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Críticas

Cineplayers

A velha história do homem solitário e decadente, com destaque para a atuação de Jeff Bridges.

6,5

Com roteiro amarrado às convenções, a história de Bad Blake (Jeff Bridges), o cantor country e decadente de Coração Louco, já foi filmada algumas vezes e em pelo menos uma delas, a mais recente, um esquecido ator interpreta um boxeador caindo pelas tabelas. É difícil não comparar o projeto deste filme ao de O Lutador, dirigido por Darren Aronofsky. Está quase tudo ali: o homem talentoso, porém esquecido e solitário que é rejeitado pela família e pensa estar diante de uma nova motivação para vida ao cruzar o caminho de uma bela mulher cujo passado de erros não é lá muito diferente do seu. Dois lutadores e seus corações enlouquecidos.

A grande diferença aqui reside justamente no peso das interpretações: enquanto Mickey Rourke tinha a seu favor aquela simpatia que dedicamos aos vencidos, justamente por identificarmos personagem e ator como a mesma persona, Jeff Bridges se apóia em seu grande talento para compor o derrotado músico, equilibrando os deslizes do filme com a mesma destreza que seu personagem descansa o copo de uísque na barriga.

Estreando na direção e já acumulando também a função de roteirista, está Scott Cooper que já começa com pé direito com Coração Louco indicado em três categorias no Oscar 2010 (Melhor Ator, Melhor Atriz Coadjuvante – Maggie Gyllenhaal – e Melhor Canção) e vencedor de dois Globos de Ouro, um para a canção e outro para Jeff Bridges.

Nós chegamos à vida do músico e compositor Bad Blake quando ele sai numa turnê nada glamurosa por espeluncas, barzinhos e boliches de beira de estrada. Entre uma groupie de meia idade e outra garrafa de uísque, ele segue solitário, cruzando o país em sua caminhote velha até esbarrar na jornalista Jean Craddock (Maggie Gyllenhaal).

E aqui vale uma notinha pessoal e engraçada: a chegada de Jean ao quarto de Blake, que tem como motivo uma entrevista marcada às escuras, é um momento esperado e ocorre depois de uns bons vinte minutos de filme, quando já estamos a par da vida do personagem. Na cena ela vem abrindo a porta devagar, e por um momento pensei que veria o rosto de Marisa Tomei. Entrevistadora e entrevistado se envolvem e a cena do primeiro encontro entre eles é bem interessante pois descontrói a imagem do mito Bad Blake mostrando muitas de suas fragilidades. Bridges brilha, largado no sofá com a camisa desabotoada, deixando a barriga de fora enquanto articula um jantar complicado: filé com fritas, um cigarro e mais um copo de uísque.

Blake começa a apostar e vai entrando na vida de Jean e de seu filho, sem deixar de ser ele mesmo. A inspiração vem voltando aos poucos, e dois complicativos da trama entram em cena para perturbar o romance do casal: a menção de um filho que o cantor não vẽ há 24 anos e o retorno de seu ex-parceiro de banda e pupilo, Tommy Sweet (Colin Farrell), que neste momento possui uma carreira em tudo oposta a de Bad: popular, moderno e reconhecido, Tommy parece um canalha, mas logo demonstra suas boas intenções com o velho mestre. A conversa dos dois atrás da caminhonete velha de guerra traz um discurso sincero sobre como se movimenta a industria da música. Aí selemos a parceria com Blake e nos enterramos até às botas em sua vida.

O tom "coração-partido" é anunciado de longe e o clima de redenção que o filme vai tomando do meio pro fim deixa tudo com cara de mais do mesmo, e só as apresentações ao vivo e a inspirada trilha sonora são capazes de nos segurar na cadeira. Destaque para a apresentação da canção Somebody Else em que Jeff Bridges marca mais pontos em sua atuação: além da boa caracterização é ele quem canta as músicas de Blake. Outra cena de destaque mostra o músico na poltrona de sua casa de aspecto abandonado, brincando com o violão enquanto compõe uma canção sobre um homem destruído que não combina com a ambientação tranquila e caseira do amor.

O papel de Maggie Gyllenhaal incomoda um pouco, não por culpa da interpretação, e sim por um roteiro que não ajuda na identificação de seu personagem com a realidade.  A participação e o sotaque caipira de Robert Duvall que interpreta Wayne, o grande amigo de Blake, é a cereja no bolo do filme.

Embalado pelas canções e os riffs da guitarra country de Bad Blake, a história equilibra seus clichês e vai deixar marcado mais um grande papel para Jeff Bridges, the big dude!

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