Saltar para o conteúdo

Críticas

Cineplayers

À procura do espaço.

6,5
Exodus - De Onde Eu Vim Não Existe Mais não explora um espaço em específico, mas o significado que as pessoas dão ao mesmo. Segundo longa-metragem de documentário dirigido pelo tradicionalmente produtor Hank Levine (que tem no currículo a produção de marcos recentes como Cidade de Deus, Lixo Extraordinário e Praia do Futuro), após Ginga e Abandonados, persegue um tema um tanto espinhoso para a comunidade mundial nos dias de hoje: os refugiados dos grandes conflitos armados, as memórias que carregam de outros tempos, a convivência nos campos de refugiados, a imigração para outros espaços estranhos a eles.

Nisso, vemos tantos momentos curiosos - como a refugiada Napuli, sul-sudanesa que foi para a Alemanha e se casou com um nativo, e em meio a manifestações ativistas pelo direito dos refugiados descobrem um ao outro em discussões particulares de cunho político, passeios românticos e celebrações - e outros mais perturbadores, como é o caso de Mahka, em Mianmar, que atravessa uma zona de guerra para visitar a casa que teve que abandonar. 

Em meio a tudo isso, os arcos dos personagens são pontuados por poéticas narrações de Wagner Moura, refletindo sobre o tempo que essas pessoas têm de passar fora do próprio espaço em nome da sobrevivência. É o caso de Bruno, do Togo, que passou nove anos em campos de refugiado e agora, com a vida mais estabilizada, trabalha prestando assistência a novos refugiados. Encarnação viva dessas narrações em off que, se por vezes amplificam fatos específicos e concretos em sensações lúdicas e subjetivas, também frequentemente correm o risco de cair em repetição e redundância. 

Como o típico documentário talking head que tem por missão ser uma denúncia a crises de direitos humanos (essa, especialmente, evoluindo em uma velocidade assustadora e incontrolável), Exodus é carregado de informações textuais invadindo a tela o tempo todo, enquanto os entrevistados resumem suas vidas e dão sua opinião sobre suas situações. De cunho observacional mesmo, há pouca coisa aqui, como por exemplo os sírios que vêm para São Paulo na esperança de conseguir emprego, juntar dinheiro e reunir a família ou as mulheres em um campo de refugiados que apedrejam e maldizem os soldados que guardam a fronteira. 

Mas tais momentos ora inacreditáveis ora tristemente cotidianos somem no todo de um filme esquemático, que acaba revelando-se bastante comum no final das contas, mais analisando consequências e valorizando as descrições dos depoimentos que exibindo cenas que choquem e confrontem; o que pode ser defendido como escolha (não mostrar o conflito em si mas a vida dos atingidos por ele) acaba sendo de uma execução um tanto circular, que chega a um ponto, volta ao mesmo, novamente dá partida e volta ao mesmo ponto, com o filme tendo vários inícios, vários finais e com os depoimentos perdendo a força por no final das contas não serem uma ideia fechada, não rumarem para lugar nenhum e não saberem se acompanham o fluxo de imagens ou se apelam para o formato mais acessível de se compreender o assunto. 

Perdido entre uma imersão tímida e uma explanação básica, Exodus é no final das contas um documentário que não confronta, não ofende e nem provoca. Apenas nos deixa a par da situação e então acaba. Um filme passável para um assunto tão quente e urgente. 

Comentários (0)

Faça login para comentar.