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Críticas

Cineplayers

Engenhoso e bem filmado, Efeito Dominó consegue sobrepor-se aos clichês do gênero "assalto".

7,0

Efeito Dominó vem bem a calhar em uma época onde os cinemas estão lotados com filmes descerebrados – o tal do verão norte-americano que acaba influenciando (geralmente de forma negativa) a vida dos cinéfilos ao redor do mundo todo. Não que este filme inglês dirigido por Roger Donaldson (o mesmo do excepcional Desafiando os Limites) seja especialmente bom, mas o diretor australiano entregou um filme de assalto de primeira categoria, lotado de suspense e de cenas bastante engenhosas. O que é melhor: parcialmente baseado em fatos reais, o que garante certa veracidade a tudo o que aparece em tela.

Antes, porém, somos apresentados a velhos clichês do sub-gênero heist (filme de assalto): desde o grupo que se reúne para planejar o assalto até as esperadas traições de alguns personagens. Esse é apenas o primeiro ato. Depois a história fica extremamente intrincada, mas felizmente o roteiro de Dick Clement e Ian La Frenais (Across the Universe) é bastante eficaz em conseguir mostrar por volta de uma dúzia de personagens sem invencionismos narrativos, garantindo a acessibilidade de um trabalho popular com a classe do cinema requintado – algo não tão fácil de atingir. Aqui e ali o filme parece aderir ao estilo “Guy Ritchie” de ser, com muita coisa acontecendo paralelamente entre quase todos os personagens, mas o resultado final é agradavelmente divertido e bom de se acompanhar.

O elenco encabeçado por Jason Statham em mais um filme que parece que foi escrito para ele – um personagem bastante físico, mas não burro – consegue ser homogêneo o suficiente para que bandidos e mocinhos (embora essa distinção nunca exista dentro do filme) fujam da caricatura e tenham coisas interessantes a dizer e ações plausíveis a executar. O que ajuda também é o ritmo imposto dor Donaldson, sabendo soltar novas informações em momentos corretos, garantindo que o interesse do espectador seja novamente despertado de tempos em tempos. Misturando humor discreto e agradável com cenas fortes de violência e morte (que felizmente não são de mau gosto), o tom do filme foi também muito bem definido, ajudado por uma trilha sonora que marca presença e traz um tom de urgência a cenas importantes.

Há o dilema moral típico desse sub-gênero: o endeusamento da criminalidade. Os personagens são tratados como heróis e alguns deles terão um final feliz, algo que se existisse justiça no mundo, nunca deveria acontecer. Nesse sentido, é melhor observar o filme como produto de entretenimento apenas, pois para cada personagem que se deu bem, há um que se deu muito mal – porém o filme faz questão de destacar os vitoriosos para o bel prazer de seu público. Obviamente isso não é nada novo, e já vem dos primórdios do cinema.

O filme comete seus pecados quando apela para situações comuns de seu gênero (mas que, por outro lado, são quase impossíveis de serem evitadas por serem naturalmente presentes em atos tais como um assalto a banco) e usa de clichês oportunistas para levar cenas de ação adiante (onde o quociente de inteligência do roteiro cai um pouco). Mas são problemas menores em um filme muito bom e divertido, filmado com competência e sem arrogâncias técnicas (embora estas às vezes são bem-vindas quando nos enchem os olhos). Um trabalho cinematográfico recomendadíssimo (embora, como foi dito lá no começo, não seja especialmente bom), principalmente para fugir dos cansativos arrasa-quarteirões e filmes de ação de super-heróis que não páram de infestar as vidas dos cinéfilos.

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