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Críticas

Cineplayers

Preocupando-se mais com aspectos técnicos e exagerando nas lágrimas artificiais, o filme é uma das poucas negativas da carreira de Eastwood.

5,0

Apesar de já terem mais do que saturado o mercado com filmes de guerra, não foi com poucas expectativas que fui conferir A Conquista da Honra. Afinal, ninguém menos que Clint Eastwood está atrás das câmeras, e seus dois últimos trabalhos no cinema renderam muito o que falar, sobretudo Menina de Ouro, que venceu o Oscar de Melhor Filme há dois anos. Contando com Steven Spielberg como um dos produtores, eu tinha mais um motivo para crer que estaria diante de uma possível obra-prima. Este é o primeiro de dois filmes sobre a batalha de Iwo Jima, o segundo chegará aos cinemas em breve e é reconhecidamente um filme melhor. Traz o lado japonês de parte da história apresentada aqui.

A Conquista da Honra divide-se em dois blocos que são contados intercaladamente: a batalha em si e a sua repercussão, com a famosa foto dos heróis de Iwo Jima, mais conhecida pela estátua erguida em Washington criada a partir dela. O filme discute as pessoas por trás dessa foto e como a guerra pode ser vencida pela propaganda. O problema é que de forma altamente tendenciosa para os americanos. Embora inicialmente pareça que eles estejam sendo criticados pela criação de falsos heróis (afinal, os verdadeiros combatentes que ergueram a bandeira no alto da montanha morreram em combate, mas pouca gente sabia disso à época), o filme é de um patriotismo exagerado e sem freios. A bandeira americana, claro, é o centro das atenções o tempo todo por ser o elemento principal da foto, e poucas vezes foi mais referenciada (e reverenciada). Em tempos de anti-bushismo e em que o mundo se volta para causas mais importantes, como as causas ambientais, isso é simplesmente desnecessário e sem muito sentido.

Os segmentos que mostram os soldados em turnê pelos Estados Unidos promovendo a foto e arrecadando fundos são extremamente burocráticos e super-sentimentais. Vemos eles abrançando mães que perderam seus filhos, ex-namoradas interesseiras, conflitos de personalidade, enfim, o básico do que se espera de um filme que trate dos efeitos colaterais da guerra em ex-combatentes. Pelo fato de o roteiro ter sido escrito por Paul Haggis (Crash) e William Broyles Jr. (Apollo 13), o excesso de lágrimas artificiais não é estranho. Analisando tudo, o filme peca por ser justamente isso – sempre parecer artificial demais, sem emoções realmente profundas. E em se tratando de um filme de Eastwood, é bastante decepcionante.

Como era previsível, o melhor de tudo é a parte técnica. Embora não haja nada que não tenha sido visto em outros inúmeros filmes de guerra – americanos ou não – a fotografia da obra possui filtros esplendorosos, dando uma impressão que Iwo Jima não somente fica do outro lado do mundo, como em outro planeta. Apesar de ser basicamente um monte de pedras e areia, a ilha é fotografada lindamente, com a ajuda de planos que o Sr. Eastwood tirou da cartola. Não é à toa que foi indicado a melhor diretor (embora no Oscar a indicação seja referente a Cartas de Iwo Jima).

A ação em si é bastante ordinária. Miolos estourados e tiros na cabeça já não são mais novidade há tempos no cinema (já não eram quando Spielberg nos trouxe O Resgate do Soldado Ryan, que tem cenas de ação incrivelmente parecidas com esse aqui) então fica difícil se impressionar com tamanha quantidade de sangue e corpos mutilados. Ainda assim, há um esforço irritante em mostrá-los, insistentemente, ratificando o óbvio – a guerra é feia e suja. Para ganhar mais impacto, o Sr. Eastwood passou um pouco dos limites nesse quesito. Teria sido mais interessante maneirar para ser justamente um diferencial em relação a tantas produções de guerra parecidas.

A Conquista da Honra funciona muito mal como filme anti-guerra – ele a exibe de forma muito sofisticada. Funciona talvez um pouco para mostrar como a política fede – interesses monetários acima da verdade – mas aí não há nada que ninguém não soubesse anteriormente. Como as cenas de batalha são apenas “mais do mesmo”, sobra apenas a ótima parte técnica (conjunto perfeito entre imagens e som), já que mesmo os personagens não são memoráveis. Até Paul Walker aparece no filme, mas ele é tão mal desenvolvido que vai ficar difícil você se lembrar disso um tempo depois da sessão terminar. Bola fora do Sr. Eastwood, um herói verdadeiro, só que do cinema.

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