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Críticas

Cineplayers

Horror silenciado.

4,0

A Casa Silenciosa (Silent House, 2011) é uma versão americana do sucesso uruguaio A Casa (La Casa Muda, 2010). Desnecessária, pois além de não acrescentar nada ao filme original, ainda emprega maneirismos hollywoodianos que comprometem a força da obra, priorizando efeitos sonoros e trilha pesada para forçar algum desconforto no público. O filme é – aparentemente – filmado num ativo plano-sequência. A novidade, em termos de Hollywood, é justamente esse recurso do único take que dura quase 90 minutos, mostrando a tensão crescente de sua protagonista que se desespera ao constatar o medo e a prisão numa casa de veraneio em reforma. Lá estranhos barulhos anunciam companhias indesejadas e súbitas cenas de violência sugerem o teor da realização que quer, mais do que qualquer coisa, transmitir horror psicológico ao espectador de modo intenso e sufocante.

Lançado comercialmente em 2010, o filme original, escrito e dirigido por Gustavo Hernández, ganhou atenção de muitos, rendendo críticas positivas e atingindo um público surpreendente, dado o pequeno investimento. Essa versão uruguaia tinha em sua simplicidade e no talentoso manejo da câmera o diferencial que lhe fez tão dinâmico e satisfatório. Não muito diferente, essa versão estadunidense um pouco mais requintada e estrelada por Elizabeth Olsen – irmã mais nova das gêmeas Mary Kate e Ashley Olsen – tem a mesma eficiência ao produzir pavor. A câmera é bem trabalhada, especialmente quando está próxima a espelhos, usando-os a seu favor para irromper sobressaltos. No entanto, os direcionamentos e os atores enfraquecem as pretensões da narrativa, muito embora ela conte com uma boa protagonista.

Elizabeth Olsen oferece uma fragilidade interessante a sua personagem Sarah, que repentinamente passa a conviver com possíveis alucinações dentro de uma casa fechada. Com sussurros, olhar de desespero e gesticulação trêmula, a garota demonstra alguma habilidade em cena, sobretudo contrastando aos seus dois parceiros cujas performances sofríveis quase dão razão a outras interpretações da história. Esses são Adam Trese, que vive John, o pai da moça, e Eric Sheffer Stevens, terrível, encarnando o tio Peter.

Hollywood enxergou grande potencial no filme de Gustavo Hernández e não demorou para adquirir seu direitos. A dupla Chris Kentis e Laura Lau foi convidada a dirigir a empreitada - Chris já tinha experiência com pouco orçamento e tensão psicológica coordenando um elenco reduzido, no thriller Mar Aberto (Open Water, 2003). Em A Casa Silenciosa, a lógica é quase a mesma. Tudo se desenrola num único local, porém, se em seu filme anterior o diretor trabalhava com o risco físico e visível, aqui abrem hipóteses e possibilidades, já que a escuridão de alguns locais e visões irreais dão indícios da ameaça sem nunca deixar claro o que está acontecendo. A iluminação do longa, tão importante, soa em muitos momentos demasiada artificial, especialmente em alguns cômodos onde tudo deveria estar escuro. A trilha criando expectativa é outro recurso desnecessário, quebrando a tensão natural.

Se o filme inteiro se passa num único plano, é algo para se discutir. Há momentos em que algum truque possa ter interrompido essa longa sequência. A proposta é ousada, criativa e difícil - o russo Aleksandr Sokurov trabalhou com isso divinamente em Arca Russa (Russkiy Kovcheg, 2002). O projeto, ainda que bem narrado e executado, se mostra arrastado em certos pontos mesmo embelezado pelas salas exuberantes do Museu Hermitage em São Petesburgo. Essa cadência não tirou o seu brilho e mérito, evidentemente. Já aqui, o universo oferece margens melhores para investir em algo assim. Suas resoluções renderão questionamentos. A versão uruguaia segue como uma opção mais coesa e charmosa.

Comentários (5)

Marcos Paulo Ferreira | terça-feira, 04 de Setembro de 2012 - 18:00

rsrs.. horror silenciado foi a melhor designação...

Bruno Kühl | terça-feira, 04 de Setembro de 2012 - 18:24

O uruguaiano é bacana, esse eu não tenho muitas esperanças de algo bom...

Gustavo de Souza Silva | quarta-feira, 05 de Setembro de 2012 - 11:53

Quando der eu verei esse sim, eu gosto do genero de terror, mesmo alguns filmes mais simples.

Victor Ramos | quarta-feira, 05 de Setembro de 2012 - 16:04

O original é bonzinho.

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