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Críticas

Cineplayers

Uma ótima estréia para George Clooney na direção. Uma cinebiografia ágil e muito divertida.

7,0

Uma agradável surpresa a estréia de George Clooney na direção. O ator resolveu estrear contando a história da vida de Chuck Barris (na tela habilmente interpretado por Sam Rockwell, o detento maldoso de À Espera de Um Milagre), um importante produtor de televisão norte-americano nos anos 60, que inventou programas que são copiados até hoje, como "Namoro na TV" e "A Hora do Gongo" (um programa de calouros).
 
O personagem de Chuck é muito bem desenvolvido, graças ao excelente roteiro. É um ótimo personagem, e o filme mostra ele passando por maus bocados até conseguir ter sucesso, além da sua passagem pela CIA. Na realidade, fica difícil saber o quanto do roteiro, escrito pelo mestre Charlie Kaufman, é ficção e o quanto é realidade. A passagem de Chuck pela CIA, por exemplo, não está provada em nenhum lugar. Kaufman já havia confundido – e muito – os espectadores em Quero Ser John Malkovich e, principalmente, em Adaptação, e agora parece que ele quer fazer isso novamente.
 
O filme conta também com um elenco de peso. Parece que Clooney resolveu reunir todo o pessoal de Onze Homens e Um Segredo novamente. Julia Roberts tem um papel importante como agente da CIA, e uma das paixões de Chuck; Brad Pitt e Matt Damon aparecem apenas um segundo (literalmente) cada um, como participantes do "Namoro na TV" (pode-se dizer que foram pontas de luxo – e põe luxo nisso) e, claro, o próprio Clooney tem um papel importante, que é o contratador de Chuck para a CIA. Além deles, Drew Barrymore é a principal paixão do produtor no filme. O envolvimento entre eles (e em geral dele com as mulheres) sempre complexo, e você sempre fica se perguntando onde aquilo vai parar. A interpretação de Barrymore é excelente, como a de todo o elenco, e o diretor George Clooney mostra que sabe tirar talento de seus atores.
 
A história é realmente muito boa, consegue dividir bem seu tempo entre as aventuras de Chuck na CIA e a carreira de produtor na televisão. Contudo, o melhor do filme, sem dúvida, é a sua técnica. George Clooney realmente tentou fazer algo diferente em sua estréia, abrindo mão de quaisquer, na medida do possível, "normalismos" cinematográficos. Chega a lembrar a narração de filmes do Tarantino, principalmente nos elementos envolvendo armas e espiões.
 
Narração em off muito bem empregada, imagens cruas, depoimentos de pessoas reais que fizeram parte da vida real de Chuck para a câmera (à lá Carandiru), e ângulos de câmera e edição muito ousados fazem parte do filme. Algumas tomadas e seqüências do filme são especialmente incríveis (só para citar um exemplo, o momento em que Chuck parece que vai enlouquecer), dá pra notar a energia de todo o elenco nelas. Às vezes há um certo exagero, é verdade, mas deve-se entender que a parte visual do filme é tão boa (até melhor na verdade) quanto a história. A fotografia é outro ponto a se destacar. É bastante carregada, escurecida. Mas combina perfeitamente com o filme. Não creio que uma fotografia limpa e clara se adaptaria tão bem à história quanto essa.
 
O filme, claro, não é perfeito. Em certos momentos ele cai bastante de ritmo, e em outros a sua narrativa se torna redundante, dando a impressão que você acabou de ver algo parecido 10 minutos atrás. Talvez seja também um pouco longo demais, mesmo estando abaixo das duas horas de projeção. Esse, sem dúvida, é o principal defeito de Confissões de Uma Mente Perigosa. O roteiro é realmente bem elaborado (muitas passagens inteligentíssimas – nada demais em se tratando de Kaufman), mas não apresenta uma regularidade e em nenhum momento é extremamente incrível (como o roteiro de Adaptação é durante quase todo o tempo, por exemplo), apesar de algumas cenas, como já foi comentado, serem incríveis – há diferença entre conteúdo e forma de apresentá-lo. A história já é velha: paixões, traições, perigos... Mas, como já foi dito, é realmente um começo muito acima da média para um ator que, já há algum tempo, não está mais conformado em apenas exercer um cargo no mundo do cinema.
 
Confissões de Uma Mente Perigosa é uma ótima recomendação para quem procura um estilo narrativo diferenciado, uma história com momentos de genialidade, mesmo que ainda comum e boas interpretações. O filme está longe de ser uma obra-prima, mas tenho certeza que sua importância, principalmente se Clooney continuar insistindo como diretor, será aumentada com o passar dos anos. É uma surpresa, que merece ser conferida com atenção.

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