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Críticas

Cineplayers

Conteúdo e competência num filme que merece ser visto.

8,5

Esta história de um professor universitário libertino que usa de tesão intelectual para seduzir alunas jovens e atraentes tem o grande mérito de subverter a velha história do professor universitário libertino que usa de tesão intelectual para seduzir alunas jovens e atraentes.

É ingrata e quiçá desnecessária a tarefa de exercer a quase natural comparação entre o filme e o livro (O Animal Agonizante). Talvez baste dizer que, nesse sentido, a produção cinematográfica traz um tom ainda mais melancólico. É claro que nem sempre é possível aprofundar todas as questões presentes no livro; mesmo assim, pode-se dizer que o filme conta o que é preciso, sem que o leitor sinta falta de alguma passagem significativa. Assim, sem entrar na discussão impossível sobre o que é melhor, resta dizer que o filme faz bonito e não desaponta quem leu o livro de Philip Roth – e apresenta um olhar um pouco mais triste.

Talvez essa seja a grande – embora pequena – transformação conceitual: a ironia do livro se desfaz em melancolia no filme. É provável que a razão seja o toque feminino da diretora Isabel Coixet; pois é interessante a escolha de uma mulher no comando de uma história, a princípio, tão masculina. Esse ar soturno que os personagens respiram é eficiente contraponto à virilidade do livro de Roth. No fim, é possível afirmar que tudo isso apenas potencializa o filme e comprova o quanto tem caráter universal, ou seja, pode ser degustado por outros – e outras – que não somente o homem típico que se identifica com o conquistador inconquistável. Além disso, essa mudança de tom na narrativa pode ser comprovada pela alteração no título original: Elegia (por favor, esqueça o equivocado Fatal nascido aqui). Mais que uma história do animal que agoniza, é um poema lírico sobre o fim.

Para conseguir traduzir o nível de sentimento que existe na produção, a diretora conta com três trunfos. O primeiro deles é o ótimo texto, adaptado com competência e natural na boca dos atores; o segundo o circunda e é tão decisivo quanto: o excelente desempenho de todo o elenco principal – Ben Kingsley, Penélope Cruz, Patricia Clarkson e Dennis Hopper –, todos estão dignos de premiação, em especial o protagonista, que consegue um impressionante equilíbrio entre vigor e suscetibilidade que torna o personagem absurdamente humano. Para completar, a trilha sonora é mais um acerto. Emoção em forma de piano – tons agudos transmitem a tristeza que perpassa a película.

A trama central é o vínculo do professor com sua aluna Consuela, e isso é retratado através da forma com que ele se relaciona com o mundo. É esse elemento que faz com que seja subvertido o clichê do professor universitário que gosta papar suas aluninhas: é humano o personagem, e esse nível imenso de humanidade é construído com as ótimas cenas em que ele interage com seu amigo de squash ou com seu filho ou com sua amante. É dessa forma pintado o homem que se apaixona por Consuela, e as suas motivações internas são compartilhadas com o público na medida certa – sem dizer demais, sem deixar de fazê-lo.

Sempre apresentando convicções, opiniões e pensamentos críticos através dos personagens, o filme tem o mérito de trazer um elaborado conteúdo intelectual sem se descuidar da importância de contar (bem) uma boa história e sem abrir mão da forma, pois é visualmente bem concebido e dá aos olhos imagens fiéis ao texto. Chame de Elegia, de Fatal ou de Animal agonizante; é filme que merece ser visto e, assim, sentido.

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