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Críticas

Cineplayers

De roteiro confuso e não apresentando um pingo de tensão, o próprio filme A Colheita do Mal é a maior das pragas que você pode esperar ver.

4,0

Simplesmente não há como entender o que se passa na cabeça de Hilary Swank. Inegavelmente talentosa, a atriz já levou dois Oscar por suas brilhantes atuações em Meninos Não Choram e Menina de Ouro, credenciais que certamente devem ter aberto as portas para projetos interessantes. Swank, no entanto, continua a usar a influência recém-adquirida para protagonizar exemplos daquilo que o cinema americano tem de pior. Foi assim com o equivocado O Núcleo – Missão ao Centro da Terra e agora com esta bagunça chamada A Colheita do Mal.

Na obra, Swank interpreta Katherine Winter, professora de uma universidade americana que investiga milagres, encontrando explicações científicas para eles. Traumatizada pela morte do marido e da filha e pela conseqüente perda de sua fé, Winter parte para a pequena cidadezinha de Haven para investigar um rio que ficou vermelho, deparando-se com aquilo que parece ser uma reedição das dez pragas do Egito.

Durante os primeiros 45 minutos de projeção, A Colheita do Mal dá amostras de que poderia ser um bom filme. O roteiro de Chad e Carey Hayes é eficiente no estabelecimento do mistério e no desenvolvimento da protagonista, construindo uma base razoavelmente sólida para o que viria a seguir. É uma pena, portanto, que a produção degringole completamente após a investigação dos primeiros mistérios e, talvez até mais especificamente, a partir da inserção dos flashbacks sobre a família de Kate.

Parecendo não ter a menor noção de como dar continuidade à história, os roteiristas e o diretor Stephen Hopkins apelam alguns dos clichês mais óbvios do gênero, como cenas de sonho. Até quando o público será obrigado a assistir a cenas gratuitas e sem sentido que se revelam delírios do protagonista? Além disso, Hopkins também peca ao inserir incontáveis momentos de “susto”, sempre uma forma menor de mascarar problemas como uma história problemática e a falta de um clima de tensão. No caso de A Colheita do Mal, é possível antecipar todos os momentos nos quais este artifício será utilizado pelo diretor (admito, porém, que pulei da cadeira uma vez).

Como se não bastasse, a opção dos cineastas em misturar acontecimentos do passado de Kate com a história “atual” resulta em um caos completo e sem sentido, com cenas fora da lógica da história, criadas apenas para a inserção de novos momentos de susto. O roteiro, eficiente até a metade da trama, simplesmente começa a acumular um absurdo após o outro, como as tentativas forçadas de surpresa. Estas parecem ocorrer ao bel prazer dos roteiristas, sem o menor respeito pela lógica ou por tudo o que havia sido construído pela história até então. Dá até pra pensar que foi uma pegadinha bem bolada, mas estas reviravoltas não se sustentam após uma análise em retrospecto de A Colheita do Mal. Se alguém ainda estiver disposto a pensar sobre o filme após a patética cena final, vai perceber que as perguntas surgem aos borbotões e a grande maioria fica sem resposta. A própria explicação sobre as pragas parece apressada e sem sentido.

Apesar de ter virado fã de Stephen Hopkins cineasta durante a primeira temporada da série 24 Horas, ele sempre foi um diretor operário do cinema americano, com alguns bons trabalhos e outras bombas completas. Aqui, apesar de o roteiro oferecer a maior causa dos problemas, ele não pode ser eximido da culpa pelo desastre. Além do já citado uso dos clichês do gênero, Hopkins cria cenas sem a menor tensão e razão de existir. É o caso, por exemplo, do absurdo “clímax” da trama (sim, entre aspas mesmo), uma apoteose grotesca de efeitos especiais absurdamente desnecessários. O excesso visual cometido por Hopkins é tão fora de propósito que parece que os executivos do estúdio exigiram algumas explosões no filme. Apesar disso, a cena com os gafanhotos é bacana, mas não mete medo algum.

Talvez o ponto mais forte de A Colheita do Mal seja realmente a construção da personagem Kate Winter, ainda que também acabe afundando no lamaçal. Não obstante os já citados problemas do roteiro, há um bem definido conflito interno nela, em relação à sua fé. O fato de ser uma pessoa cética e encontrar-se diante de fatos inexplicáveis rende alguns momentos interessantes, explorados com sutileza por Hilary Swank. A atriz, sempre talentosa, faz o possível e consegue escapar ilesa, mas não salva o filme. David Morrissey (que quase arruinou Instinto Selvagem 2), no entanto, comprova toda a sua suspeitada inexpressividade e Stephen Rea aparece apenas para coletar seu cheque.

A Colheita do Mal oferece algumas boas cenas, como a explicação científica sobre as pragas do Egito e o “Por que não?” dito pela mãe da garota (que desde os trailers já dizia ser a melhor fala do filme), mas é uma verdadeira salada de frutas quando visto como um todo. A partir do momento em que precisa explicar alguma coisa, o roteiro se perde completamente e Hopkins não tem talento suficiente para recolocar o trem de volta aos trilhos. O resultado final é uma obra confusa e sem a menor tensão. Com o perdão do trocadilho, uma verdadeira praga.

Comentários (1)

Cristian Oliveira Bruno | sábado, 23 de Novembro de 2013 - 18:44

[e o “Por que não?” dito pela mãe da garota (que desde os trailers já dizia ser a melhor fala do filme)]
Exato!!
Quem viu o trailer não precisa ver essa besteira toda

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