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Críticas

Cineplayers

Radiografia da depressão a partir da perda.

8,0

Filme bom nunca é demais, principalmente no nosso cinema. Por isso foi difícil esperar tanto pela nova produção de Phillipe Barcinski, cineasta que chegou as longas pela porta da frente com Não por Acaso (2007), protagonizado por Rodrigo Santoro e Leonardo Medeiros há 7 anos. Oriundo da publicidade, Barcinski utilizou o que de melhor a área teria pra construir uma mesma história observada e narrada por dois homens, com duas perspectivas diferentes, onde um acidente de trânsito os unia. Barcinski volta a brincar nessa seara, dessa vez ousando mais: uma mesma história narrada pelo mesmo homem, em dois momentos diferentes da sua vida.

Ângelo Antônio talvez nunca tenha estado tão bem como nessa crônica da depressão, separada em dois tempos por uma montagem habilidosa. Na verdade, o filme volta a demonstrar o talento do seu autor como diretor, mas também como roteirista, criando uma semi-parábola moderna sobre o lixo, enquanto dejeto e enquanto sinônimo de renovação, representando a morte de algo, assim como seu renascimento.

A narrativa é partida. Em uma metade, Vicente é um pai de família apaixonado pelo seu filho, engenheiro responsável pela idealização de aterros sanitários; na outra, um homem sem nome que vaga sem rumo por lixões, em busca de emprego, comida, em busca de nada, em busca do que for. Montados intercalando as duas narrativas, sabemos que esses dois momentos não apenas vão se cruzar, como um deve transformar o outro, e mesmo tendo base na lei das ações e reações, as situações se alimentam.

Barcinski precisa agora de uma melhor de três. Mesmo não repetindo o brilho da estreia, esse novo filme consegue escapar da monotonia momentânea graças à fotografia do mago Walter Carvalho e ao trabalho furioso de Ângelo, perfeito nas duas leituras de uma vida fracionada. Agindo mais uma vez também como roteirista, Barcinski construiu uma história requintada e fluida apesar de tudo, partindo da regra de que todo lixo pode ser reciclado. Menos o orgânico.

Comentários (4)

Vítor Miranda | sexta-feira, 09 de Maio de 2014 - 00:40

Ótimo filme, tive o prazer de assistir na pré-estréia com o diretor e o ator angelo antonio, bati um papo com ele no boquetel depois do filme elogiando a atuação.
Mesmo sendo um pouco previsivel em certa altura, o tom pesado e dramático fazem o filme funcionar, além das belas imagens.

Vítor Miranda | sexta-feira, 09 de Maio de 2014 - 13:09

apelidação carinhosa para \"coquetel\" 😋

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