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Exterminador do Futuro: Gênesis, O

(Terminator Genisys, 2015)
5,5
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Críticas

Cineplayers

Um filme que só se sustenta quando está apoiado nos ombros das duas obras originais.

5,5

James Cameron gostou de O Exterminador do Futuro: Gênesis, novo filme da série criada por ele mesmo há mais de trinta anos. Em entrevista recente, o consagrado cineasta disse que o filme é “bem respeitoso aos dois primeiros” e que sentiu a franquia ser “revigorada, como se fosse um renascimento”. Bem, da maneira mais venerável possível – afinal, quem sou eu para questionar a opinião do pai desse universo? –, discordo de Cameron. Sim, de certa forma, o novo exemplar tenta trazer algumas ideias novas ao longo de suas duas horas, mas respeitoso aos dois primeiros? Nem um pouco. O que o diretor Alan Taylor e os roteiristas Laeta Kalogridis e Patrick Lussier fazem, na verdade, é jogar por terra o enredo bem amarrado dos filmes originais em uma salada temporal confusa, destruindo a cronologia da série assim como os últimos filmes de X-Men fizeram com o universo dos mutantes.

Posso até concordar com Cameron sobre respeito se estivermos nos referindo apenas ao primeiro ato. O Exterminador do Futuro: Gênesis inicia quase como uma espécie de reboot do filme original, acrescentando o outro lado da história (o que acontecia no futuro) àquilo que já conhecíamos. É interessante, embora desnecessário. No entanto, assim que as primeiras interseções entre as linhas do tempo passam a ocorrer, a trama se perde em reviravoltas sem lógica que naufragam um oceano de explicações rasas e perguntas sem respostas. Não demora muito para o espectador se dar conta de que O Exterminador do Futuro: Gênesis não faz muito sentido quando analisado sob o viés da coerência narrativa, especialmente se posto lado a lado com as duas primeiras obras, o que faz com que o filme se resuma, basicamente, a cenas de ação genéricas repletas de CGI e tentativas de piadas explorando a persona e o carisma de Arnold Schwarzenegger.

Não que isso não divirta, pelo menos um pouco. Um dos acertos do roteiro é recuperar as características do T-800 visto em O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final, um robô que tentava de forma atrapalhada se conectar com os sentimentos humanos. Porém, se naquele filme havia a construção de um relacionamento significativo entre o Exterminador, John e Sarah, aqui esse aspecto do roteiro é reduzido a momentos cômicos, como a falta de tato do personagem de Schwarzenegger ao falar sobre acasalamento e sua tentativa de ser simpático através de sorrisos – instantes capazes de gerar algumas risadas, mas que não passam de alívios cômicos pontuais. Para ser justo, O Exterminador do Futuro: Gênesis flerta com a construção decente de uma relação entre T-800 e Sarah, mas jamais a explora de modo satisfatório, preferindo deixar em segundo plano questões que poderiam aproximar o espectador dos personagens.

E isso é um dos grandes problemas do novo filme, pois, mesmo conhecendo aquelas pessoas, a superficialidade do roteiro e da abordagem de Alan Taylor jamais dá espaço à construção de uma identificação genuína. Na verdade, sempre que O Exterminador do Futuro: Gênesis reduz a ação para tentar desenvolver algo que se pareça com uma história, o resultado é desastroso. A aproximação de Reese e Sarah, por exemplo, é recheada de clichês e frases piegas, sem contar o fato de que a relação ódio/amor entre ambos parece ter sido escrita por uma criança de cinco anos, tamanha a precariedade dos diálogos e da velocidade abrupta das mudanças de humor. Aliás, Jai Courtney e Emilia Clarke possuem zero química em cena, prejudicando ainda mais esse aspecto do filme. E, se Clarke, mesmo sem chegar aos pés da força transmitida por Linda Hamilton nos dois primeiros filmes, ainda demonstra boa presença (fato ao qual os fãs de Game of Thrones já estão acostumados), Courtney é um ator totalmente inexpressivo, que não consegue nem ao menos dar conta de suas piadas – seu “Eu me voluntariei para isso?” é capaz de gerar apenas risadas constrangedoras.

Com essa distância entre o espectador e os personagens, as cenas de ação orquestradas por Alan Taylor jamais empolgam. O cineasta e seus roteiristas ainda acertam ao fazer do vilão uma figura muito mais poderosa do que os mocinhos – recurso básico do gênero que os filmes da Marvel, por exemplo, insistem em ignorar –, mas essa possível tensão é logo reduzida a nada quando a plateia percebe que não se importa com o destino daquelas pessoas. Taylor demonstra inteligência ao não fazer de suas sequências de ação um sinônimo de caos, com milhares de cortes por minuto, porém, ao final, elas não passam de cenas genéricas, sem qualquer criatividade tanto nas ideias ali presentes quanto na execução – mais uma vez comparando, bate uma saudade de sequências como a de Schwarzenneger pilotando uma moto com uma mão e recarregando sua escopeta com a outra enquanto foge de um obstinado T-1000 em um caminhão.

O resultado é que O Exterminador do Futuro: Gênesis é um filme sempre frio para o espectador e que jamais encontra algo que o sustente isoladamente. Pelo contrário, a produção só diverte ou se torna interessante quando bebe na fonte do que foi criado por Cameron, incluindo aí as inúmeras referências/homenagens às produções originais, muitas delas até mesmo gratuitas. Por si só, o trabalho de Alan Taylor resvala em um amontoado de lugares-comuns (os incontáveis momentos deus ex machina), ideias duvidosas (o Arnie digital), desenvolvimento preguiçoso (qualquer explicação sobre as incongruências temporais), casting inexplicável (J.K. Simmons só pode ter assinado o contrato para o filme antes de Whiplash: Em Busca da Perfeição) e uma inevitável sensação de que tudo ali já foi visto antes (o andróide de metal líquido).

James Cameron pode até ter gostado do filme. Eu, por outro lado, preferiria que dessem de uma vez ao já grisalho T-800 a aposentadoria que ele tanto merece.

Comentários (8)

Liliane Coelho | terça-feira, 14 de Julho de 2015 - 09:19

Continuo achando que o pior Terminator é o 4, que vai de nada para lugar nenhum e ainda tem o péssimo Sam Worthington. Em "Genysis" pelo menos eu me diverti com as referências e o belo CGI.
Emilia Clarke é ótima como Daenerys, mas muito mignonzinha para ser Sarah Connor. Ela é da minha altura, pouco mais de 1,5 m... Não combina com uma metralhadora quase do tamanho dela...

Alexandre Koball | terça-feira, 14 de Julho de 2015 - 10:22

Duvido que o Cameron se envolva, até pq a trilogia já foi "fechada" 2x, pra que avacalhar ainda mais? Gosto do 3 original, o 4 é dispensável; este ainda tenho que ver.

Acho que a série perdeu o timing, este novo não vem sendo um grande sucesso e não creio que eles vão querer arriscar de novo uma grana tão alta.

Renato Coelho | segunda-feira, 05 de Outubro de 2015 - 21:44

Filme dispensável, totalmente. Só vale pelo Arnold. Crítica nota 10 do Silvio.

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