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Críticas

Cineplayers

Descarrego da paciência alheia.

0,0
No momento que os filmes de gênero alcançam um patamar raras vezes visto tanto da aceitação do público quanto da consagração crítica, o Brasil permanece sendo um excelente mercado para dar visibilidade a filmes de terror de qualquer espécie. Se os filmes de qualidade estreiam com facilidade, isso também vale aos produtos de segunda escalão. E para os de quinto escalão também. O diretor Xavier Gens nunca teve relevância no mercado cinematográfico, e tem como referência um dos episódios do filme-coletivo ABC da Morte e a primeira adaptação da HQ Hitman, e nenhuma das duas o elevou. Esse "novo" (com aspas mesmo, a produção foi lançada há um ano) longa talvez de fato o tire do lugar, levando-o ainda mais pra baixo. Se trata de um dos filmes mais injustificados e esdrúxulos da temporada, sem qualquer motivo que seja para ter sido produzido e por final visto. Mas é óbvio que existe público pra ele, ainda que todos já tenham assistido esse filme com certa frequência.

Há uma parca tentativa de construir uma identidade para o longa, mas nada é levado com muita seriedade e as intenções parecem vazias também. Planos aéreos com certa frequência até criam um ar algo elevado, mas não enganam o público por muito tempo quando não há mais nada a apresentar. Em contra partida a esses momentos, são mais servidas cenas muito constrangedoras e que fazem uma salada de referência a tudo que já foi produzido no sub-gênero 'filme de possessão', e além dele. Uma jovem menina que arremessa objetos com o olhar? Tem. A possuída que se masturba em estado de rebeldia demoníaca? Tem. A cena onde a protagonista tem seu cabelo comprido cobrindo seu rosto? Tem. A jornalista cética que se impressiona gradativamente? Tem. E muitos outros chavões, difícil encontrar algum clichê que tenha ficado de fora daqui, nessa recente adaptação inspirada em fatos reais. Será que alguém ainda se importa com mais uma saga repetitiva e sem inspiração? Nosso circuito crê que sim, devem estar certos.

Assim como a burocracia domina a direção, entregando cenas banais que nem conseguem criar o mais básico senso de tensão típico de qualquer filme de terror, o roteiro não prima pela novidade. Uma jovem jornalista vai até a Romênia investigar a morte de uma noviça durante um ritual de exorcismo, que condenou o padre responsável. Cética e pouco sociável, ela tem uns fantasmas particulares do passado para ela mesma exorcizar, e terá de lidar com a desconfiada população local e também com vários envolvidos no caso. Com esse molho reconhecível em qualquer produção, o filme não consegue criar uma relação humana que seja nem química entre os personagens, mesmo os que são amigos ou parentes. Mostrando a relação entre duas jovens noviças no passado, de alguma forma o filme consegue nos remeter ao Além das Montanhas de Cristian Mungiu, que sem nenhuma pretensão em relação às fórmulas do gênero, consegue conectar e amplificar sua mensagem de maneira que o longa de Gens jamais sequer ameaça alcançar. 

A parte dramática é também prejudicada pelo elenco que varia entre o apatia e a simples falta de talento, chegando a aborrecer. Particularmente, a jovem protagonista Sophia Cookson, que vive a jornalista Nicole, não aparenta fazer um esforço a mais para convencer como a personagem, e o esforço do público se esvai muito rápido. Provavelmente é daí que reside toda falta de conexão com a produção, que resulta numa experiência cansativa e muito enfadonha, e não necessariamente por falta de ritmo. Sem o ímpeto de transportar a plateia para a atmosfera de medo que deveria fazer parte do longa, nos resta torcer para acabar e tentar entender porque precisamos ver esse filme em tempos de James Wan, David Robert Mitchell, Fede Alvarez, John Krasinski, Jordan Peele e tantos outros. 

Um clímax que amarra sem emoção o ponto de partida da história com esse desfecho preguiçoso é a cereja desse bolo indigesto que mesmo tecnicamente nunca diz a que veio. Inclusive incorrendo em erros de continuidade e apresentando o povo romeno de forma preconceituosa e desrespeitosa a todo momento, ainda existe espaço para a xenofobia quase explícita nesse despropósito. Repleto de cenas que nada significam mas que foram concebidas para provocar em vão um certo arrepio nos incautos, Exorcismos e Demônios chega esse mês com fôlego para se tornar inesquecível - por todos os piores motivos. E já está permitido não entender porque o diretor Xavier Gens ainda consegue financiamento para seus produtos mesmo tendo ao menos dois filmes inexplicáveis no currículo. 

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