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Críticas

Cineplayers

Funciona como thriller, mas é bem fraquinho como filme político.

6,0

O que mais incomoda em Diamante de Sangue é o tom romântico adotado por seu roteirista Charles Leavitt e por seu diretor, o experiente Edward Zwick (O Último Samurai), na condução de um cenário de denúncia tendo a África como objeto, tipo de produção que vem se tornando freqüente no cinema norte-americano, vide os recentes exemplos de Hotel Ruanda, de Terry George, Tiros em Ruanda, de Michael Caton-Jones, e O Jardineiro Fiel, do brasileiro Fernando Meirelles. 

O foco aqui é Serra Leoa, país dominado por uma sangrenta guerra civil na década passada. A insana busca por diamantes em jazidas recém-descobertas provoca uma violenta onda de crimes contra a liberdade e a individualidade dos cidadãos: pessoas são raptadas de seus vilarejos para trabalharem em regime escravo nos veios, outras tantas são mortas; mulheres e crianças têm como destino campos de refugiados.

Por mais que ressaltem Leonardo DiCaprio como protagonista, a figura central do filme é encarnada não por ele, mas por Djimon Hounsou (de Terra de Sonhos) como Solomon Vandy, nativo que vê a guerra destruir sua família e transformá-lo em um escravo. Sua sorte grande (ou, sob outra ótica, seu maior pesadelo) é encontrar um enorme diamante, que pode ser o agente que trará sua vida – ou parte dela – de volta. Fugitivo do campo de exploração, passa a ser alvo de seus antigos opressores e de um mercenário (DiCaprio), com quem acaba travando um laço de sobrevivência.

‘Diamante de Sangue’ tinha todos os ingredientes para se tornar um grande filme, mas se atrela excessivamente em clichês que o cinema norte-americano não se cansa de repetir e que Edward Zwick já teria experiência o suficiente para evitar. Todo o enfoque de denúncia fica rarefeito com a improvável redenção do anti-herói encarnado por DiCaprio, e com a historinha de amor que surge entre ele e uma jornalista (Jennifer Connelly) em busca de informações para desbaratar o tráfico de pedras preciosas que abastece o mercado mundial. O desfecho dado ao mercenário, com música melodramática e tudo, é o que há de pior no filme. Enquanto isso Hounsou torna-se a figura central do filme, encarnando um pai de família que tenta desesperadamente reaver sua família. Com desempenho comovente em cenas difíceis, ele entrega uma das grandes atuações do ano passado.

É uma pena que o filme ainda se utilize de estratagemas desnecessários que servem apenas para aumentar o teor épico, tão ao gosto do diretor, como a improvável invasão aérea já próxima do final da projeção. A extrapolação da pirotecnia em certas cenas induz a pensar que a busca por públicos diferenciados tornou-se maior que a mensagem. Mensagem esta que é bem exposta em um dos diálogos, quando certo personagem diz que espera que jamais encontrem petróleo em solo africano, e que sintetiza bem o que o filme deveria dizer, mas não diz, e quando tenta acaba soando apenas demagógico e simplista.

Diamante de Sangue acaba funcionando mais no âmbito de thriller de ação do que como filme-denúncia, infelizmente. Tem seus bons momentos, envolve, mas falha nos seus princípios mais nobres, o que realmente é de se lamentar. Está indicado a cinco Oscar: ator (DiCaprio), ator coadjuvante (Hounsou), montagem, edição de som e mixagem de som, mas deverá sair da premiação de mãos vazias.

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