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Críticas

Cineplayers

Bonito, mas não merecia o prêmio máximo da Academia norte-americana.

7,5

Ganhador do Oscar de melhor filme em 1990, Conduzindo Miss Daisy retrata de forma sensível o início das mudanças sociais na relação entre negros e brancos na época em que o nome de Martin Luther King começava a ganhar força. Para isso, utiliza-se mais da comédia de costumes, de forma simples e por isso sutilmente engraçada, para contar a relação de uma senhora judia branca e seu novo chofer, um negro contratado por seu filho para transportá-la pela cidade.

Muito bem interpretados por Morgan Freeman e Jessica Tandy, agraciada com o Oscar de melhor atriz, os personagens são o filme. Sem o correto desenvolvimento de ambos por parte do roteiro, e sem a minuciosa composição dos atores, Conduzindo Miss Daisy inexistiria. A amizade que, obviamente, se desenha entre eles é a história central, tendo o preconceito étnico como pano de fundo – já que a velha senhora realmente não surge em nenhum momento como alguém preconceituosa, até mesmo em função de seu passado, como faz questão de frisar.

E é por isso que Conduzindo Miss Daisy começa melhor na comédia do que no drama, e a transição total para o segundo gênero, mais ao final, é feita de forma natural pelo diretor Bruce Beresford. Ranzinza, mas de coração enorme, Daisy não pensa igual a seus pares, homes e mulheres da alta sociedade, mas demonstra clara preocupação com o que os outros pensam dela. Quando ainda reluta em aceitar que precisa de um chofer e resolve caminhar sozinha rumo ao supermercado, muda de ideia ao perceber que todos seus vizinhos veriam que ela não está mais motorizada.

Professora de formação, Daisy não aceita estar errada e, mesmo quando percebe que a razão está com seu motorista, prefere apegar-se a outros argumentos para satisfazer seu próprio ego. É assim, por exemplo, na discussão que trava sobre a melhor rota para chegar ao local das compras.

Com muita naturalidade, o roteiro de Alfred Uhry coloca novos elementos na narrativa para mostrar as transformações sociais profundas que os Estados Unidos atravessavam naquela época. Isso é evidente quando Daisy é levada por Hoke para o aniversário de seu tio em outro estado e não permite que ele pare o carro para satisfazer suas necessidades fisiológicas – e quando ela pergunta para o motorista porque não aproveitou a pausa no posto para essa finalidade, a resposta, atualmente, parece impensável: “Negros não podem usar o banheiro de postos, lembra?”.

É sempre com sugestões que Miss Daisy conta seu drama, optando por deixar as situações cômicas mais em evidência, principalmente pelos bons diálogos travados entre os personagens. Mas, o longa também tem seus momentos equivocados. A acusação feita por Daisy em determinado ponto contra seu chofer soa óbvia e o desenrolar da situação é previsível. E essa cena é o momento em que Beresford perde seu estilo contido ao dar um zoom bizarro nas latas da despensa de alimentos apoiado pelo aumento da trilha sonora de notas fortes.

Apesar de tudo isso, o filme conta com uma personagem marcante, que nem em seus momentos de antipatia desagrada ao público. E, por meio dela, é contada uma história sobre afeto, solidariedade e, principalmente, amizade, com um importante pano de fundo.

Comentários (1)

●•● Yves Lacoste ●•● | domingo, 01 de Maio de 2016 - 23:46

O que me deixa surpreso é que já vi por aí muitos considerarem um filme que aborde o racismo com pessoas negras. Só que não vi em nenhum momento isso! O filme aborda na verdade a não aceitação do idoso em depender de alguém para auxiliá-la nas suas atividades comuns do dia-a-dia. Miss Daisy não diminui Hoke por ser negro em instante algum. Se caso ele fosse branco daria no mesmo!!! Engraçado tais opiniões!!

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