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Críticas

Cineplayers

Adaptação medíocre da Netflix, mas longe de ser tão ruim quanto têm falado.

6,0
A antecipada adaptação de Death Note produzida pela Netflix estreou no final de agosto gerando grande comoção na internet, onde o filme foi recebido com duras críticas que, de maneira geral, enfatizavam o quanto a nova história diferia da original, tendo se tornado um filme policial adolescente comum. Ambas as observações são verdadeiras, mas a produção parece receber um tratamento bastante injusto ao existir sob a sombra de um anime de sucesso crítico e comercial, produzido há poucos anos atrás.

Light Turner encontra casualmente um caderno capaz de matar qualquer pessoa cujo nome seja escrito em suas folhas. Extremamente inteligente e farto da violência que assola o cotidiano das pessoas, Light resolve usar os poderes do caderno com a ajuda de sua namorada para criar uma espécie de deus onisciente, o Kira, para dar cabo da violência numa escala global. Infelizmente para o jovem, seu pai, dentre todas as pessoas, é o responsável pela investigação do caso Kira na sua cidade, e um perspicaz detetive independente que atende sob o codinome L está bem próximo de descobrir a verdade.

O maior problema de Death Note é que a história parece bastante apressada. Não só o filme provavelmente é curto demais para dar conta da quantidade de acontecimentos que existem dentro dela, como também a própria estrutura do roteiro parece diversas vezes equivocada, suprimindo desenvolvimentos importantes em prol de secundários. A sequência em que Light e Mia arquitetam e dão cabo ao plano de criar a entidade Kira é embalada por um rock melódico de 3 minutos, completamente insuficiente em estabelecer com eficácia o acontecimento mais importante da trama até ali.

Do mesmo modo, a investigação independente de L parece conveniente demais. Ele descobre as coisas com uma facilidade tão impressionante que o espectador é incapaz de não se perguntar duas coisas: primeiro, não estaria a história se apoiando em espécies de deus ex machinas pra resolver seus arcos?, e segundo, se as respostas chegam tão fáceis para L, por que as polícias do mundo não conseguem chegar a elas também?

Por outro lado, o filme vale muito a pena visualmente. Adam Wingard parece capaz de dar conta da variação de tons que a história pede, passando pelo horror, suspense e romance como quem conhece do riscado. A primeira cena de L, em uma boate na cidade de Tóquio, é belíssima, com bons movimentos e uma ritmação de cortes que se integra perfeitamente com a situação narrada (e parece fazer referência a John Wick, um clássico recente da ação). As primeiras cenas de morte são impressionantes, extremamente gráficas e mirabolantes, fazendo clara referência à série Premonição.

Por ser uma história muito falada, o filme poderia facilmente recair no erro de possuir planos e contra planos em close dos personagens falando demais, mas a câmera procura quase sempre enquadrar os personagens a certa distância e se aproximar apenas em momentos chave, contribuindo pro bom ritmo que o filme oferece.

Por fim, uma discussão que aparentemente seria superada nos dias de hoje parece ser cada vez mais necessária, até mesmo para ouvir todos os lados da questão. Pessoalmente, considero absolutamente irrelevante o material original para fins de análise específica dessa adaptação da Netflix. Trata-se obviamente de uma história completamente diferente da produzida pela Madhouse Studio em 2006, que por sua vez se difere bastante (embora muito menos) da história original do mangá. Para propósitos de análise, o ideal seria julgar uma obra sempre pelo universo que ela cria, e não por aspectos que saem desse universo. Se os personagens são mais inteligentes no mangá original (e de fato o são, inclusive muito), isso não deve interferir para a apreciação e análise do filme, que por diversos motivos pode ter deixado de lado a capacidade intelectual dos personagens para se concentrar em outros elementos que gostaria de explorar.

[spoiler a partir daqui]

No filme, por exemplo, Light aparenta ser mais frágil emocionalmente do que no mangá, mas por fim revela-se que tudo era um grande teatro e que o garoto tinha se safado de ser preso pela polícia, após dar cabo a um plano mirabolante que o inocentaria no caso Kira. A ideia trágica por trás disso, porém, é que mesmo após se dar bem na execução de tal plano, Light morreria de qualquer forma, já que L, no filme muito mais emocional do que o original (que é por sua vez uma versão idiossincrática do Sherlock Holmes), escreveu seu nome no Death Note. Ou seja, munidos de boas intenções ou não, na moral do filme, seres humanos são figuras patéticas dançando e flertando perigosamente com a morte o tempo todo.

Comentários (3)

Matheus Gomes | segunda-feira, 04 de Setembro de 2017 - 23:34

Eu realmente não tolero um roteiro que faz um garoto confessar um crime para uma crush que conversou duas vezes com ele na vida. Ruim demais esse filme.

●•● Yves Lacoste ●•● | quinta-feira, 07 de Setembro de 2017 - 04:37

Tbm concordo que está longe de ser essa atrocidade que tão dizendo! Regular vai (possa ser que seja pelo fato de não ter visto o anime, não sei).

Ricardo Amaral Guedes | sábado, 09 de Setembro de 2017 - 13:05

Lucas, ele ser um garoto normal não é o problema, o problema é isso ser retratado de forma rasa, assim como tudo no filme.

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