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Capitão América: Guerra Civil

(Captain America: Civil War, 2016)
7,4
Média
388 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Conflitos internos.

7,0
A imagem tradicional de herói alimentada pelo cinema nasce a partir da ideia de que existem lados. O bem e o mal, a despeito de tudo o que essa antítese carrega em si nas ficções, sempre projetaram-se em lados opostos, e nesse meio temos uma trama em que um tentará prevalecer sobre o outro, cada qual se valendo de suas próprias características e artimanhas – todas já bem conhecidas e assimiladas pelo público em geral. Ao tentar fugir um pouco desse padrão, os roteiristas investem cada vez mais em heróis errantes e inimigos carismáticos, procurando assim evitar cair na mesmice e valorizar as nuances que podem existir mesmo nos mais famigerados arquétipos contemporâneos, e assim maquiando de alguma maneira o velho e indefectível plot da batalha do bem contra o mal. 

As adaptações dos HQs da Marvel para o cinema trabalharam dois dos heróis mais famosos da cultura pop, O Homem de Ferro e o Capitão América, dentro de fórmulas diferentes. Enquanto Steve Rogers é o herói à moda antiga, íntegro, honesto, altruísta e de moral incorruptível, Tony Stark é justamente a desconstrução dessa imagem anacrônica dos heróis do passado, um milionário egocêntrico, sarcástico, mulherengo e inconsequente que nem sempre preza ou prioriza pela vida do próximo. O cruzamento das histórias dos dois em Os Vingadores (The Avengers, 2012) rendeu uma divertida interação baseada nessa total falta de sintonia entre eles, mas agora em Capitão América: Guerra Civil (Captain America: Civil War, 2016) a ideia é muito mais ambiciosa. 

O título já denuncia uma guerra não entre nações, mas sim interna, e o mesmo ocorre com os tais vingadores, que a partir de um impasse se dividirão em dois grupos, um liderado pelo Capitão América e outro pelo Homem de Ferro. Desta vez, não há o lado do bem e o lado do mal, e a falta desse conceito categórico é a brecha para que a Marvel finalmente consiga evoluir e sair do terreno já desgastado de seus filmes anteriores. Transitando num terreno de maior complexidade moral, por assim dizer, tudo se torna mais imprevisível, pois estamos lidando com dois lados que possuem, cada qual, sua parcela de culpa e razão, e onde os conceitos de ‘bom e mau’ se desmancham em um dilema ideológico, já que estamos diante do embate entre dois heróis. 

A questão que separa o time envolve um assunto bastante interessante, sobre a vida ceifada de pessoas inocentes durante uma ação heróica. Quando vemos um Hulk ou um Thor, por exemplo, destruindo prédios, carros, casas, ruas, e no fim sendo ovacionados e condecorados, talvez ninguém pare para pensar que muita gente morreu ali no meio dessas manifestações de poder, por mais que a intenção deles tenha sido, em suma, salvar o mundo. Numa era em que o cinema deixa um pouco de lado a licença poética dessas situações e se propõe a buscar o máximo de realismo possível, mesmo num contexto de super poderes e roupas de borracha coloridas coladas ao corpo, é até natural que essa questão seja levantada, e por isso temos um Tony Stark menos engraçadinho e mais afetado pelo sangue de inocentes que carrega nas costas. Essa culpa o leva a aceitar um tratado que limita a ação dos Vingadores mundo afora, enquanto o Capitão América defende a ideia de que tem a obrigação de agir para salvar vidas, não importa onde estejam e o que isso envolve. 

Sendo o Capitão América a representação magna do orgulho patriótico americano na cultura popular, logo surge um paralelo tímido dessa posição dele com o próprio governo americano e suas já costumeiras intromissões políticas e militares em assuntos mundo afora que muitas vezes nem lhe dizem respeito. No fim, o que conta mais, o suposto intento de fazer o bem ou os efeitos colaterais muitas vezes catastróficos que enchem o inferno de boas intenções? Sob essa perspectiva, Guerra Civil ganha um tamanho e proporção bastante admiráveis, por mais que muito disso fique apenas na vontade e não ganhe maior desenvolvimento. Por outro lado, propicia uma revigorante inversão de papéis, com Tony Stark se deixando guiar e apoiar por leis e burocracias, enquanto Steve Rogers segue com sua trupe por caminhos ilegais. Certos ou errados (ou como as campanhas de marketing disseminaram pela internet: “#capteam versus #ironmanteam”), os dois têm seus motivos, que se cruzam em algum ponto pela presença sempre misteriosa e intrigante do Soldado Invernal. 

Estão nesses conflitos internos as maiores boas ideias de Guerra Civil, corroboradas por algumas tomadas-chave, como o close-up no escudo do Capitão América caído no chão, com seu verniz corrompido pelas marcas das garras do Pantera Negra, indicando sua moral e certezas abaladas. Todos os heróis coadjuvantes voltam a aparecer, desta vez com a novidade do Homem-Aranha, novamente renascido, e mostrando que funciona melhor fora de seus filmes-solo. A vantagem nessa enxurrada de personagens está no bom aproveitamento de cada um, pela primeira vez sob a tutela de um roteiro que valoriza a ação coletiva e trabalha para uma dinâmica fluente, como nenhum Avengers conseguiu até hoje. Podaram bastante também a breguice das falas de efeito e piadas fora de hora, assim como a cafonice do combo ‘câmera lenta+trilha entorpecente’ na apresentação dos heróis.  A desvantagem de tudo se encontra no quê de Michael Bay que assombra algumas sequências de ação, com muita tremedeira, explosão e gritaria gratuita, sem o cuidado e melhor acabamento que um filme desse porte pode oferecer – há momentos em que tudo se transforma em borrões porcamente editados, em que mal conseguimos distinguir o que está acontecendo. 

Em um filme tão assumidamente comercial, é bom enxergar também essa preocupação com um roteiro que vá além do medíocre e tantas boas sacadas de fundo político e moral, que conferem peso aos personagens e à história. Claro que muito disso não passa de truque para puxar ganchos e mais ganchos para muitas continuações-solo dos Vingadores e assim manter firme a exploração massiva da nova mina de ouro que Hollywood achou nas adaptações de HQs, mas ainda assim sua proposta é válida. Em um mundo em que as noções de bem e mal se tornam cada vez mais subjetivas e tênues, é interessante incorporar e trabalhar não somente com os embates clássicos de vilões e mocinhos, mas também se preocupar em tratar daqueles conflitos que nascem a partir de lados que possuem em comum o mesmo interesse, porém não o mesmo método. 

Comentários (32)

Marcos Freitas | quarta-feira, 04 de Maio de 2016 - 15:08

O filme eh mal editado, tem um roteiro fraco, uma direção preguiçosa, e tudo eh mostrado de uma maneira fria e distante...

Marcos Freitas | quarta-feira, 04 de Maio de 2016 - 16:09

O Batman também sofre disso, so que em um nível menor...

PATRICK JOSE DUTRA CALDEIRA | quarta-feira, 11 de Maio de 2016 - 16:46

A saida da Marvel vai ser contratar o Nolan pra fazer um novo universo....este desde Ultron esta fadado ao fracasso!

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