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Críticas

Cineplayers

A milésima comédia fraca de Hollywood do ano.

4,0

Em Pé de Guerra (Mr. Woodcock, no original) chega ao Brasil em DVD sem razão para comemoração alguma. Motivo óbvio: a comédia é fraquíssima. Requentando idéias já desgastadas, o filme traz Billy Bob Thornton e Seann William Scott em um embate para ver quem consegue a maior atenção de Susan Sarandon, cuja personagem é a namorada de Jasper (Billy Bob) e a mãe de John (Seann William). Tudo com o clima aconchegante de cidadezinha do interior dos Estados Unidos, com direito até a um desfile na avenida central celebrando uma tal de festa do milho, e com muitos caipiras orgulhosos.

Não é lá muita coisa para justificar a existência de um filme. John era um gordinho que vivia sendo humilhado pelo seu treinador na escola e que, longe de sua cidade natal, escreveu um livro de auto-ajuda sobre como se livrar do passado. Treze anos depois, retornando para lá, depara-se com seu pior pesadelo, pois o treinador que ele detestava agora é namorado de sua mãe. Os dois agora têm que conviver juntos, e essa é a grande piada do filme. Lembra o recente A Família da Noiva: o pai dela investiga o garoto atrás de sujeiras para impedir o casamento. Aqui, o garoto investiga o treinador para fazer com que a sua mãe se separe dele. Tudo conforme um script bem ensaiado e bonitinho, mas absolutamente previsível e cansativo.

O grande momento de Seann William Scott foi como coadjuvante em American Pie. Desde lá, o jovem ator vem tentando se estabelecer no primeiro escalão de Hollywood, mas fica evidente que ele ainda não tem capacidade de liderar um filme sozinho, ou mesmo de dividir um papel com outro ator mais experiente, como é o caso aqui. Ele tem sim alguns trejeitos engraçados, e algumas piadas ganham um pouco de força com suas expressões, mas é muito pouco. Já Billy Bob repete as expressões mal-humoradas do ótimo Papai Noel às Avessas, mas os textos desse Em Pé de Guerra não chegam nem perto da acidez desse outro, fazendo com que a sua interpretação aqui seja quase burocrática, ou como um caça-níqueis para encher um pouco os cofrinhos do ator.

Do diretor Craig Gillespie temos o muito mais interessante Lars and the Real Girl, ainda inédito no Brasil, comercialmente falando. Para ser sincero, parece um diretor totalmente diferente que está dirigindo Em Pé de Guerra. Creio que a natureza muito mais comercial deste filme aqui tenha limitado um pouco a capacidade do diretor em realizar algo mais ousado. É importante, também, que não sejamos precipitados: mesmo Lars and the Real Girl não é um grande filme (até porque é o primeiro do diretor). Aqui Gillespie fez um serviço totalmente ordinário e não existe nada em particular que se possa destacar.

O melhor acerto do filme é tratar, ainda que superficialmente, dos bullies nas escolas norte-americanas (acho que não há um termo no português para isso, talvez “valentões”). É um assunto cada vez mais atual, pois o número de tiroteios em escolas causados indiretamente por vítimas dessas pragas vem crescendo a cada ano. São pessoas de auto-estima baixíssima que sofrem na mão de outros alunos (aqui, no caso, o treinador) e vêm desabafar depois com uma arma escondida na mochila. Mas não se engane, o filme apenas arranha esse tópico, e apenas com objetivos cômicos. A análise está nas entrelinhas e vai passar batida para a maioria dos espectadores. De qualquer forma, a obra em si é medíocre e apenas um pouco divertida, o que quer dizer: tudo bem se esses espectadores passarem batidos não só por essa análise, mas também pelo filme todo.

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