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Críticas

Cineplayers

Para uma geração que gosta mais de se “confessar”, um filme travado.

5,0

É um paradoxo. Na série de TV Confissões de Adolescente, que foi ao ar na TV Cultura entre 1994 e 1996, tínhamos quatro irmãs em idades diferentes que representavam cada qual um estágio diferente da adolescência, e sua necessidade de se confessar em seus diários (e para o espectador). Foi um grande sucesso e serviu para promover as carreiras das atrizes principais, em especial Deborah Secco. Agora, na ideia de resgatar esse universo e atualizá-lo para a nova geração, a principal vantagem é o fato de que os jovens de hoje, em geral, mais do que os de outras épocas, têm uma necessidade mor de documentar sua vida pessoal através de redes sociais. Teoricamente, a essência da série seria potencializada em uma atualização, mas Confissões de Adolescente (idem, 2014), o filme, é apenas travado demais.

Ainda temos as quatro irmãs e a trama de uma família em fase de adaptação durante uma crise financeira, mas obviamente muita coisa mudou de lá para cá, embora haja todo um cuidado em manter as características principais das personagens originais, independente dessa contextualização. Dos segredos revelados ao diário, temos agora a exposição pública de parte deles em redes sociais e vlogs, numa época em que manter segredos não é exatamente estar na moda. Ainda há essa preocupação de conectar os personagens diretamente ao espectador por meio de seus desabafos e compartilhamentos, mas a grande questão é que hoje em dia não há mais tanto cuidados com temas antes considerados tabus, como o primeiro beijo, a primeira vez, e agora a aceitação da sexualidade.

Essas questões já não carregam mais consigo todo esse estigma de “tabu”, por isso não despertam grande interesse ou empatia do público, e o conservadorismo da direção evita se aprofundar nos temas (em especial o da homossexualidade de uma das irmãs), dando a impressão de que para os diretores aquilo tudo ainda é um conjunto de assuntos “delicados”, quando na verdade não são novidade nenhuma para a maioria dos jovens. Sobra então essa sensação de filme cafona, ultrapassado, como quando uma pessoa mais velha tenta discorrer de assuntos de interesse jovem, sem noção do quanto está desatualizada.

Se havia uma singeleza bela em ver, na série original, as meninas gastando horas no telefone tagarelando com as amigas e trocando bilhetinhos durante a aula para falar daquele garoto bonitinho que olhou pra ela no recreio, hoje essa ingenuidade já não decola mais. E nessa de trocar os telefonemas e bilhetinhos por mensagens de celular, e o diário pelo blog, Confissões de Adolescente se descaracteriza a ponto de pouco se conectar com o público da série original, e ao mesmo tempo sem a ousadia para se conectar com o público jovem de hoje. As participações das atrizes do elenco da série soam mais como obrigações e Daniel Filho – diretor de ambas as produções – parece não saber o que está fazendo.

Mas justiça seja feita, alguns momentos são bem simpáticos, como quando o grupo canta, ao som de violão, a música Sina, do Djavan, e o elenco geral está bem desenvolto. O desafio não era tão difícil, afinal, os conflitos pelos quais os adolescentes passam são universais, independentes da geração à qual pertencem. Fica clara a ideia de trazer essa mensagem, sobre o quão intensa, rápida e louca é essa época da vida, mas na prática sobra a sensação de um filme perdido em suas ideias e boas intenções, tão amparado por recursos modernosos, mas ao mesmo tempo tão careta.

Comentários (8)

Raphael da Silveira Leite Miguel | terça-feira, 14 de Janeiro de 2014 - 13:06

Lí algumas críticas positivas sobre esse filme, e até que aqui não foi de todo mal, apesar dos defeitos, tem as passagens do final da crítica elogiadas, pode-se considerar um avanço para um filme do tipo \"Malhação\".

Léo Félix | terça-feira, 14 de Janeiro de 2014 - 18:29

Pô, eu vi o filme e não é ruim, não!
Até que é assistível, melhor do que muito filminho nacional dos últimos anos ...

marcelo naddeo cosenza | quarta-feira, 15 de Janeiro de 2014 - 16:33

Eu assisti ontem e eu não estava esperando muita coisa, porém realmente me surpreendi, achei muito bem dirigido, os atores desenvoltos e com um bom humor.
Rodrigo Giulianno e Alexandre Carlos Aguiar, na minha opinião, vocês estão sendo totalmente antiquados e preconceituosos. Este filme, assim como qualquer filme, deve ser considerado como uma forma de arte e deve sim serem feitas e lidas críticas à respeito deles.

César Barzine | sexta-feira, 09 de Dezembro de 2016 - 16:14

Pô, eu vi o filme e não é ruim, não!
Até que é assistível, melhor do que muito filminho nacional dos últimos anos ... [2]

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