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Críticas

Cineplayers

Apoiado na própria discussão.

6,0
Aly Muritiba tem das histórias mais curiosas entre os cineastas na atualidade. Aly era um agente penitenciário que fez faculdade de cinema pra contrabalançar com a realidade em que vivia. Da experiência de trabalho, veio uma premiada trilogia sobre a vida e o trabalho no cárcere. Há dois anos atrás, seu primeiro longa de ficção ganhou 7 prêmios no festival de Brasília, incluindo o de melhor direção; Para Minha Amada Morta foi mais que um batismo, sua estreia já o consagrou. Agora ele acaba de sair com o prêmio máximo de Gramado, em uma competição que foi tida de alto nível. Somando isso a seu trabalho por trás da produtora Grafo, da recém-criada Olhar Distribuição e do cada vez mais significativo festival Olhar de Cinema em Curitiba, e Aly se torna uma das figuras mais interessantes da cena atual.

Ferrugem nasce da necessidade de seu diretor em se comunicar com os filhos jovens, a mesma faixa etária dos seus protagonistas. Além disso, os ataques virtuais (chamados 'cyberbullying') são uma realidade cada vez mais próxima, cada vez mais preocupante e muitas vezes trágica. Estreando no mesmo dia em que o Yonlu de Hique Montanari, poucos meses após o Aos Teus Olhos de Carolina Jabor, Aly e seus colegas parecem ter acertado o tema pertinente do momento, ainda de difícil abordagem. Ele não tenta julgar ninguém ou criar uma narrativa que denote dúvida de julgamento ou ressalte o deslocamento da juventude atual. O longa parte de uma abordagem direta para comunicar-se com o abismo geracional que sempre existiu e a internet exacerbou.

O filme acompanha Tati e Renet, juntos e separados. Em vias de um princípio de encantamento mútuo, eles precisam lidar com o vazamento de um vídeo íntimo dela com um ex-namorado, que em poucos dias transforma tragicamente suas realidades. Tati é perseguida na escola, humilhada, e entra numa espiral destrutiva. Renet se refugia longe, desfaz as formas de contato, se mantém afastado da onda que insiste em apontar na sua direção. É talvez nesse momento que as reais personas vem à tona, mostrando lados diferenciados sobre adolescentes e adultos, nenhum conseguindo lidar com o lado sombrio da tecnologia.

O filme assume uma narrativa bifurcada, observando os dois lados da história e reconectando os pontos abertos de uma a outra. Levando em consideração que as duas partes parecem perdidas em suas intenções, atirando para inúmeros lados diferentes e torcendo para que algum alvo seja acertado ao menos com parte do público. Com clara comunicação popular e com seu campo de discussão em voga em todos os lados da sociedade, o filme poderia ter utilizado da facilidade em como contextualiza sua trama e passeia de forma natural por seus temas, mas as escolhas sobre o que verbalizar e a quem dar voz parecem não estar condizentes com as motivações do projeto. 

Escrito a quatro mãos por ele e Jéssica Candal, o filme tenta olhar para todos os lados da questão, mas parece ter uma clara disposição para vitimizar um lado e emudecer o outro. Utilizando seus personagens quase como espectros vagantes, Aly deliberadamente mostra dois núcleos familiares opostos, um ausente e outro presente. Ao ausente, é negado até sua possibilidade em ter um rosto; ao presente, seu excesso chega ao cúmulo de permitir um desligamento da trama para discutir assuntos particulares que nem ecoam no longa.

São compreensíveis as opções propostas, seus pontos de partida e de chegada, mas o filme não deixa o debate para o externo, ele resolve todas as lacunas que ele mesmo abriu, e ao espectador cabe apenas acompanhar letargicamente uma trama cuja previsibilidade vai além de plot twist. Fica a impressão de que ao filme apenas apontar os lados e mostrar as cartas era de valia, a discussão é toda esvaziada de debate, tendo em vista que o filme encerra seus desdobramentos. Sem nem ao menos ousar esteticamente, Ferrugem acaba valendo pelo coletivo de seus atores, que parecem ter de fato mergulhado na tarefa juntos. Com uma unidade invejável, o filme tem esse mérito de ambientar sua humanidade de maneira exemplar. São os rostos e corpos em cena que conseguem imprimir a urgência que o roteiro nem pareceu tentar.

Comentários (1)

Davi de Almeida Rezende | quinta-feira, 12 de Março de 2020 - 03:13

Fico me perguntando se vcs combinam de fazer esses elogios desvairados entre a seita da esquerda, pq só pode ser isso. Não tem como uma pessoa sã falar que um filme até amador como esse, que parece um trabalho escolar, que parece que foi filmado tudo de uma vez em tomada única de tão ruim, pode ser bom. Contrária a lógica. Até uma criança assiste isso e percebe que uma merda. As atuações parecem de não atores, o moleque deve ser parente do diretor. Terrível!!!

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