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Críticas

Cineplayers

Um filme de guerra exageradíssimo, mas com cenas de ação de tirar o fôlego.

6,0

Códigos de Guerra, último filme do cineasta chinês John Woo, especialista em ação, é mais um exercício de estilo do que de desenvolvimento de personagens. O gênero é guerra, e John Woo dispôs de um orçamento super milionário (mais de cenzinho) para gastar com pirotecnia à vontade, e você poder ter certeza que a maior parte do dinheiro foi empregada nesse departamento. É talvez o filme de guerra com mais explosões, mais mortes e mais violência na história do cinema. Mas ao contrário de seu colega de profissão Steven Spielberg, que realizou um trabalho muito mais cuidadoso com os personagens no clássico O Resgate do Soldado Ryan, Woo parece se importar somente com fatores técnicos, o que acaba deixando as cenas fora do campo de batalha bastante desbalanceadas e sem emoção.

O filme se passa durante a Segunda Grande Guerra, quando as tropas norte-americanas estavam tentando encontrar um bom local estratégico numa ilha perto do Japão para formar uma base de ataque. Códigos de Guerra é basicamente uma sucessão de cenas de ação, de ataques de japoneses tentando deter o avanço norte-americano para dentro da ilha, intercalados com um pouco da história de cada um dos personagens principais. No meio disso tudo, Joe Enders, que é interpretado por Nicolas Cage (num papel que combina perfeitamente com o ator), deve proteger o índio Ben Yahzee, que tem em sua cabeça um novo sistema de códigos que o exército está testando durante a guerra, baseada no idioma de seu povo, o Navajo. Enders deve manter marcação cerrada sobre Yahzee a todo custo, pois se o índio for capturado, o novo sistema de códigos corre o risco de ser descoberto pelos japoneses. As batalhas e os fatos gerais mostrados no decorrer do filme foram baseados na realidade, mas Woo aproveitou o orçamento e o bom time de atores para criar personagens talvez um tanto caricatos demais, para poder explorar cenas mais intensas no campo de batalha.

Essa caricatura pode até ajudar nas cenas de ação, mas o fator humano é perdido. O roteiro até se esforça para tentar valorizar o relacionamento entre os diversos soldados do batalhão, criando inclusive algumas histórias paralelas, como o ódio de um soldado pelos índios e a briga interna de Enders com uma tragédia recente que ele vivenciou durante a guerra, por exemplo. Infelizmente, essas histórias são tão mal aproveitadas e tão mal realizadas que você logo sente que estão, como se diz, enchendo lingüiça para tentar dar mais profundidade onde não existe. Woo nem deveria ter tentado, até porque filmes como Tigerland ou Nascido para Matar existem para isso. E como já foi dito, Códigos de Guerra é sobretudo ação, e se tentasse ficar só nela, talvez teria sido melhor sucedido. Qual o motivo, por exemplo, para Enders não gostar de receber cartas de sua família e não querer lê-las? E por que o mesmo personagem, que há semanas atrás enganou o exército para estar em campo de batalha, vai ao chefe do batalhão, aparentemente sem motivos, para pedir dispensa para casa perto do final da batalha? Bem, estes são apenas alguns maus exemplos do roteiro fraco que possui o filme.

Contudo, quando passa para o departamento de ação, John Woo consegue ter mais sucesso do que Spielberg (talvez não apenas se considerarmos a batalha inicial de Ryan, que ainda hoje é magistral). A grande parte das cenas de ação são de tirar o fôlego, sempre filmadas de uma maneira toda peculiar pelo diretor, com muitas rotações de câmera (atenção, isso não tem nada a ver com Matrix, só para deixar claro), aberturas, closes na ação. A câmera não pára, é um trabalho difícil e dinâmico, e a edição do filme também é bastante peculiar para o gênero, exibindo cortes estranhos, muitas vezes mal colocados. Algumas cenas mostram centenas de extras na tela, e parece que ensaiaram muito bem o script. De negativo, há apenas um certo exagero nas ações dos personagens, principalmente do grupo de soldados principais, e nas habilidades de Enders, o que não combina muito com o gênero. Entenda, quando você está encurralado, caído no chão e com apenas uma pistola 9 mm na mão, e vê cinco ou seis soldados inimigos aproximando-se furiosos, não é muito realista acreditar que todos eles seriam mortos sem balas desperdiçadas, tudo de primeira. O filme às vezes também ensaia ser um kung-fu com armas brancas, com certos personagens fazendo uns golpes com faca bem estilizados. Visualmente é bacana, mas fica longe do realismo. Mas se for visto desse ângulo, e apenas dele, Códigos de Guerra pode ser considerado um grande filme.

É também um filme bem pesado, o sangue jorra para todo o lado, as cabeças são decepadas, os corpos vão amontoando-se sem dó (principalmente os japoneses, é lógico), e as pessoas vão perdendo seus membros com naturalidade. Um espetáculo (espetáculo?) visual gritante. Esse exagero não foi perdoado, e Códigos de Guerra deu um prejuízo danado para o estúdio em termos de bilheteria. John Woo recentemente fez os ótimos filmes de ação A Outra Face e Missão: Impossível 2. Certamente seu estilo combinava com tais títulos, mas utilizar ele em toda sua força em um filme de guerra foi um erro por parte do diretor. O roteiro não é horrível, mas chega a ser risível em vários momentos. A tentativa de criar personagens profundos perante tanta pirotecnia é algo engraçado.

No geral, Códigos de Guerra é um filme que é recomendável para os amantes de ação (e quem gosta do diretor certamente é um deles). O filme tem um número um tanto exagerado de batalhas, o que acaba fazendo com que ele seja repetitivo na sua hora final, mas mesmo assim o saldo é positivo. Com efeitos especiais tão convincentes quanto outro mega-exagero do gênero, Pearl Harbor, Códigos de Guerra vai levar os fãs de explosões e sangue (!!!) ao delírio. Além do que este é um tipo clássico de personagem para Nicolas Cage, que já havia trabalhado com o diretor em A Outra Face, onde o personagem tinha o mesmo estilão de seu Enders visto aqui (só que lá ele era uma mistura de vilão com mocinho, e aqui ele é sempre o mocinho). É bom deixar o volume da sua televisão (sim, o filme já está disponível em vídeo e DVD) ligado bem alto, mas cuidado para não assustar os vizinhos. John Woo podia ter feito algo melhor, mas ainda assim vale ser assistido.

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