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Críticas

Cineplayers

Uma história bem contada e com grandes destaques no setor artístico.

8,0

O Despertar de uma Paixão é baseado no romance O Véu Pintado, de Somerset Maugham.  Lançado ano passado nos Estados Unidos, o longa foi lembrado por alguns prêmios norte-americanos, que reconheceram o grande trabalho técnico da produção. Mas The Painted Veil não apresenta apenas qualidades técnicas, é também um ótimo filme. 

Em 1920, Walter, um bacteriologista de classe média, casa-se com Kitty, uma moça de classe alta. Após a união, os dois se mudam para Xangai, na China. Porém, Kitty – que havia se casado sem amar Walter – começa a demonstrar insatisfação com o relacionamento dos dois, e com a personalidade do marido. Ao conhecer Charles Townsend, Kitty acaba se apaixonando, mas a felicidade pelo novo relacionamento dura pouco, pois Walter descobre o adultério. Como forma de se vingar da esposa, ele se muda com Kitty para uma vila chinesa devastada por uma epidemia de cólera, onde ele trabalhará como médico voluntário. Kitty aceita ir junto com o marido a fim de evitar um escândalo proporcionado pelo divórcio e, também, porque não encontrou em Charles o apoio necessário.

No início, a produção demonstra como a felicidade de Kitty com o casamento foi cessando, e como ela já não se sentia completa ao lado do marido. A passagem em que Walter “condena” a esposa a viajar com ele ao centro de uma epidemia mortal acaba tendo grande significado. À princípio, podemos ver o prazer que ele sentia ao levá-la para um lugar onde dificilmente sairia viva. Ele escondeu dela a existência de vacinas, escolheu o caminho mais árduo para a viagem até o local, tudo como forma de punir o comportamento de Kitty. A idéia de ir a um lugar onde provavelmente morreria, assustava Kitty, porém, o tédio do local e o comportamento do marido – ele ignorava a existência dela – fazem com que a idéia da morte passe a ser uma esperança para ela, um momento de redenção. Mas, o mais bonito do filme é perceber como o novo local acabou mostrando, para ambos, com quem realmente estavam casados. Ao sair para ajudar os necessitados da pequena vila, Kitty acaba fazendo com que o marido perca a idéia de que ela é uma mimada, egoísta. Ao mesmo tempo em que ela começa a perceber o lado humano de seu marido. O local deixa de representar a certeza da morte e passa a representar o início de uma nova vida. E é nesse ponto que o filme torna-se uma bela história de amor.

O filme tem cenas bastante significativas. A paixão instantânea que Kitty sente por Charles é perfeitamente compreensível. Enquanto seu marido era um homem de poucas palavras, Charles, durante uma apresentação teatral dos costumes chineses, usou as palavras certas para resumir, brincando de interpretar o que se passava no palco, a vida e os sentimentos de Kitty. Nesse momento, ela percebeu que poderia ter alguém que a entendesse. Assim, o adultério não parece tão condenável aos olhos do espectador.

Naomi Watts começou a participar de O Despertar de uma Paixão logo depois de ter passado oito meses na Austrália, filmando King Kong, e, por isso, estava cansada para rodar um novo longa, mas foi convencida de que deveria fazer parte do projeto. Que bom. Naomi Watts está muito bem, em uma interpretação corretísima, para uma personagem que exige grande dedicação. O mais incrível mesmo é notar como Watts está muito parecida com Nicole Kidman, chegando a dar a impressão, em algumas passagens, de que realmente estamos vendo Kidman na tela. Por falar em semelhanças, Toby Jones é, de fato, incrivelmente parecido com o escritor Truman Capote. O ator interpreta Waddington, comissário representante da ilha na qual Kitty e Walter vão morar. Em Confidencial, filme recente sobre o escritor Truman Capote, Jones havia demonstrado ser um grande intérprete, e nesta produção, ele comprova ser realmente talentoso. Edward Norton, que recentemente esteve em O Ilusionista, também é um bom nome da nova safra de atores, e aparece muito bem no longa. Norton é também produtor do filme. Ele está envolvido no projeto desde 1999, e foi um dos responsáveis por convencer Watts a fazer parte da produção. 

O Despertar de uma Paixão não é apenas uma bela história, dirigida com competência por John Curran, que em 2004 dirigiu Tentação; é também visualmente impecável. O trabalho do diretor de fotografia, Stuart Dryburgh, é muito bonito.  Ele foi o responsável, por exemplo, pela fotografia de O Piano. Um dos aspectos técnicos que mais chama a atenção, além do ótimo trabalho de direção de arte na concepção dos detalhes e na recriação da década de 20 – tanto em Londres quanto no vilarejo chinês – é a grande trilha sonora de Alexandre Desplat, que acabou vencendo, este ano, o Globo de Ouro da categoria. O compositor já fora indicado anteriormente para diversos prêmios por seus trabalhos. Isso ocorreu com sua composição para Moça Com Brinco de Pérola, de 2003. No ano passado, foi nomeado ao Globo de Ouro pela trilha de Syriana – A Indústria do Petróleo. Ainda nos aspectos técnicos, há o competente trabalho de maquiagem e da figurinista Ruth Myers.

O ótimo trabalho nas diversas áreas que compõem um filme faz com que O Despertar de uma Paixão alcance grandes resultados, em uma produção surpreendentemente boa. E se o final do filme deixa uma questão em aberto - a paternidade do filho de Katty – isso pouco importa. A moça não precisa saber quem é o pai, ela acaba escolhendo quem ela prefere que seja. O espectador, por sua vez, fica livre para especular qual dos dois é o pai biológico. A produção mostra o crescimento e amadurecimento de seus personagens, que com personalidades fortes, são figuras extremamente interessantes de serem analisadas e compreendidas. O diretor John Curran demonstra que sabe contar bem uma história.

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