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Críticas

Cineplayers

Não chega a causar indigestão, mas é um prato que está longe de matar a fome.

5,0

Não é raro ver cineastas comumente associados aos chamados blockbusters voltarem-se a projetos mais pessoais e intimistas. A lista é longa. Apenas recentemente, diretores como Roland Emmerich, Joss Whedon, para citar dois, realizaram filmes menores, longe da pressão dos estúdios, onde puderam encontrar a tão sonhada liberdade criativa. O mais novo nome dessa lista é Jon Favreau: após comandar Homem de Ferro, Homem de Ferro 2 e Cowboys & Aliens, estabelecendo-se como figura importante do cenário comercial do cinemão norte-americano, o cineasta preferiu se afastar dos holofotes e chamar alguns amigos para a execução de um projeto de estimação, a comédia Chef.

Escrito, dirigido, produzido e estrelado por Favreau, o filme é decepcionante exatamente por se tratar de um projeto pessoal. Chega a ser curioso: logo quando tem controle total sobre a obra, com a oportunidade de arriscar e experimentar a seu bel-prazer, Favreau despe-se de ambição e opta por jogar na zona de conforto, abandonando qualquer resquício de ousadia. Chef é um filme extremamente simples e inofensivo, bobinho até o último frame, evitando ideias originais, deixando de lado a profundidade e preterindo a coragem narrativa em função de uma construção segura e banal. O resultado é uma daquelas obras que, quando chegam ao final, a plateia se entreolha e pergunta: “Mas é só isso?”

Mesmo almejando pouco, Chef ainda apresenta sua parcela de problemas. O mais gritante deles talvez seja a própria estrutura adotada por Favreau, com um primeiro ato longo demais, que leva quase uma hora até chegar ao primeiro ponto de virada do enredo. Dessa forma, o filme demora para realmente “começar”, uma vez que o espectador já sabe que algo dessa natureza irá acontecer e aguarda por tal momento. Para piorar, o roteiro também parece fugir de possíveis conflitos que possam tornar a narrativa mais interessante: exceto a demissão do protagonista, o restante da produção traz as coisas acontecendo de forma rápida e fácil, o que acaba tirando qualquer possibilidade de emoção que a história pudesse oferecer.

As próprias relações entre os personagens, aliás, são tratadas de maneira rasa e superficial por Favreau. A subtrama envolvendo pai e filho, por exemplo, é resolvida em uma única cena de alguns segundos, onde os dois parecem encontrar uma conexão que nunca mais será quebrada. Mas isso é pouco, porém, perto do que Chef faz com o casal interpretado por Favreau e Sofia Vergara, cujo destino é indiscutivelmente um dos mais abruptos e inverossímeis do ano – o que leva a um final totalmente anticlimático. Como se não bastasse, a previsibilidade incomoda e personagens desaparecem da trama sem muita explicação, prejudicados pela já citada estrutura deficiente, que parece não se preocupar em desenvolver um terceiro ato capaz de amarrar e encerrar o filme de maneira coerente.

Vale ressaltar, ainda, que a falta de imaginação de Favreau não se restringe apenas ao texto e à espinha dorsal da narrativa, mas também às suas escolhas atrás das câmeras. Embora tente assumir um tom moderno com a inserção orgânica dos tweets – e dos passarinhos voando para representar seus envios –, na maioria das vezes as soluções visuais são óbvias, como as montagens durante a viagem (ao som de uma trilha sonora caricata) e gags visuais fáceis de antecipar por quem já assistiu a pelo menos dois filmes de comédia na vida. Em certo momento, por exemplo, o personagem de Robert Downey Jr. fala sobre o veículo que colocará à disposição do protagonista, vendendo-o como uma grande máquina. Não é difícil prever que haverá um corte seco para a próxima cena apresentando o furgão caindo aos pedaços. (Que saudade da criatividade das transições de Edgar Wright...)

Mas Jon Favreau deve ser um cara legal, pois é a única explicação para conseguir juntar um elenco desses em uma produção independente e tão insossa quanto Chef. As aparições de Scarlet Johansson, Dustin Hoffman e Robert Downey Jr. podem até ser consideradas cameos, de tão pouco tempo em tela, mas já ajudam a trazer um certo apelo ao filme – o último, por sinal, brilha como sempre, entregando todas as suas falas com a ironia e o timing cômico perfeito ao qual o espectador já está acostumado. E, se é difícil visualizar Favreau como par romântico da espetacular Sofia Vergara, ao menos o estilo bonachão e gente boa do ator/diretor/roteirista contribui para aproximar a plateia de Carl Casper, requisito fundamental para o filme não se tornar insuportável até o desfecho.

Mesmo que ocasionalmente encontre momentos de verdade, como em instantes específicos da interação pai e filho e na química entre o protagonista e o personagem de John Leguizamo, Chef jamais chega a ser um filme particularmente engraçado ou emocionante. Na verdade, é como aquela refeição que fazemos em uma dieta: pode até ter um certo valor nutritivo, mas está longe de nos deixar satisfeitos.

Comentários (5)

Lucas Souza | sábado, 30 de Agosto de 2014 - 06:55

Sinto cheiro de lixo...

Matheus Borges | sábado, 30 de Agosto de 2014 - 14:28

Esse Lucas é carinha bastante repetitivo, viu...

A sinopse até me lembra Soul Kitchen, do grande Fatih Akin, mas como nunca vi nada bom desse diretor aí, vou deixar passar.

MARCO ANTONIO ZANLORENSI | segunda-feira, 27 de Outubro de 2014 - 10:00

Vontade zero de ver esse filme (125) mas... eu assisti, uma pena, a historia é boa, um prato cheio digamos assim, poderia ser muito divertido mas não é. Na minha humilde opinião o personagem não sofre nada, sua vida se resolve muito facilmente e suas crises existenciais são quase patéticas.

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