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Críticas

Cineplayers

A flor da meia-idade.

6,0

Um Divã para Dois (Hope Springs, 2012) é um filme que trata, acima de tudo, sobre as consequências do passar do tempo, tanto as positivas quanto as negativas. A história de um casamento de mais de trinta anos que acaba caindo no marasmo é apenas uma deixa para o desenvolvimento de uma ideia bastante interessante sobre algumas passagens que inevitavelmente surgem cedo ou tarde na vida de todos, dentro ou fora de um relacionamento amoroso. A ideia de escalar um casal de atores de peso, Meryl Streep e Tommy Lee Jones, só reforça essa grande brincadeira do filme em discutir com bom humor alguns dos perrengues de envelhecer, tanto como indivíduo como em um casamento.

Kay (Streep) e Arnold Soames (Jones) formam um casal entrando na terceira idade e tendo de enfrentar o peso de anos de rotina acumulados nas costas. O presente de aniversário de casamento é uma entediante renovação na assinatura do pacote de TV a cabo, que agora disponibiliza uma maior variedade de canais para a família. O sexo já está extinto há anos e parece que, por mais que se conheçam melhor do que ninguém, já não existe nada de remotamente empolgante na relação. Por isso, Kay decide investir as economias do casal em uma semana de tratamento psicológico para casais na cidadezinha de Hope Springs, onde iniciarão uma terapia intensiva com o Dr. Bernie Feld (Steve Carell).

A partir de então, surgem diversas tentativas de reascender a velha chama entre o casal, uma mais atrapalhada que a outra. Obviamente, boa parte do charme e da diversão presentes nessas situações está no carisma nato do casal de atores, que mostram uma surpreendente química em cena. Meryl Streep, uma das poucas atrizes que nunca deixaram a peteca cair durante toda sua longa carreira de sucesso, se mostra confortável na pele de Kay, por já estar acostumada a transitar no terreno das comédias românticas inofensivas de Hollywood, enquanto Tommy Lee Jones surpreende a todos com sua sensível atuação. Ao contrário de Meryl, Jones teve uma carreira de altos e baixos, marcada principalmente por papéis de policiais rabugentos e amargurados. Sua atuação excepcional em O Fugitivo (The Fugitive, 1993), que inclusive lhe rendeu um Oscar, acabou de certa forma o condenando a repetir o mesmo personagem vez após vez, como se pode notar em especial na versão feminina do filme de Andrew Davis, Risco Duplo (Double Jeopardy, 1999).

O tempo passou para ambos os atores, e no caso de cada um exerceu um diferente efeito. É por conta disso que Um Divã para Dois acaba chamando tanta atenção. Em um filme onde temos dois personagens tentando lutar e se adaptar às mudanças que o tempo cruelmente impôs, temos dois atores conceituados tentando fazer o mesmo. Nunca é tarde para mudanças e para novas tentativas, e por conta disso temos um Tommy Lee Jones arriscando-se em um trabalho tão fora de sua zona de conforto e uma Meryl Streep lutando para se manter intacta e sempre empenhada em projetos que realcem seu talento e versatilidade. Assim como Kay e Arnold, os dois procuram apenas se adaptar.

O grande acerto de toda a direção de David Frankel, o mesmo de O Diabo Veste Prada (The Devil Wears Prada, 2006), é justamente analisar os dois personagens de maneira individual e mostrar como o tempo os afetou de formas diferentes. A situação do casamento deles é apenas uma consequência disso, o que indica que não acabou o amor ou a paixão entre os dois, eles apenas mudaram em uma etapa da vida onde já não se esperam maiores mudanças. Mais habilidoso na condução das passagens dinâmicas e cômicas e bem menos nos momentos de reflexão, Frankel acaba acertando por saber comandar uma história tão bonitinha e inofensiva sem jogar toda a responsabilidade nas costas de seu elenco. Apesar de Tommy Lee Jones e Meryl Streep estarem ótimos em cena, o mérito de toda a produção é do coletivo esforço de trazer algo que, mesmo clichê até não poder mais, traz consigo algumas verdades inescapáveis sobre esse deus tão misterioso que rege as jornadas com muito humor negro e beleza.

Comentários (5)

Patrick Corrêa | domingo, 26 de Agosto de 2012 - 14:12

Ah, pensei que o Heitor fosse gostar mais...

🙁

Cássio Bruno de Araujo Rocha | quarta-feira, 29 de Agosto de 2012 - 07:00

Não entendo, uma crítica q só fez elogios e a nota é 6? Faltou explicar mais os defeitos do filme...
Eu achei o filme muito bom, por vezes um pouquinho arrastado, oq é totalmente compensado pelas interpretações lindas dos protagonistas...

Marcos Vinicius Bueno | segunda-feira, 03 de Dezembro de 2012 - 21:35

Uma premissa extremamente interessante, que relata o pesar do envecelher como indivíduo e principalmente como um casal, onde aborda a vida sexual (ou a falta dela, no caso) na melhor idade e o desgaste que o tempo pode trazer para uma relação... Com esse elenco, o diretor teve recursos dignos para fazer um excelente filme... mas achei bem vazio, tem uma estrutura fraca que se apoia em momentos constrangedores para fazer rir e em musicas por diversas vezes, para preencher o roteiro mais razo que uma poça... pena

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