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Dilili em Paris

(Dilili à Paris, 2018)
7,3
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Críticas

Cineplayers

Empoderamento animado

7,0

Em tempos de empoderamento edulcorado (ainda que necessário) em animações como na agora franquia Frozen, poucos ou nenhum exemplar do gênero no entanto talvez façam o que Dilili em Paris está fazendo pelo entendimento precoce de meninas dos seus direitos enquanto cidadãs do mundo. Se você vê na televisão a declaração de uma celebridade negra de que teria sido opressor crescer sem uma referência visual para expandir sua auto estima, consegue facilmente entender a potência e o significado dessa nova obra de Michel Ocelot.

Quem conhece o cineasta da série Kiriku, no entanto, sabe que sua obra passa longe do panfleto e da mensagem oral, como em tese costuma ser a filmografia norte-americana e onde até mesmo a Pixar em particular às vezes escorrega. Ocelot na verdade trabalha na chave da ação, dos acontecimentos físicos e não intelectuais; tudo que seus personagens pensam e sentem, é exposto em cena na forma de elaboração física, através de atos contínuos que tanto definem seus personagens como movimentam sua narrativa. Tudo caminha em conjunto.

Temos em cena na espinha dorsal uma criança africana, a Dilili do título, em busca de conhecer um espaço estranho pra si, mas não apenas. Ela também tem em seu poder uma tentativa válida de difundir seus valores 'estrangeiros', enquanto figura feminina e forasteira, que classicamente é a responsável por trazer os ventos da mudança evolutiva em cena. Com essa alegoria básica à sua protagonista, o filme a posiciona como agente de transformação dos costumes locais. O período da ação ajuda a compreender o contexto e tira o peso do didatismo das situações, porque tudo orbita em outro registro temporal.

A ambientação na França da 'belle epoque' carrega o filme não apenas das referências comportamentais do período histórico para abordar com propriedade a luta por um feminismo que ainda teria seu nome cunhado, como nas deliciosas referências culturais. Embora em determinado momento a projeção passe a abrigar uma expectativa pela próxima 'aparição' (e muitas delas soam um pouco forçadas), não dá pra negar o prazer de acompanhar um produto infanto-juvenil - na superfície - que apresenta a seu público figuras como Monet, Picasso, Sarah Bernhardt, Toulouse-Lautrec, Pasteur, Marie Curie e tantos outros, apresentando às novas gerações personalidades históricas.

A despeito de ter esse foco em uma visitante estrangeira, o filme segue uma proposta de jogar luz sobre a situação feminina de ausência de direitos com propriedade, porém esquece de dar o mesmo peso às questões raciais explícitas em tela, escancarada na pele de Dilili e nos ataques racistas de um dos personagens em direção a ela. Essa fatia do filme é pouco problematizada e chega a perder discussões necessárias, vide os ataques acontecerem por mais de uma vez. Ainda que a heroína não seja discriminada ou sequer diferenciada pela imensa maioria das pessoas com quem encontra, o simples fato de ao menos uma agir com o oposto disso já torna válido o debate.

Com a agilidade de movimentos e a naturalidade dos mesmos já vista anteriormente em filmes de Ocelot, Dilili em Paris ultrapassa o entretenimento de primeira (com ótimas cenas, como a da fuga do triciclo pelas escadarias) para observar uma situação específica ainda pouco representada em obras de audiovisual - principalmente em animações - e reconstruir o orgulho próprio de garotinhas tão especiais quanto sua personagem-título e que nunca se viram no telão, ainda que desprovido do debate formal, que nesse aspecto faz falta.

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