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Críticas

Cineplayers

Sarah Polley e seu lirismo.

8,5

Sarah Polley tem a rara habilidade de imprimir um lirismo tocante nos diálogos de seus filmes. Foi assim quando escreveu e dirigiu o belíssimo Longe Dela (Away From Her, 2006) e é isso que em escala menor acontece em Entre o Amor e a Paixão (Take This Waltz, 2012). Se a tradução para português boicota a linda música cujo nome serve de título original do longa, ao mesmo tempo resume perfeitamente o que se passa com Margot, interpretada por uma ótima Michelle Williams.  

Antes de qualquer coisa, parênteses. Há tempos não me emocionava genuinamente com um romance. De volta. É tarefa praticamente impossível não se identificar com ao menos um dos três personagens centrais e, a partir daí, compartilhar de seus sentimentos – principalmente as dores e os desejos. Sem fantasias, Polley escancara a realidade do que são os relacionamentos e os sentimentos que não podem – e talvez nem devam – ser controlados. Margot está completamente dividida entre o amor verdadeiro que sente por seu marido Lou (Seth Rogan) após cinco anos de casamento e a paixão crescente pelo até então desconhecido vizinho Daniel (Luke Kirby).   

Com o segundo, vê reacender o fogo há tempo apagado com a rotina da vida a dois. Entretanto, o amor pelo marido não morreu. É assim que Margot sente-se completamente dividida e confusa. Um sentimento não anula o outro, mas como não se entregar à deliciosa sensação de descobrir alguém - e se redescobrir - apenas para não abrir mão da segurança com outra pessoa? Ou então, será que isso vale a pena? Não é somente algo fugaz e passageiro que depois gerará arrependimento? Polley não poupa seus personagens. Nenhum. Todos experimentarão o sabor da vida, nessa mistura de momentos doces e amargos. 

E é desenvolvendo essas questões e buscando respondê-las sem imposições de certo e errado que a diretora de forma madura emociona. Sem pieguices, assim como em Longe Dela, mas de forma menos frequente, provoca lágrima nos olhos dos espectadores sem que esses se entreguem ao choro alienante. É uma pequena poesia presente tanto em diálogos, principalmente quando o filme chega ao terceiro ato, quando do encontro perfeito entre música e imagens, com o ápice sendo a belíssima cena no interior de um apartamento no qual a câmara rodopia ao som de Take This Waltz, algo como pegue esta valsa, justamente como se estivesse bailando para celebrar um casamento.

Outra preocupação de Polley é ser realista. Nada de truques dramáticos. Os personagens são verdadeiros e ninguém é vilanizado por seus comportamentos. Não se torce por um ou outro, apenas para que aquelas pessoas encontrem a felicidade juntas ou separadas. E por isso toda a dúvida de Margot é tão tocante. Confusa, ela está sempre disposta a se entregar, mas parece muito mais conflitada em função do sentimento existente pelo marido do que por uma questão moral/social (fidelidade).

Aliás, a queda dessa moral de modelo comportamental de relações é metaforizada por Polley ao, no início, durante viagem de trabalho de Margot a uma cidade turística, mostrar a encenação histórica de um homem condenado, séculos atrás, a açoitamento público por trair a esposa. Mais tarde, na cena de Take This Waltz, novas possibilidades são mostradas para escancarar outra questão importante para a diretora/roteirista: amor é uma coisa, paixão outra e sexo é ainda outra. É possível juntá-los, mas é possível separá-los. Sentimentos díspares coexistem.

E desenvolvendo cada vez mais a personagem de Michelle Williams, Entre o Amor e a Paixão segue para o seu final, que culmina em uma cena nada dúbia que parece dizer ao espectador “desculpa, mas isso é a vida”. Diferente do que talvez acreditasse o marido escritor de livros gastronômicos de Margot, não existe uma receita. Apenas a possibilidade de experimentar as várias fórmulas. 

Comentários (8)

Sylvia Lopes | terça-feira, 11 de Dezembro de 2012 - 11:55

Paco, fique com os 2 pés atrás mesmo. O ogro simpático Seth Rogen é mesmo um ator de expressão única. Em todas as cenas está igual;
Ricardo, não tenha nenhuma fé. A não ser de tirar um bom cochilo. O filme é péssimo e monótono ao extremo.

Patrick Corrêa | terça-feira, 11 de Dezembro de 2012 - 13:15

Odiei o título em português. Vou conferir hoje e espero gostar muito.

Patrick Corrêa | quarta-feira, 12 de Dezembro de 2012 - 11:38

A trilha é maravilhosa e Michelle Williams está sensacional mais uma vez.
Como é bom vê-la no cinema... 😎

Jonas | quinta-feira, 10 de Janeiro de 2013 - 13:57

O filme é excelente e a crítica traduz muito bem o que o espectador sente, se for permitido pelo mesmo...

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