Debruçado por toda a carreira no estudo antropológico através de instituições ou pela intimidade do cotidiano de locais referenciais para a sociedade americana, Frederick Wiseman repete a fórmula em Ex Libris: Biblioteca Pública de Nova York. Em especial na década de 2010, seus filmes têm intensificado este olhar apto a criar diversas camadas como escoamento para a necessidade de um pensamento sobre o contracampo como em National Gallery e Em Berkeley. 

Em seus 197 minutos, Ex Libris: Biblioteca Pública de Nova York exibe a relação com a arte, da preservação à recuperação. Por outro lado, exibe a necessidade de levantamento de fundos e todos os rituais para que isto realmente aconteça. Há também a necessidade da instituição acompanhar o desenvolvimento tecnológico, dando à biblioteca um perfil contrário ao pensamento mundano sobre instituições como essa.

 

Mas a câmera de Wiseman está apontada para outros lugares e ações; nos debates (com ótimas falas de Elvis Costello e Patti Smith), nas atividades para crianças, nas aulas de braile, nas discussões sobre livros e nos pequenos e singelos momentos em que Wiseman usa como contraponto os longos e estáticos planos de observação, geralmente com pessoas usando notebooks, tablets ou voltando à função básica deste local: a leitura.

A Biblioteca Pública de Nova York reserva espaço para shows, debates políticos e performances também. Um amplo espaço para intensificar a força da palavra – lida, dita ou escutada – como maneira ideal de se ver e compreender o mundo. E dessa maneira Wiseman faz um filme muito forte sobre reflexos; da sociedade, do homem, arte, política e principalmente como fazer este projeto ser realmente democrático – a verdadeira utopia dentro de uma sociedade capitalista.

Desta maneira, Wiseman mostra esta instituição – ainda que exista toda uma fórmula burocrática para mantê-la – como um grande ato de resistência, aberto a todos, disponível e apta a oferecer cultura a seus frequentadores de acordo com suas necessidades e possibilidades para o crescimento intelectual de cada visitante.