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Críticas

Cineplayers

O maravilhoso caso de Benjamin Button.

8,5

De fato existe certo exagero estilístico no visual de O Curioso de Benjamin Button, principalmente na parte fotográfica, entretanto, é um excesso tão mínimo comparado à grandeza da história e seus diversos significados – é possível analisar o filme sob diversos aspectos – que pequenos deslizes em nada comprometem.

Benjamin Button nasce em circunstâncias incomuns. Ele chega ao mundo como um bebê/velho, condenado à morte pelos médicos. Porém, conforme o tempo passa, Benjamin começa a rejuvenescer, iniciando um ciclo contrário ao natural da vida. 

O filme é meticuloso em todos os aspectos, o que o torna uma experiência indispensável tanto pela riqueza de sua história, como pela beleza estética e sonora. Essa meticulosidade talvez seja a responsável pelos poucos e irrelevantes deslizes. O diretor David Fincher mostrou-se genial ao imprimir ao filme um ritmo que mostra já na narração o amadurecimento de seu personagem principal, um processo que acompanha todas as pessoas com o passar do tempo (um dos grandes personagens do filme). No início o filme é cômico, permeado por um clima de inocência semelhante à inocência das crianças ou à inocência dos idosos, impossível saber qual dos dois tipos é mais marcante no bebê/velho Benjamin. 

Com o decorrer da projeção, as constantes gargalhadas da platéia vão dando lugar à tímidas risadas - pontuadas por um ou outro momento mais engraçado – até cair em um clima mais duro e dramático, seguindo justamente o ritmo da vida, com a chegada de responsabilidades mais árduas. Com sacadas simples como essa, Fincher e o brilhante roteiro de Eric Roth vão mostrando toda riqueza de significados do longa, riqueza sutis que dependem de um olhar mais racional sobre a figura de Benjamin, e menos apaixonado. 

A jornada da vida de Benjamin é encantadora. Essa fábula fantástica sobre a história de um bebê que nasce velho conquista o espectador pela realidade conferida a uma história impossível, mas permeada de muita beleza. Em O Curioso Caso... cabe um pouco de tudo. Política e religião são temas abordados. Visitamos alguns episódios da história dos Estados Unidos, sem perder o tom crítico no eterno embate entre progressistas e conservadores – demonstrado na passagem em que um personagem cita a falta de espírito de luta dos liberais. As bases morais de muitos norte-americanos, fundada na crença religiosa, também é abordada quando o pastor consegue o “milagre” de fazer o velho (novo) Benjamin andar, em uma clara crítica ao abuso da fé do povo, por parte de alguns líderes religiosos.  

O tempo é um importante personagem. O filme propõe em diversos momentos questões sobre o que fazemos de nosso tempo, como o aproveitamos ou o desperdiçamos, e o que estamos fazendo de nossas vidas. Todos caminhamos para o mesmo lado, a morte, mas qual o caminho que escolhemos trilhar até chegar lá? Pode-se passar pela vida com destaque, ser alguém de grande importância, para muitos ou para poucos, e pode-se passar pelo mundo sem saber a que veio. A morte é uma constante em O Curioso Caso..., mas o que se preza é o valor dado à vida, e a forma como escolhemos viver.   

Significados não faltam ao filme de Fincher, uma bela jornada poética sobre a vida, o tempo e também o amor. A relação entre Benjamin e Daisy (Cate Blanchett) é construída de maneira muito dura, seca, realista e bela. É um amor que vai muito além da paixão, do desejo e que ao mesmo tempo parece não ser vivida como uma grande intensidade. É uma admiração mútua por motivos diferentes, que levam a um carinho recíproco, mas distintos. 

O Curioso Caso de Benjamin Button deve ser o campeão de indicações ao Oscar. Em categorias como efeitos especiais, maquiagem e som, o filme entra como favorito. E será certamente indicado em categorias como trilha, direção de arte, figurino, roteiro adaptado, direção, filme e atuações. Brad Pitt como ator e Taraji P. Henson (mãe adotiva de Benjamin) são dados como certos, e merecem. Entretanto, pouco se falou sobre a coadjuvante Tilda Swinton, que apresenta uma atuação encantadora nos poucos minutos que aparece em cena. Ela vive a mulher de um espião russo. Merecia mais reconhecimento, pois sua atuação aqui é mais completa do que a vista em Conduta de Risco, filme pelo qual foi escolhida melhor atriz coadjuvante pela Academia de Hollywood.  

Com uma riqueza sem fim, o poético filme de Fincher deve ser visto e revisto, interpretado e reinterpretado, pois, sem dúvida, muito se perde em uma única leitura da obra. Refletir sobre nós mesmos não é tarefa das mais fáceis e prazerosas, mas é, com certeza, uma das mais recompensadoras. O Curioso Caso de Benjamin Button convida a uma reflexão sobre a vida e o tempo, em uma fantasia que coroa a já cultuada carreira de David Fincher.

Comentários (1)

Cristian Oliveira Bruno | segunda-feira, 25 de Novembro de 2013 - 14:38

O filme é bem lento, mas é muito bom. A maquiagem é perfeita e Blanchett dá show!!

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