranho, já que este filme se passa pouco tempo após o evento visto em Os Vingadores (The Avengers, 2012). Chris Evans acerta ao manter um semblante receoso, dando certa eloqüência as suas aspirações romantizadas de mundo, ruído pelas décadas posteriores a qual não vivera. Scarlett Johansson imprime toda sua sensualidade em gestos lentos. A câmera dos diretores não se limita e investe em closes libidinosos retratando suas curvas lascivas num uniforme apertado.

Já o soldado invernal (Sebastian Stan) do título vem fazer frente, é um oponente a altura. Há toda uma dinâmica trabalhada no roteiro que dimensiona o embate entre ele e Rogers, um conflito sustentado pela congruência da ciência. Os diretores Joe Russo e Anthony Russo emulam uma satisfatória batalha de ideais, motivados por diferentes arquétipos. Faz liga ao Capitão América: O Primeiro Vingador (Captain America: The First Avenger, 2011), e exprime um Steve Rogers humano com poderes e passível de erros. A presença de Robert Redford como Alexander Pierce é outro trunfo, a grandeza do ator contribui para as pretensões do longa já que seu papel  rivaliza com algumas de suas interpretações dos anos 70. A insatisfação se dá por percebermos um material bom tratado com certa insegurança. É um dos filmes mais maduros baseado no universo Marvel, especialmente comparado aos últimos: o divertido, porém raso Thor: O Mundo Sombrio (Thor: The Dark World, 2013) e o trivial Homem de Ferro 3 (Iron Man 3, 2013). Diante tanta bobagem, uma peculiaridade. Que renda algo no futuro!

Comentários (13)

Rodrigo Giulianno | segunda-feira, 14 de Abril de 2014 - 15:31

Gustavo, mas a tradução literal é invernal mesmo?

Raphael da Silveira Leite Miguel | segunda-feira, 14 de Abril de 2014 - 22:42

Boa crítica, muito legal saber que não esqueceram dos outros filmes e colocaram várias referências aqui. E pelo visto, ainda há espaço pra ter um bom entretenimento no cinema com uma história bem desenvolvida.

E é muito bom saber de um filme que possa fazer frente à Os Vingadores e o Homem de Ferro, pois se continuasse nesse embalo dos últimos filmes, a Marvel ia desandar e agora ganha um novo fôlego. Que venham mais filmes desse universo!

Ianh Moll Zovico | quinta-feira, 17 de Abril de 2014 - 19:13

De longe o melhor filme da Marvel. PS: Não gostei do 1° filme.

Luiz Phillipe Lameirão Côrtes | terça-feira, 03 de Março de 2015 - 22:02

Num mar de filmes boçais e horrorosos da Marvel, temos esse Capitão América 2 como um alento. Bom filme de ação e espionagem, que pode ser assistido tranquilamente como um bom "007" ou "Bourne". Nota 7,0.

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