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Críticas

Cineplayers

Mais um filme de Ingrid Guimarães.

4,0
Ingrid Guimarães surgiu na última década como um verdadeiro chamariz da comédia nacional. Surgida em parceria com a amiga Heloísa Perissé na peça Cócegas e no programa televisivo Sob Nova Direção, além de participações na Escolinha do Professor Raimundo, a atriz foi destaque em grande parte dos sucessos de bilheteria recentes - De Pernas Pro Ar e suas duas sequências, Loucas Para Casar, Minha Mãe é Uma Peça… Diga um arrasa-quarteirão do nosso cinema, a atriz provavelmente estará nele. 

Fala Sério, Mãe! é a nova aposta da atriz. Adaptação do best-seller literário infanto-juvenil de Thalita Rebouças, o filme acompanha o crescimento de Maria de Lourdes (Larissa Manoela, de Meus 15 Anos) sob os cuidados de sua preocupada mãe, Ângela Cristina. Enquanto “Malu” cresce, acompanhamos todos os batismos de fogo entre mãe e filha - interesses românticos, aspirações profissionais, viagens, desilusões. Tudo percebido através de um enfoque quase sempre bem-humorado.

Esse é um filme com um público-alvo calculado, chegando até a adotar recursos pouco usuais - como repartir a narração em off entre mãe e filha e estabelecer uma comunicação entre as duas, em colaboração entre Thalita Rebouças e Ingrid Guimarães -, mas se ancora quase sempre no renome de suas duas protagonistas que visam chamar às salas de cinema tanto o público mais adulto quanto adolescente, pouco oferecendo além disso.

Certos temas são indubitavelmente relevantes para o público que atenta - os modos tradicionais de família falindo, os novos modelos ainda pouco certos, a necessidade de um diálogo franco entre parentes em questões relativas à sexualidade e decisões acadêmicas e profissionais - mas basicamente tudo some em um festival de esquetes onde Ângela Cristina despeja mil e uma neuroses de forma constrangedora e sempre deixando Maria de Lourdes embaraçada, e que segue em frente de qualquer maneira com um pano de fundo um tanto clichê em matéria de tratamento: se as questões são algo novas, a narrativa não traz muito poder em si que mova o filme para alguns passos além do lugar comum.

E, de novo, é um filme que não traz nenhum desafio para Ingrid Guimarães, confortável em seu arquétipo de mulher moderna porém neurótica, com fala rápida e ininterrupta lotada de preocupações insignificantes… Uma personagem que despersonaliza seus filmes e que sem dúvida já fez rir as mais de 18 milhões de pessoas que pagaram ingressos para ver os filmes onde atua. 

Mas acaba ficando uma pergunta: nesta linha de montagem, quais são as sequências marcantes lembradas pelo público? Como poucos filmes da atriz fogem da linha adotada, acaba ficando uma carreira preenchida de um grande filme-de-Ingrid, sempre inusitado, excêntrico… E parecido.

Justamente por causa disso, pouco do filme consegue ir além do timing da atriz para entregar as piadas, em paridade com Larissa Manoela - a atriz adolescente, ainda se definindo, decerto tenta seguir a escola de sucesso mas também traz a leveza do drama adolescente, onde o filme aborda com um pouco mais de sutileza e cuidado, ao contrário do escracho da dinâmica mãe-filha. Essa diferença tonal também causa certo desequilíbrio de ritmo - pois momentos de autodescoberta adolescentes que não apelam para o estereótipo ou caricatura logo serão seguidos de monólogos incessantes que desenham uma caricatura do que espera de uma mãe preocupada de uma adolescente independente. 

É um filme que não quer ousar e aposta no jogo ganho. As composições de cena são esquemáticas, o uso da câmera são apenas descritivos e despidos de qualquer funcionalidade simbólica, bem como qualquer questão de design de produção relativas a cenários e figurinos. Filma-se planos de corpo inteiro, closes mais fechados e entrega para o montador juntar as peças na data mais próxima possível, pois o próximo filme invariavelmente virá aí. Nesse ínterim, montagens que sumarizam vários eventos em uma mesma sequência e momentos de flashback soam até deslocados, querendo que o filme alcance voos dramáticos pouco abordados até então. 

Sem termômetro, a necessidade de abraçar o mundo moderno e querendo empacotar em algo garantido não parece reproduzir muito do impacto que a sequência de livros “Fala Sério” de Thalita Rebouças tiveram comercialmente. Um filme confortável que jamais pensaria em oferecer nada além dos nomes de peso onde se ancoram  - e talvez justamente aí que more o problema.

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