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Críticas

Cineplayers

As reviravoltas da vida.

7,0

A Delicadeza do Amor (La Délicatesse, 2011) começa como um típico romance, para depois, subitamente, se enveredar para um drama singelo sobre a dor da perda, e logo em seguida se reerguer em uma adorável comédia romântica, para enfim se finalizar em alta carga dramática. É desta forma que finalmente esclarece o motivo pelo qual veio: representar em um pouco mais de uma hora as constantes reviravoltas que a vida nos submete num turbilhão de emoções que passam voando. Neste trabalho dos irmãos David e Stéphane Foenkinos, não há espaços para as convenções dos gêneros pelos quais passeia – tudo parece urgente e intenso demais para passar despercebido, e o que nos resta é acompanhar a jornada de uma pessoa que precisa da cura do tempo para ter suas aflições amenizadas, sendo este mesmo tempo o maior responsável pela sua situação.

Nathalie Kerr (Audrey Tautou) tem a vida que sempre sonhou ao lado de seu marido, François (Pio Marmaï), até o dia em que este vem a falecer em um acidente. A partir de então tudo perde o rumo e Nathalie mergulha de cabeça no trabalho para poder conseguir continuar em frente com sua vida. E sua chance de mudar e superar o trauma surge quando, inexplicavelmente, rouba um beijo de seu colega de trabalho Markus (François Damiens), por quem passa a desenvolver um sentimento de carinho.

Através de seus acontecimentos, a história de A Delicadeza do Amor se permite mergulhar em altos e baixos, sem nunca cair no estereótipo de “filme de superação”, mas aproveitando cada minuto para retratar a mais crua realidade, temperada por um charme e singeleza típicos dos filmes franceses (e realçados pela presença sempre meiga de Audrey Tautou). Antes de tudo, trata-se de um filme que aborda a essência sempre constante naquela ligação indestrutível entre a vida e o passar do tempo. A grande questão é como Nathalie tomará os passos necessários para seguir com sua vida, quanto tempo isso levará para acontecer e, principalmente, quais serão as reviravoltas que o destino lhe guarda durante essa trajetória.

E o mais interessante na narrativa do filme é a maneira como essas mudanças na vida de Nathalie vão ganhando espaço. Como já mencionado, são muitas situações contrárias acontecendo uma atrás da outra (cada qual realçada por um gênero diferente, ora drama, ora romance, ou até mesmo comédia), numa representação da montanha-russa que é a vida. A princípio, o filme carrega consigo uma atmosfera triste ao se focar na dor que corrói a protagonista, sempre em uma abordagem muito simples, baseada em pequenos detalhes que partem o coração de qualquer um. Depois disso há o núcleo que se inicia quando Markus entra na trama e um clima pinta entre os dois, onde ambos acabam encontrando nessa relação uma forma de lidar cada um com sua respectiva situação. E entre tantos altos e baixos, o que prevalece no ar é uma mensagem otimista de incentivo.

Afinal, A Delicadeza do Amor segue a ordem inversa do que estamos acostumados a ver em comédias românticas. Geralmente, neste gênero, tudo começa dinâmico, engraçado e envolvente, para aos poucos se aprofundar em seu lado romântico ou dramático. Mas no caso em questão, tudo começa em um clima sério, de melancolia, para depois ir se adocicando com o seu decorrer. E por optar em seguir este caminho, os irmãos Foenkinos acabam alcançando com êxito sua proposta, de passar para o público uma mensagem otimista, mas não por isso menos realista, de que talvez a próxima reviravolta traga algo de bom; de que, de repente, pode ser que as coisas venham a melhorar.

O grande mérito da produção é abordar temas tão sérios, típicos de um dramalhão, sem jamais soar pesado ou mesmo inverossímil. Tudo ali é retratado com maturidade, nunca apelando para soluções fáceis ou fantasiosas demais (a grande armadilha das comédias românticas), e sempre convencendo e conseguindo atingir em cheio o espectador. Passando por cima de seu próprio estigma de filme de superação, A Delicadeza do Amor se firma como uma verdadeira aula sobre as reviravoltas que a vida nos traz vez por outra, e como é possível lidar com elas sem perder a esperança.

Comentários (6)

Patrick Corrêa | quarta-feira, 30 de Maio de 2012 - 17:51

Parece que vale a pena.
Acho que vou abrir espaço pra ele na minha agenda.

🙂

Heitor Romero | quinta-feira, 31 de Maio de 2012 - 20:24

brigado Marcelo :) O filme vale mto a pena. Eu mesmo esperava bem menos.

Rafael Medeiros | sexta-feira, 15 de Junho de 2012 - 13:20

Noas baixas pra esse filme.

Merecedor tranquilo de um mínimo 9. O único ponto negativo, pra mim, foi a trilha sonora: acerta em poucos, pouquíssimos momentos. E todo mundo sabe o quanto uma trilha bem antenada pode enriquecer uma cena.

De resto beira a perfeição. Os atores dão um espetáculo à parte. Os dois protagonistas estão excepcionais. Tato fez a interpretação da vida dela - aquela cena em que chora no seu sofá é espetacular. Não um choro desesperado, um choro contigo mas que transmite muito mais dor; afinal, não adianta chorar, não há como remediar o que houve.

A simbologia é espetacular, sem ser brega. É uma linha tênue que o longa atravessou com tranquilidade.

Por fim, e o mais importante: não decepcionou quem leu o livro. Havia lido há um bom tempo, e quando fiquei sabendo do filme, fiquei meio cético. Como será que determinadas cenas serão passadas? Será que vão transmitir a comoção do livro? Só o fato de não decepcionar os leitores já dá altos méritos. Incrível.

Landerson DSP | sábado, 08 de Fevereiro de 2014 - 21:07

Será que existe alguma atriz que consiga ser mais fofa que a Audrey Tautou?

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