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Críticas

Cineplayers

A espetacularização do espetáculo.

4,0
Na ânsia de esperar sempre a próxima "última bolacha do pacote", a crítica e os fãs do cinemão blockbuster americano nem se importam mais se o produto anterior (que no máximo é de um mês atrás) era fora de série ou um fiasco. O barato do lance é esperar: pelo anúncio do projeto, pela apresentação de um nome na Comic-Con, pelo início das filmagens, pelas reclamações prévias dos estúdios, pelo primeiro trailer... Isso tudo num processo que demora cada vez mais a chegar no consumidor final. Exemplo: a oscarizada Brie Larson acabou de participar da feira nerd a ser anunciada como a Capitã Marvel, num filme que estará no seu cinema mais próximo... Em 2019! Daqui a três anos! Você tem noção de quantos filmes serão vistos, por um cinéfilo-rato, até a estreia desse longa? Não menos que 1000. A espetaculização chegou ao ápice (mentira, óbvio, podemos e iremos avançar muito ainda por aí) em 2016, onde Deadpool foi amado e esquecido em um mês, Batman vs Superman idem, e Guerra Civil, e X-Men... Isso porque pulei os que não receberam nenhum amor. Esses ao menos tiveram seus fãs.

E a tratar pelas primeiras críticas saídas dois dias antes da estreia mundial, Esquadrão Suicida será esquecido antes da estreia de Doutor Estranho, em novembro. O quão disso é positivo ou negativo? Igual partes de uma coisa e de outra, podemos dizer... Mas praticamente nada disso tem a ver com a produção dirigida por David Ayer, acredito. A massa está sedenta por novidade, e a imprensa idem; os 15 minutos de fama decretados por Andy Warhol estão sendo distribuídos num número cada vez maior de pessoas e coisas. E filmes. Não existe um fim de semana onde não estreie no mundo um arrasa quarteirão arrasador... E quando não há um, eles inventam (casos esdrúxulos como os de Truque de Mestre 2 ou A Chefa, tão nada que nem vai estrear por aqui), filmes com potencial mediano inflados pela necessidade de novidade extrema. E esse Esquadrão é mais uma página dessa enciclopédia sem prazo para terminar; não se preocupe, ninguém está cansado. Nem o nerd que irá ver, nem muitos leitores, muito menos os executivos que só pensam em grana e que adaptarão até o inadaptável na sanha eterna por mais dinheiro. O lance é haver honestidade: pessoas que só querem dinheiro + público que só quer divertir = filmes pra passar o tempo. Se você não exigir além, a felicidade será geral.

E onde Esquadrão entra nessa matemática? Entra nessa exata categoria acima; sim, era uma. Se você não entrar na sala de exibição esperando uma adaptação de HQ nível Batman: O Cavaleiro das Trevas nem um produto de primeira grandeza nível Gravidade, além de deixar passar uns diálogos tensos, o cérebro poderá ser desativado a contento e a diversão poderá ser maior. Confesso (e vocês sabem): adaptações de HQs não são necessariamente meu gênero preferido de cinema. Mas isso não me impediu de curtir e classificar como produções muito acima da média a trilogia do Nolan para o Homem Morcego ou a trilogia Marvel do Capitão América, entre várias outras (inclusive o próprio Deadpool); excelente cinema é excelente cinema e pode nascer em qualquer lugar. Mas Esquadrão, e isso é de conhecimento generalizado, passou por diversos processos inclusive de refilmagens esse ano, o que já anunciava uns desacertos de produção. Nos boatos, o sucesso da galhofa de Ryan Reynolds e a "decepção" (com 300 aspas) com bilheteria de BvS teriam feito a Warner/DC correr atrás de uma suavizada no material. Pois bem, tudo que é suave no filme é acerto.

O filme tem um protagonista que funciona como líder do time, o Pistoleiro de Will Smith. Com zero culpa do astro, o roteiro simplesmente transforma suas situações particulares em produto semi-Televisa, com uma filha lacrimosa, uma ex-mulher, promessas paternas e muito choro e vela: em resumo, um saco. Não funciona a estratégia de dar mais peso a uns personagens (Pistoleiro, Harley Quinn e Amanda Wade) e praticamente nenhum a todos os outros, que se apresentam como chamadas-relâmpago e não passam disso, enquanto criações unitárias. Outro aspecto que não funciona no universo cinematográfico é o fato de que nenhum desses caras foi apresentado em nenhum filme anterior de seus respectivos heróis. Como apresentados como super vilões, no fim das contas fica a impressão é de que eram uns bundões de terceira categoria, já que nunca tinham tido foco em produções anteriores. Enfim, um "probleminha pequeno" perto de diálogos do tipo "não vou abandonar vocês, meus amigos", "somos uma equipe, temos que nos unir", "papai, eu acredito em você" e por aí vai.

Mas o filme tem qualidades também, e as principais delas se concentram em Viola Davis e Margot Robbie. A primeira é uma monstra, óbvio que tirou de letra uma personagem dúbia, cheia de camadas e que revela novas até na cena extra; uma atriz excepcional que encontra uma personagem a altura, um dos grandes acertos do roteiro. O outro atende pelo nome de Harley Quinn, vivida com fúria e intensidade por Robbie. Alguns poderão até acusar Margot de estar em terreno seguro, porque essa persona atrevida e escancarada é uma constante na sua curta carreira, mas ela transforma suas aparições em momentos de muita expectativa já a partir da terceira cena; ficamos esperando uma nova aparição, novos risos, nova lufada de frescor na trama. Igualmente bem (embora pouco aproveitado) está Jai Courteney, com tiradas igualmente engraçadas.

Aliás, é isso, Esquadrão Suicida funciona muito bem junto, como uma equipe. Vale a pena maior parte das vezes acompanhar aquele grupo de vilões e suas tentativas frustradas de não pertencer a lugar e coisa alguma. Fisgados por uma súbita união, resta a eles se ajudar e conviver. E combater o grande mal do filme, um dos piores vilões da história de uma adaptação de HQ? Sim, e talvez esse seja o grande defeito do filme - que também inclui uma montagem truncada e estranha, que não funciona o tempo inteiro; na verdade o filme nem é muito marcante tecnicamente, tirando o figurino. Quando somos apresentados a sua trama, aos motivos que os ligam por duas horas de duração e à atuação terrível de Cara Delevigne, o sentimento de frustração é imenso. Misto de personagens saído de Caça-Fantasmas e de A Múmia, o ridículo nemesis do filme não faz sentido, não convence, não interessa e provoca muito cansaço. Só nos resta torcer para Esquadrão Suicida fazer muito sucesso para que o próximo volume mantenha o que deu certo e consiga exterminar essa grande quantidade de erros. Ou não?

PS: notaram que não falei de Jared Leto? Pois é, ele nem precisava estar no filme. Não faz conexão com a trama, não tem vida própria, não interage com qualquer outro personagem que não a Harley Quinn e se tem 20 minutos de tempo de tela, é muito. Se Leto está bom ou ruim? Olha, fui indiferente. Tanto que esqueci de enfiá-lo no texto inicialmente. Vendo Esquadrão Suicida vocês entenderão que poderia acontecer o mesmo no filme.

Comentários (6)

Matheus Bezerra de Lima | quinta-feira, 18 de Agosto de 2016 - 20:46

Deadpool e Guerra Civil são muito lembrados e sempre serão pela maioria dos fãs de filmes de super-heróis. Já os outros, concordo.

Alexandre Koball | sexta-feira, 19 de Agosto de 2016 - 07:22

Parece que será um daqueles filmes que terá recebido mais atenção antes do lançamento do que depois. Ou seja, jogou todo seu hype fora ao construir um "nada".

nelson rios dias | quinta-feira, 26 de Outubro de 2017 - 09:22

Enrolou tanto pra falar do filme em si que parei de ler

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