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Críticas

Cineplayers

Uma continuação fraca, que se embaralha nas próprias pernas e mal assusta o público.

4,0

Aconteceu o que temia. O Chamado 2 pega tudo o que o primeiro apresentou, aprofunda, dá uma dimensão maior, mas não satisfaz. É, no fundo, uma continuação que se perde em meio à tudo aquilo que quer inovar. Sai Gore Verbinski, que já havia demonstrado competência ao levar uma segunda franquia ao sucesso, o divertido Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra, e entra Hideo Nakata, o diretor do filme original em que este é baseado - o que já era preocupante, já que Ringu 2 não é a oitava maravilha do mundo. Uma pena que, em sua segunda chance, o diretor erra novamente e, ao invés de consertar os erros do passado, comete alguns novos, criando uma verdadeira salada de frutas sem leite condensado.

Não achem que sou daqueles "do contra", que costuma detestar tudo o que todos gostam. Adoro O Chamado, mas estava com o pé atrás nessa continuação. Mesmo sabendo que a história tomaria caminhos diferentes do que o original, com o trailer tive medo de que tudo tomasse uma dimensão que, ao invés de adicionar, prejudicaria. Eu estava certo. Apesar do filme acertar em não repetir a fórmula do anterior (como a primeira cena deste sugeria que iria acontecer), Naomi Watts estava certa ao dizer que tudo tomaria um rumo diferente da história anterior. Ela estava dizendo a verdade, mas escondeu que, não necessariamente, o que estaria por vir seria algo bom.

A história começa com mais uma vítima da fita misteriosa sem identificação, que mata após sete dias de ter sido assistida. Nesse começo há dois pontos interessantes absolutamente ignorados pelo roteiro pelas próximas quase duas horas a seguir. O primeiro é o fato de haver uma testemunha dessa morte, só que ao invés de aproveitarem essa pessoa dentro da narrativa, como no primeiro, ela é simplesmente ignorada. Nem ao menos voltar a ser citada ela foi. O segundo ponto desperdiçado foi o fato de que um boato de como acabar com a maldição já estava circulando entre os jovens, que poderia até ser uma idéia extremamente interessante para o roteiro se desenvolver em cima, mas que também é esquecido durante todo o longa.

Após conseguir livrar seu filho e a si própria da maldição, Rachel vive agora em uma pequena cidade litorânea longe de tudo o que poderia remeter a más lembranças. Só que, após esse assassinato inicial, ela desconfia que Samara ainda está atrás de seu filho. Mas por que ela faria isso? O que Rachel haveria de ter feito errado para que a maldição ainda a perseguisse? São perguntas que vêem à mente assim que sabemos dessa sinopse. Mas ao invés de se preocupar em dar respostas interessantes, o roteiro apresenta soluções insatisfatórias e que contradizem a própria história do longa anterior. Ao invés de resolver, ele gera ainda mais perguntas, todas contraditórias à própria lógica interna do filme.

O Chamado tinha, além de uma ótima história, um clima perturbador por nos fazer sentir medo do que poderia acontecer aos personagens. Nesta continuação, você tem diversas cenas assustadoras no começo do filme, que se tornam bastante escassas quando resolvem contar a história, para só reaparecerem perto do final, quando já é tarde demais. Nesse sentido, há algumas cenas totalmente gratuitas, como por exemplo o ataque dos veados na estrada, e outras até que bacanas, como a aparição de Samara no banheiro. Pena que tudo está mal balanceado.

Outro ponto em que o filme peca é por menosprezar a inteligência do público. Enquanto no anterior as seqüências aconteciam e o filme deixava que nós as digeríssemos da maneira em que pudéssemos refletir sobre todos os acontecimentos, nesta continuação é tudo mastigado de maneira irritante. Ao invés de nos deixarem raciocinar sobre os acontecimentos, tudo o que o diretor quer que saibamos é dito com toda as letras por algum personagem. Em certo momento, Rachel diz, mesmo sem ter o menor embasamento para tal, sem tirar nem por, exatamente o que Samara estava fazendo com seu filho.

Para não acharem que odiei o filme, deixo claro que ele não é deplorável, é apenas ruim. As pessoas podem até gostar porque, assim como o slogan do filme sugere, a história é clara o suficiente para fazer com que o círculo se feche. Apenas para os poucos mais exigentes é que essas alterações grotescas nos rumos, motivações dos personagens e aprofundamentos da história incomodarão. Para quem gosta de apenas acompanhar o que acontece, é um prato cheio.

A técnica é excelente, pois a fotografia é bonita e o som bem utilizado. Exagera apenas um pouco nos efeitos especiais, na maquiagem e no modo como Samara se movimenta, mas são detalhes em um trabalho bem polidinho. Naomi Watts reprisa o papel de maneira satisfatória, mesmo que uma de suas frases finais de impacto seja ridícula. Quem rouba a cena do elenco é o jovem David Dorfman, que apesar de ser um pequeno clichê no gênero atual, utilizar uma criança para assustar, realmente mistura medo e sofrimento. O garoto conseguiu realizar uma interpretação diferente de quando é o jovem Aidan normal e de quando este está possuído pelo espírito de Samara - o que é impressionante, visto sua idade.

O Chamado 2 poderia ser um filme insuportável, caso torcêssemos para que acabasse logo - o que não é o caso. É apenas insatisfatório. Se o primeiro era um ótimo filme, que assustava e tinha uma história que nos fazia pensar, este aqui mostra que não deve ser levado a sério. Apesar do sucesso comercial, os responsáveis tem que se redimir com o próximo filme da franquia, afinal, há o outro lado da moeda. O primeiro só foi o sucesso que foi por causa de sua qualidade e, se este ficou devendo, pode ser que o terceiro não tenha uma recepção tão calorosa assim. Nesse caso, seria apenas torcer para tudo não acabar no fundo do poço.

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