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Críticas

Cineplayers

Uma continuação inferior ao original, que segue a tendência de refilmagens de filmes de horror japoneses.

6,0

São raros os casos em que filmes são superados por suas continuações. Os originais são quase sempre imbatíveis, por apresentarem um quê de novidade e idéias muitas vezes inusitadas. Com o Chamado 2 não é diferente: o sucesso da assustadora Samara foi tanto que trouxe a Hollywood uma nova modalidade cinematográfica, o terror japonês, numa onda de inesgotáveis refilmagens. Seria absolutamente normal, portanto, que O Chamado recebesse uma continuação - mesmo que produzir outro filme à sua altura fosse praticamente impossível.

Desta vez, a jornalista Rachel e seu filho Aidan mudam-se para uma cidade litorânea em Oregon, com esperanças de apagar as memórias sórdidas e começar uma nova vida. No entanto, surge um caso de uma morte misteriosa, e, para o horror de Rachel, uma fita de vídeo está envolvida.

A história toma dimensão ainda maior quando Rachel percebe que seu filho tem agido de modo estranho, e ela mesma começa a sentir que Samara voltou para persegui-los e atormentá-los.

Naomi Watts, no papel de Rachel Keller, mostra-se uma atriz versátil e competente. Sua personagem agora apresenta mudanças sutis em alguns traços de personalidade, como quando demonstra amor incondicional ao filho. Em O Chamado 2, a atriz mostra ser capaz o bastante para qualquer tipo de interpretação e para qualquer tipo de filme. Mesmo assim, seu filho é quem muitas vezes rouba a cena. David Dorfman, que interpreta Aidan, demonstra um talento admirável e faz parecer com que a história gire apenas em torno dele. No aspecto das interpretações, pelo menos, O Chamado 2 se sai muito bem e apresenta atores acima da média.

Hideo Nakata, o responsável por Ringu e Ringu 2, chega a Hollywood com a difícil tarefa de produzir uma grande continuação para um filme praticamente imbatível, porque a história de Samara e a maldição do vídeo só funciona e assusta quando contada pela primeira vez. Quando se tenta fazer uma segunda parte, corre-se o sério risco de se cometer erros graves, como foi visto em Ringu 2, que apresenta apenas uns três bons momentos e um enredo absurdo.

Hideo Nakata é pelas sutilezas, pelo uso inteligente da imagem para causar estranheza nos espectadores - e é exatamente isso que ele faz em O Chamado 2, e, neste aspecto, realiza um bom trabalho. O bizarro e o inexprimível juntam-se para formar algumas cenas tensas, mas a atmosfera é instável e o clima assustador não se segura por muito tempo. Os efeitos são bem utilizados, mas às vezes surge um exagero que atrapalha e pode não agradar.

Se O Chamado 2 fosse só imagens, teria sido mais divertido do que realmente é, mas o roteiro de Ehren Kruger não consegue amarrar todos os acontecimentos de maneira aceitável. Para que o enredo tome rumo, ele inventa sobre o passado de Samara e chega a comprometer até mesmo a história do primeiro filme, deixando espaço para que surjam inúmeras perguntas - muitas delas sem respostas.

Quando sai do núcleo Rachel-Aidan, o enredo extrapola e torna-se instável, propenso a vários deslizes. Entretanto, uando volta a enfocar os dois, fica mais sólido e seguro, revelando uma preocupação da mãe em relação ao filho que remete bastante à Dark Water. Aliás, não é só o drama familiar que faz alusão a Dark Water, mas também o papel importante que a água adquire e a nova dimensão que toma durante o filme. O Chamado 2 parece ser, portanto, uma reunião de vários elementos dos outros sucessos de Hideo Nakata, numa mistura bem mais atraente para aqueles que já os conhecem.

Mesmo com todo o aparente cuidado na construção das cenas, com as sutilezas do diretor japonês, com as boas interpretações e um clímax interessante, O Chamado 2 lamentavelmente tropeça algumas vezes quando conduzido pelo roteiro mal-acabado. Pelo menos já está provado que apenas um filme consegue contar - e muito bem - a história da maldição do vídeo. O resto é excesso e vaidade.

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