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O excesso e a luxúria de Malick.

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Terrence Malick é conhecido por duas coisas específicas: a primeira é o longo tempo que ele leva para lançar um trabalho novo, e a segunda é seu estilo único e original que ninguém parece fazer igual. Após ganhar a Palma de Ouro em Cannes em 2011 por A Arvore da Vida (The Tree of Life, 2011), o diretor decidiu fazer mais três filmes, sendo o primeiro Amor Pleno (To the Wonder, 2012), com Ben Affleck que não possui roteiro e foi filmado inteiramente à luz natural; o outro, com Ryan Gosling sobre um triângulo amoroso que acontece no festival em Austin, Texas, e que ainda não foi lançado; e um terceiro filme, Cavaleiro de Copas (Knight of Cups, 2015), que acabou de ser lançado após ficar dois anos em pós-produção.

Apesar de sua famosa temática sobre o homem versus natureza e homem versus religião, Cavaleiro de Copas é o primeiro filme de Malick cujo protagonista encontra conforto na indiferente vazia e excessiva estilo de vida da burguesia. O personagem Ben, interpretado por Christian Bale, é um famoso roteirista que passa os dias festejando em mansões, boates e strip-clubs de Los Angeles. Ele não possui nenhum prazer na vida que leva, com exceção das mulheres que ele conhece, que parecem dar um pouco de sentido em sua vida. Ele também possui uma péssima relação com o seu pai e irmão, que estão constantemente brigando sobre outro irmão que perderam por causa de algo que nunca conseguimos entender direito o que aconteceu. Quanto mais Ben vive e questiona, mas perdido ele se encontra.

Vendo por este ponto de vista, esta é a obra mais pessimista de Terrence Malick. Durante toda sua filmografia, por mais que os personagens passassem por acontecimentos terríveis, os eventos nunca eram fortes o suficientes para quebrarem a crença e a alma dos protagonistas, uma das razões que fazem os filmes de Malick serem tão belos. Em Cavaleiro de Copas, porém, Ben já é uma pessoa com a alma quebrada e Malick não apresenta nenhuma verdade, nenhum Deus, nenhuma natureza que faz com que seu personagem vire uma pessoa melhor. Ele constantemente vagueia por festas, pessoas e lugares, tendo todo o poder do mundo em suas mãos e não consegue entender nada. Há até um momento em que o pai de Ben narra: “você acha que quando ficar mais velho a vida passa a fazer sentido até você perceber que está tão perdido quanto antes”. E é exatamente sobre isso que o filme se trata. No começo de Cavaleiro de Copas, o pai de Ben também narra a história de um príncipe que foi mandado para o Egito pelo seu pai para buscar uma pérola. Chegando lá,  as pessoas ofereceram a ele uma bebida que após o mesmo beber, fez ele cair em sono profundo. Esta é nada mais que a metáfora do filme.

E para ficar ainda mais interessante, Malick edita sua obra como uma lida de tarô, mostrando ao espectador que seu filme não é sobre uma jornada ou uma história, mas sim sobre elementos presentes na vida de uma pessoa cuja combinação destes elementos passam a fazer um certo sentido e, quem sabe, mostrar um glimpse do futuro. Com isso, Cavaleiro de Copas é editado em diversas partes, cujas mesmas são intituladas com nomes de arcanos do tarô, como A Imperatriz, A Morte, A Torre, A Lua, O Sol etc. Cada desses arcanos, ou partes do filme, mostram um evento importante da vida de Ben, montando aos poucos o perfil da obra.

Filme esse que também é extremamente belo. Malick ainda é Malick e sua parceria com Emmanuel Lubezki faz com que Cavaleiro de Copas também seja uma experiência visual contemplativa. Consegue ser bem similar a A Arvore da Vida e, especialmente, Amor Pleno. Tão parecido que no início você passa a pensar que irá assistir a estes filmes novamente e nada interessante acontecerá. Felizmente, se enganará. Para falar a verdade, Cavaleiro de Copas parece até ser uma continuação de A Arvore da Vida. Após toda a metáfora de Deus, a Natureza e a verdade, Malick parece mostrar o lado sombrio e cego destes temas e como a sociedade facilmente se volta para a luxúria e a ganância em vez de buscar os sentidos que são explorados em A Arvore da Vida.

A atuação também é bastante interessante. Malick já provou ser um diretor bastante único também para os atores, fazendo com que nem todos estejam na altura do que ele pede, como Ben Affleck provou em Amor Pleno. Em Cavaleiro de Copas, porém, Christian Bale apresenta uma performance digna, que apesar do roteiro e da montagem não deixarem muito espaço para ele atuar, ele sustenta bem a indiferença do personagem, assim como Natalie Portman e Cate Blanchett em seus curtos papeis. As rápidas cenas de Antonio Bandeiras também não passam despercebidas, montando um elenco de grandes nomes que dão vida ao filme, por mais curta que suas aparições sejam.

Cavaleiro de Copas é sem dúvida um dos trabalhos mais diferentes de Malick desde de A Arvore de Vida. Ainda que possua muito de seu estilo característico, os novos elementos mostrados aqui fazem com que a voz do diretor dê uma refrescada depois de um filme denso como Amor Pleno. Sem contar que nos mostra interesse para seu próximo projeto, após continuar com sua ótima reputação como artista aqui.

Comentários (32)

Abdias Terceiro | terça-feira, 02 de Fevereiro de 2016 - 02:36

Gostei da crítica. Melhor que as de Carbone. Mas já veria o filme de qualquer maneira. Esse elenco deve estar deixando a película imperdível.

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