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Como Treinar o Seu Dragão

(How to Train Your Dragon, 2025)
7,0
Média
4 votos
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Sua nota

Críticas

Cineplayers

Encanta nos visuais, mas perde em emoção

6,0

Quinze anos depois de emocionar plateias com uma das animações mais sensíveis e carismáticas da DreamWorks, Como Treinar o Seu Dragão (How to Train Your Dragon, 2025) retorna com um novo visual e a mesma espinha dorsal narrativa. Agora em live action, o longa revisita o vilarejo viking de Berk com a promessa de um reencontro épico, conduzido novamente por Dean DeBlois — desta vez, assumindo também a tarefa de adaptar sozinho a história baseada nos livros de Cressida Cowell. Mas, ao invés de reinventar, o filme prefere reproduzir, ainda que com um verniz de grandiosidade que nem sempre sustenta o peso das emoções. A coincidência de datas com o lançamento do remake de Lilo & Stitch (Lilo & Stitch, 2002), clássico que DeBlois codirigiu no início dos anos 2000 (sem participar da nova versão), adiciona uma camada curiosa à disputa entre estúdios.

Universal e Disney parecem mirar o mesmo público nostálgico, ainda que o façam por caminhos estéticos diferentes — um apostando na fantasia embebida de realismo, o outro na fofura digitalizada. A trama é essencialmente a mesma. Soluço é um adolescente desajeitado e engenhoso que desafia os costumes da sua aldeia ao poupar e, mais tarde, se aliar a Banguela, um dragão da lendária raça Fúria da Noite. É nesse elo improvável que reside o coração do filme. E, apesar da atualização estética, o laço entre garoto e criatura ainda pulsa com ternura. Em especial nos trechos sem falas, onde o entendimento entre os dois se constrói apenas com gestos, olhares e silêncios — uma ousadia que evoca certo lirismo quase perdido em blockbusters contemporâneos. Entretanto, é justamente no desejo de expandir que o filme perde parte do seu impacto.

Com meia hora a mais que a versão de 2010, a narrativa se estende em explicações e transições que quebram o ritmo e antecipam resoluções. O que antes era direto e tocante, aqui se torna mais protocolar, como se o filme sentisse a necessidade de justificar sua própria existência o tempo inteiro. Visualmente, o projeto impressiona. A fusão entre live action e computação gráfica é fluida, e os dragões — mais realistas, robustos, quase ameaçadores — se integram bem ao universo reimaginado. Há ecos claros de produções como Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros (Jurassic World, 2015) e Game of Thrones (Game of Thrones, 2011-2019), não apenas no design das criaturas, mas na maneira como a ação é coreografada. Banguela, por sua vez, mantém seu perfil mais expressivo e caricatural, o que exige um delicado ajuste na caracterização de Soluço para evitar o estranhamento.

Curiosamente, isso funciona a favor do filme: o mundo construído aqui não tenta ser realista, mas sim coerente dentro da sua própria lógica híbrida. Mais do que uma simples transposição de formato, o longa se esforça para justificar sua existência como espetáculo. As cenas de voo, as batalhas contra dragões e os planos abertos sobre a vila são pensados para encher os olhos. Há momentos que tentam alcançar a mesma comoção estética provocada por Avatar (Avatar, 2009), de James Cameron, onde o deslumbre visual se torna o principal argumento para a experiência. Ainda assim, fica a sensação de que o novo Como Treinar o Seu Dragão se contenta em revisitar um clássico recente sem correr riscos reais. É tecnicamente competente, narrativamente funcional e visualmente arrebatador. Mas falta-lhe a centelha de descoberta, aquele senso de encantamento genuíno que fez o original ser lembrado com tanto carinho. No fim, é um filme que mira o céu com suas asas reluzentes, mas que acaba voando em círculos em vez de desbravar novos horizontes.

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