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Críticas

Cineplayers

Um bom filme para quem gosta de material depressivo e com personagens estranhos.

6,0

Correndo com Tesouras é um trabalho interessante para quem aprecia o cinema de Wes Anderson. O filme é bem parecido com uma das obras mais respeitadas desse diretor, Os Excêntricos Tenenbaums. Fala da problemática família Burroughs, cuja mãe quer ser uma grande poetisa mas só recebe negativas dos jornais para publicar seus trabalhos; o pai não quer mais saber do filho e este cresce confuso e infeliz. Sua mãe acaba se envolvendo com o Dr. Finch, amante das teorias de Freud, excêntrico até não poder mais. Augusten vai morar com os Finch, que são ainda mais malucos que os Burroughs.

O filme é baseado na real vida de Augusten, que escreveu os acontecimentos relatados aqui em um livro. No final do filme, é possível ver uma cena com o Augusten real ao lado do ator Joseph Cross, que o interpretou no filme. O lunático Dr. Finch, que enxerga sinais no seu próprio cocô, é feito com competência por Brian Cox, enquanto a depressiva Deirdre, a mãe, é feita por Annette Bening, em interpretação caótica e um tanto quanto exagerada. Há outros personagens tão estranhos quanto os já citados, e todos eles criam uma atmosfera extremamente depressiva. É um filme de malucos com um clima esquisito que, ao seu final, de forma inexorável, deixa uma sensação de tristeza. Recomenda-se principalmente para quem gosta desse tipo de material e não se importa em se sentir para baixo.

Há uma sensação de exagero no roteiro, que permeia a maioria das cenas. Em determinado momento, há uma montagem que tenta criar um clímax poderoso, pouco depois da metade do filme, com três núcleos distintos, utilizando-se uma música forte e marcante. Uma espécie de Magnólia ou mesmo relembrando o final de Beleza Americana, onde algumas viradas importantes na mente dos personagens acontecem. Há um monte de preciosismo nesse e em outros momentos de Correndo com Tesouras, que torna o filme auto-importante demais e também muito pesado, podendo despertar sensações de incômodo nos espectadores. O diretor quase novato Ryan Murphy pesou mesmo a mão.

Na prática, não é para tanto. O filme é apenas uma visitação às teorias de Freud, tentando explorar a mente de personagens mentalmente insanos. Ou quase isso. Em determinados momentos fica a pergunta: "por que eu deveria me importar com um bando de malucos que só fazem complicar as suas próprias vidas através de teorias bobas e auto-destrutivas?". O filme realmente tem personagens irritantes, para quem está vendo de fora fica fácil determinar que todos os problemas são causados por eles mesmos, com suas mentes vendidas e limitadas. O problema é que não há mentes sãs no filme, e ninguém de responsabilidade que possa dizer-lhes isso. Daí surge a tal sensação de desconforto.

Analisando dessa forma, o filme tem qualidades positivas, pois ele mexe com seus espectadores além do fato de apresentar situações que, tirando o grande exagero, são comuns na vida de muitos de nós. É um retrato da mente limitada dos seres humanos, que se prendem a regras que às vezes são absurdas, criando, como consequência, problemas de relacionamento, financeiros e afetivos. Já como filme Correndo com Tesouras é um trabalho apenas bom. Como foi comentado, o excesso de preciosismo atrapalha, e algumas interpretações são exageradas demais. Enfim, um bom filme para quem gosta desse tipo de material depressivo.

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