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Críticas

Cineplayers

Neil Blomkamp continua sua jornada (de qualidade?) rumo ao futuro.

7,5

Para grande parte do público, estamos diante da "melhor de 3" do diretor Neil Blomkamp. Surgido há 5 anos na explosão do sucesso de público e crítica de Distrito 9, o sul-africano caiu em desgraça após Elysium, há 2 anos. Ao meu ver: nem Distrito se trata de um Cidadão Kane (embora excelente), nem Elysium é uma bomba no nível das de Adam Sandler (embora de fato patine muito). Portanto, não vejo muito sentido nos julgamentos e apedrejamentos que o cara vem sofrendo, inclusive por essa nova produção, que é superior à anterior.

Aqui vemos Blomkamp reiterar temas pertinentes em sua estreia, e mais uma vez observar o preconceito em escala ascendente pelos "olhos" de seres inumanos, além da escalada futurista que oprime e afasta os seres. Se no longa indicado ao Oscar a observação da sociedade se dava através de um alienígena perseguido, dessa vez a perseguição é sofrida por um robô, de uma linhagem descartada de super tiras após um acidente causar seu desuso em particular; no futuro, a classe policial está sendo substituída com sucesso por esse grupo de robôs soldados que fazem todo o serviço com eficácia superior. Ao ser retirado para reparos por seu criador da empresa comandada por Sigourney Weaver (em participação pequena), esse robô em especial será sequestrado por um trio de criminosos que parecem cantores de rap sul-africanos (e são!) e, tratado como filho pela mulher do bando em seqüências que sugerem a evolução de uma tradicional educação infantil, Chappie aos poucos se afasta da imagem benevolente construída por seu criador (Dev Patel), se aproximando do mundo do crime tanto quanto às injustiças o acometem e o preconceito contra sua "classe" se torna cada vez mais evidente.

Como em Distrito 9, uma parcela da população não está satisfeita com os super soldados promovidos a policiais, incluindo a própria polícia; por isso Chappie acaba passando por poucas e boas ao conhecer humanos fora de seu "núcleo familiar", o que o leva a cada vez mais pender para o lado negro da força. No papel de um policial humano e sem qualquer traço de caráter, Hugh Jackman empresta bom sotaque a um personagem desprezível e talvez um pouco caricato.

Mas o que vale aqui é o passo contínuo que Blomkamp parece dar, rumo a criar uma assinatura identificável. Seus signos continuam aparecendo: o preconceito do coletivo contra o indivíduo, a tecnologia oprimindo quando deveria ajudar, o futuro cada vez mais distópico, e como cereja do bolo seu ator-fetiche mais uma vez em ação (Sharlto Copley, dessa vez dublando o personagem título).

Se nem tudo funciona a contento, em grande parte devido a repetições de fórmula e/ou temas, ao menos conseguimos observar intacto suas qualidades iniciais, tais como a direção enxuta e envolvente, além da pegada pop cada vez mais afiada. Continuo atento à sua carreira, e acho uma pena que um clarão tenha se aberto a sua volta como se ele tivesse decepcionado enormemente. Seu cinema permanece chamativo.

Comentários (6)

Gian Couto | quarta-feira, 29 de Abril de 2015 - 13:49

Desde seus curtas ele foca nesse ponto social, acho difícil mudar, pelo menos por enquanto. Não me parece que ele tenha vontade também de falar sobre outros assuntos. Para mim, um cineasta extremamente necessário na atual leva, justamente por falar sobre esses assuntos.

Marcelo Queiroz | quarta-feira, 29 de Abril de 2015 - 19:05

Como muito bem lembrou o Koball, para todo o bom diretor é essencial que este saiba diversificar, não o seu mode de filmar e seu estilo, mas sim abranger todos os gêneros com a mesma qualidade.

Rodrigo Cunha | quinta-feira, 30 de Abril de 2015 - 08:39

Não acho que um diretor precise ficar transitando entre gêneros, basta fazer bem aquilo que ele se propor. Veja Hitchcock e Kubrick, por exemplo.

Cristian Oliveira Bruno | quinta-feira, 30 de Abril de 2015 - 10:07

Concordo com o Cunha. Só acho muito cedo essa badalação toda em cima do cara. Tem estilo e talento, mas nada demais

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