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Críticas

Cineplayers

Com um enredo que emociona e com efeitos de tirar o fôlego, o filme certamente figura entre os melhores de 2004.

8,5

Em Herói, Zhang Yimou demonstrou ter uma sensibilidade única para conduzir imagens belas sem cansar os olhos do espectador, e provou que o casamento sem entraves entre cinema e artes marciais é plenamente possível. Já em O Clã das Adagas Voadoras o diretor volta a impor seu estilo sempre muito lírico, recorrendo a uma trama mais dramática e repleta de sentimentos para humanizar ao máximo o estilo.

O enredo volta-se novamente para as épocas remotas. Durante a dinastia Tang (ano de 859 d.C), a soberania do governo é ameaçada pelo grupo de guerrilheiros do título. Desconfia-se que Mei (Zhang Ziyi), a nova funcionária da casa de prostituição Campo de Peônias - e cega, vale lembrar -, faça parte do clã. Para averiguar o caso, dois policiais iniciam uma investigação. Jin (Takeshi Kaneshiro), jovem e conquistador, finge ser cliente do bordel e solicita a presença de Mei, agarrando-a em seguida, por estar sob efeito do álcool. O outro policial, seu amigo Leo (Andy Lau), aparece para dissolver a confusão e submete Mei a um jogo, numa seqüência estonteante. Desconfiados de que Mei seja mesmo quem acreditam ser, os policiais levam-na presa.

A partir daí, a história toma um rumo inesperado. Jin decide ajudar Mei a escapar, para que ela acabe o conduzindo à sede do clã. Leo o ajuda, mas os soldados do governo desconhecem o plano e insistem em atacá-los. Em dúvidas e constantemente ameaçado, Jin confunde seus sentimentos e se apaixona por Mei. As reviravoltas no enredo não param por aí, porque o clímax surge mesmo quando se revelam todas as verdades acerca do passado do clã e das personagens envolvidas.

A sempre ótima Zhang Ziyi, que recebeu um papel bem secundário em Herói, vira para si mesma todos os holofotes e chama o máximo de atenção. Impecável nas cenas de ação, ela também é responsável pelos melhores momentos românticos e dramáticos, e trabalha sua personagem de maneira simples e despretensiosa, mas de forma encantadora. O sino-japonês Takeshi Kaneshiro no início desperta desconfiança entre os espectadores, mas sua personagem conquista o público em questão de poucos momentos. Andy Lau, um veterano no estilo, recebe um papel predominantemente dramático e quase não aparece. Quando o faz, entretanto, é para se impor.

O Clã das Adagas Voadoras é um filme bem menos ativo que Herói, porque é mais sentimental e dramático, dando maior espaço para o aprofundamento das personagens e da história. Parece, portanto, uma tentativa de redefinir o gênero - e chega muito perto disso. As lutas engenhosas e atordoantes são muitas vezes postas de lado para que sobressaia a história. As personagens não parecem meras figuras, como em muitos filmes do estilo, mas, sim, seres humanos de fato, porque têm sentimentos visíveis e abrem um canal de contato entre si e o espectador.

Mesmo com algumas mudanças, o diretor Zhang Yimou parece não querer abrir mão do inverossímil. Ele existe, ainda que em menor escala em relação a Herói, mas é sempre no absurdo que o diretor deixa espaço para a imaginação e enche os olhos do público. A beleza suntuosa, sempre munida do contraste e da harmonia entre as cores, é o que dá o verdadeiro charme ao filme. Aliás, charme e lirismo não faltam a película: cada movimento e cenário carregam um lirismo acentuado, que é puro deleite visual.

Mais uma vez, a trilha sonora exerce papel fundamental. Compostas por Shigeru Umebayashi, as músicas armam-se de instrumentos exóticos para perfazer a melodia, mas a percussão é menos marcante e deixa a trilha menos extravagante, mas ainda assim carregada de emoção.

O Clã das Adagas Voadoras é, enfim, um orgulho para as artes marciais e um trunfo do cinema chinês. Com um enredo que emociona e com efeitos de tirar o fôlego, o filme certamente figura entre os melhores de 2004. Agora é só torcer para que Zhang Yimou não perca seu lirismo e sua sensibilidade insuperáveis.

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