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Críticas

Cineplayers

Um retrato realista de vidas nada interessantes.

6,0

Anna Muylaert apresenta seu segundo filme - anteriormente ela havia dirigido Durval Discos - e sacramentando sua vocação para o cinema realista, que não se preocupa em inventar grandes fatos para alavancar a história ou construir um clímax artificial, joga o espectador para dentro da realidade de dois paulistanos de classe média, vizinhos de apartamento, que praticamente assistem a vida passar sem nada fazer para mudar essa realidade. Os seus jeitos, gostos e modo de se portar evidenciam que a vida, para eles, ficou no passado.

Baby, interpretada por Glória Pires - que cada vez mais se firma no cinema -, é uma mulher solteirona, despreocupada com a aparência, diferentemente da tônica que rege a sociedade atual, na qual o visual é cada vez mais importante. Anna Muylaert segue outro caminho e busca estudar a introspecção de seus personagens por meio de seus anseios e suas frustrações. Logo, Baby desenha-se como alguém sem grandes objetivos na vida. Sua percepção de que o cotidiano repetitivo e sem graça pode ser alterado ocorre com a chegada de Max, seu novo vizinho interpretado por Paulo Miklos.

Só assim, com um possível resgate das paixonites juvenis, Baby relembra a graça de estar viva e traça um objetivo para sua vida que, ao mesmo tempo, é um sinal de seu desejo de prolongar a sua passagem pelo mundo: ela decide largar o cigarro. Essa regressão ao passado, com ansiedade evidente para estar bonita e agradar o possível futuro namorado, mostra a monotonia que a vida pode ser para quem espera algo dela sem pensar no futuro.

A diretora Anna Muylaert constrói uma comédia de costumes à moda classe média paulistana com fino toque de humor. O problema, ou talvez ou mérito, é que toda a graça é na verdade a desgraça dos personagens e a comédia pontual sutilmente se transforma em um drama de vidas comuns e sem grandes acontecimentos.

Glória Pires e Paulo Miklos funcionam muito bem e a naturalidade com que vivem situações comuns ao cotidiano tornam mais verossímeis e angustiante a vida deles como casal. É Proibido Fumar é um filme sobre o cotidiano, sobre a vida sem encantos e, para retratar isso, consegue ser real demais. São personagens fracassados, que parecem acostumados e acomodados com esse fato e pouco fazem para mudá-lo. Preferiram unir forças para levar adiante tudo exatamente do jeito que sempre foi, sem grandes acontecimentos, mas tendo um remédio contra a solidão e, acima de tudo, calando-se quando a realidade nada animadora pode ficar ainda pior.

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